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Os oceanos enfrentam uma tripla ameaça: calor extremo, perda de oxigênio e acidificação .
Oceanos em perigo: plásticos, mudanças climáticas, pesca predatória e poluição os ameaçam. Uma “tripla ameaça” de calor extremo, perda de oxigênio e acidificação já está afetando 20% da superfície oceânica.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O Dia Mundial dos Oceanos é celebrado anualmente em 8 de junho. Este dia foi oficialmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2008, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a importância dos oceanos e a necessidade de proteger e preservar este recurso vital para a vida no planeta.
Os oceanos desempenham um papel crucial na regulação do clima, na produção de oxigênio, na absorção de dióxido de carbono e na manutenção da biodiversidade. Eles são fonte de alimentos, medicamentos, recursos minerais e energia. Além disso, os oceanos sustentam economias através da pesca, turismo e transporte marítimo. Os oceanos enfrentam várias ameaças de degradação, muitas das quais são causadas por atividades humanas. Algumas das principais ameaças incluem:
1. Poluição Plástica
A poluição plástica é uma das maiores ameaças aos oceanos. Milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos todos os anos, afetando a vida marinha e os ecossistemas. Animais marinhos, como tartarugas, aves e peixes, podem confundir plásticos com alimentos, resultando em ingestão que muitas vezes é fatal.
2. Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas têm um impacto significativo nos oceanos, contribuindo para o aumento da temperatura da água, a acidificação dos oceanos e o aumento do nível do mar. Esses fatores afetam a vida marinha, desde os corais até os grandes predadores, e podem levar à perda de habitats e à redução da biodiversidade.
3. Sobrepesca
A pesca excessiva esgota as populações de peixes mais rápido do que elas podem se reproduzir. Isso não apenas ameaça a sobrevivência das espécies de peixes, mas também afeta toda a cadeia alimentar marinha, alterando os ecossistemas oceânicos.
4. Destruição de Habitats
Atividades como a dragagem, a mineração submarina e a construção de infraestruturas costeiras podem destruir habitats marinhos essenciais, como recifes de corais, manguezais e prados marinhos. Esses habitats são fundamentais para a biodiversidade e para a saúde geral dos oceanos.
5. Poluição Química
Produtos químicos, como pesticidas, herbicidas e metais pesados, são frequentemente descartados nos oceanos através de rios e escoamento terrestre. Essas substâncias podem ser tóxicas para a vida marinha e podem acumular-se nos tecidos dos animais, afetando a cadeia alimentar e a saúde humana.
6. Ruído Submarino
A poluição sonora submarina, resultante de atividades como a navegação, a exploração de petróleo e gás, e a construção submarina, pode interferir na comunicação, na navegação e na reprodução de muitas espécies marinhas, especialmente mamíferos marinhos como baleias e golfinhos.
O artigo “Column-Compound Extremes in the Global Ocean” (Joel Wong et al, 2024) mostra que os oceanos do mundo enfrentam uma “tripla ameaça” de aquecimento extremo, perda de oxigénio e acidificação. Cerca de um quinto da superfície oceânica do mundo é particularmente vulnerável às três ameaças que ocorrem ao mesmo tempo, estimuladas pela atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis e a desflorestação. Nos 300 metros superiores do oceano afetado, estes eventos compostos duram agora três vezes mais e são seis vezes mais intensos do que no início da década de 1960, afirma o estudo.
Os cientistas climáticos ficaram alarmados com o aumento implacável do calor no oceano, que atingiu níveis extraordinários nos últimos meses. O calor tem estado literalmente fora de escala, é surpreendente e está branqueando e matando as barreiras de corais, o que ameaça toda a vida marinha.
A temperatura diária da superfície do mar tem batido recordes absolutos há 13 meses consecutivos, de acordo com dados do site Climate Reanalyzer da Universidade do Maine. Na maior parte dos dias de 2024 a temperatura tem ficado acima de 21ºC, fato inédito na série histórica.
A combinação de queda nos níveis de oxigênio, aumento da acidificação e aumento do calor dos oceanos também foi observada no final do período Permiano, há cerca de 252 milhões de anos, quando a Terra experimentou o maior evento de extinção conhecido em sua história, conhecido como a Grande Morte.
O cenário atual é de uma outra grande extinção em massa das espécies provocada pela sobrecarga da Terra, imposta pelo crescimento das atividades antrópicas dos últimos 200 anos. A extinção da vida marinha é uma ameaça existencial para a humanidade e para a continuidade da civilização humana.
Referências:
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
Joel Wong, Matthias Münnich, Nicolas Gruber. Column-Compound Extremes in the Global Ocean, AGU Advances, 23 May 2024 https://doi.org/10.1029/2023AV001059
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
Bacias-Esponja, Cidades-Esponja, a lógica cristalina .
Artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos
Se ao menos a tragédia gaúcha escancarar a todos, especialmente aos administradores públicos e ao meio técnico-científico brasileiro, as causas essenciais das inundações verificadas, deixarão um enorme saldo no lado positivo dessa catástrofe.
Saldo positivo não capaz de compensar as enormes perdas e sofrimentos da população atingida, mas suficiente, caso tenhamos bom senso, para dar suporte a uma ação planejada e concentrada de combate aos referidos fatores causais essenciais.
Fato incontestável, as inundações foram provocadas por um enorme aumento do volume de águas de chuva aportado, em tempos extremamente reduzidos, ao sistema de drenagem das bacias hidrográficas envolvidas.
Esse sistema de drenagem, já com sua capacidade de vazão comprometida por intenso assoreamento, não sendo capaz de dar vazão a tal volume de água, extravasa o grande excesso hidrológico sobre suas áreas baixas lindeiras, e aí estão as grandes inundações.
Enfim, o resultado da equação básica das enchentes: “volumes crescentemente maiores de águas pluviais, em tempos sucessivamente menores, sendo escoados para drenagens naturais e construídas progressivamente incapazes de lhes dar vazão”.
Tanto no meio rural como no meio urbano as intervenções humanas têm implicado um aumento absurdo do Coeficiente de Escoamento Superficial, número que mede o volume de água que, não sendo retido por infiltração no terreno e molhamentos generalizados, escorre superficialmente em enxurradas em direção aos cursos d’água (o também chamado “run-off”). Como consequências, as inundações, a não alimentação das reservas estratégicas dos aquíferos subterrâneos e a potencialização do diabólico binômio erosão/assoreamento.
Como tem alertado o Eng. Florestal Prof. Osvaldo Ferreira Valente, da Universidade Federal de Viçosa, em artigos técnicos fundamentais, o aumento do escoamento superficial no meio rural é decorrência direta de práticas agrícolas tecnicamente equivocadas e descuidadas.
Sim, as matas ciliares têm funções importantíssimas, o que justifica todo o esforço em sua manutenção e recuperação, mas o que acontece a um curso d’água é reflexo do que sucede nas amplas vertentes de uma sub-bacia hidrográfica, e será nas vertentes agricultadas que deverão se concentrar as ações voltadas à recuperação de sua capacidade de retenção de águas de chuva.
No meio urbano, o mesmo cenário, as cidades, por força de sua impermeabilização, perdem a capacidade de reter as águas de chuva por infiltração e molhamentos, lançando-as em grande volume e instantaneamente sobre um sistema de drenagem – valetas, galerias, canais, bueiros, córregos, rios – não dimensionado para tal desempenho. E aí, as enchentes, ao menos em seu tipo mais comum.
Para se ter uma ideia da dimensão desse problema da impermeabilização considere-se que o Coeficiente de Escoamento Superficial na cidade de São Paulo está em torno de 85%; ou seja, 85% do volume de uma chuva escoa superficialmente comprometendo rapidamente o sistema de drenagem.
Em uma floresta, ou um bosque florestado urbano, acontece exatamente o contrário durante um temporal, o Coeficiente de Escoamento Superficial fica em torno de 20%, ou seja, cerca de 80% do volume das chuvas é retido na floresta por molhamento, encharcamento e infiltração.
Excessiva canalização de córregos e o enorme assoreamento de todo o sistema de drenagem por sedimentos oriundos de processos erosivos e por toda ordem de entulhos de construção civil e lixo urbano compõem fatores adicionais que contribuem para lançar as cidades a níveis críticos de dramaticidade no que ser refere a danos humanos e patrimoniais associados aos fenômenos de enchentes.
A lógica é cristalina, não haverá solução possível para o fenômeno das enchentes sem a recuperação da capacidade dos terrenos do meio rural e urbano em reter águas de chuva.
No meio rural as soluções estão na adoção de práticas agrícolas que incorporem a técnica do terraceamento, a implantação de reservatórios de infiltração, o reflorestamento de áreas não agricultadas, a conservação das matas ciliares…
Para o meio urbano as soluções apontam para enorme elenco de medidas, virtuosamente utilizadas em vários países: reservatórios domésticos e empresariais para acumulação e infiltração de águas de chuva, calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes, valetas, trincheiras e poços drenantes, multiplicação dos bosques florestados por todo o espaço urbano, etc.
Enfim, as evidências todas nos indicam o caminho a seguir para a redução de riscos de inundações: sob a lógica cristalina das Bacias-esponja e das Cidades-esponja os esforços deverão se concentrar em recuperar as funções hidrogeológicas básicas da Natureza.
De quebra, as reservas de água subterrânea nos agradecerão e nos recompensarão.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia
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Recarga do Aquífero Guarani em Ribeirão Preto (SP) .
Localização do Aquífero Guarani na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo. Fonte: DAEE et al. (2005).
Um estudo mais detalhado do mecanismo de funcionamento da recarga do Aquífero Guarani pode colaborar com as medidas para o disciplinamento, o controle e a gestão da retirada das águas do reservatório
Artigo de Heraldo Campos
Regionalmente, o Aquífero Guarani está intercalado entre as camadas permianas do Grupo Passa Dois e os derrames basálticos cretácicos da Formação Serra Geral. É constituído de arenitos eólicos e fluviais bem selecionados, com espessura média de 300 metros, atingindo profundidades de até 1.500 m.
Trata-se de um aquífero livre apenas nas bordas da Bacia do Paraná e confinado em 90% de sua extensão. Graças as suas excelentes características hidrogeológicas constitui-se na principal reserva de água subterrânea da maior província hidrogeológica brasileira, a Paraná.
O Brasil, por ter 70% da área do Aquífero Guarani em seu território, vem acumulando ao longo desses últimos 40 anos informação relevante, seja pelos levantamentos regionais realizados como, por exemplo, no Estado de São Paulo [1], ou mesmo pelas pesquisas acadêmicas desenvolvidas pelas universidades, entre outras instituições.
O município de Ribeirão Preto é 100% abastecido pelas águas desse reservatório e nesta região vem ocorrendo o uso intensivo de água subterrânea e uma numerosa quantidade de poços em atividade já evidenciam problemas de interferência entre eles. Ao mesmo tempo, percebe-se o aumento do risco de contaminação das águas subterrâneas por incremento de fontes instaladas sobre as partes do aquífero aflorantes, que são de alta vulnerabilidade.
Um estudo mais detalhado do mecanismo de funcionamento da recarga do Aquífero Guarani pode colaborar com as medidas para o disciplinamento, o controle e a gestão da retirada das águas do reservatório em Ribeirão Preto, que vêm sendo discutidas pelos órgãos envolvidos e sociedade civil no âmbito do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo. Uma das ações que levam a gestão local é, por exemplo, não permitir novas perfurações de poços, a não ser para substituição de poços do abastecimento público, na zona central da cidade.
Desse modo, o estudo das áreas de recarga do Aquífero Guarani, o entendimento do fluxo das águas subterrâneas no meio aquífero e a possível identificação de suas áreas de descarga, mediante sua representação cartográfica hidrogeológica e hidrogeoquímica no âmbito do território ribeirão-pretano, pode servir de base para a modelagem conceitual e matemática do reservatório, como uma das ferramentas a serem utilizadas para as diretrizes norteadoras dos órgãos gestores das águas, tanto na esfera municipal como estadual, no que diz respeito a explotação e superexplotação do reservatório.
A integração, interpretação, cartografia e modelagem destes dados na área de ocorrência do Aquífero Guarani em território ribeirão-pretano são uma necessidade para o prosseguimento das pesquisas e estudos em níveis mais avançados.
Considerando o estado da arte das pesquisas, este trabalho pode, assim, colaborar com um cenário mais atualizado da área e, portanto, de utilidade no que se refere aos fins científicos, acadêmicos e técnicos.
Por sua vez, os órgãos públicos, diretamente ligados à questão dos recursos hídricos, sem dúvida serão outros beneficiados por terem à disposição uma base técnica indispensável ao planejamento, ao controle e à gestão dos recursos hídricos subterrâneos.
“Há água suficiente para satisfazer as crescentes necessidades do mundo, mas não sem mudar a forma de geri-la.” (Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos da ONU – Organização das Nações Unidas).
Fonte
[1] DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), IG (Instituto Geológico), IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), CPRM (Serviço Geológico do Brasil). 2005. Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. São Paulo: DAEE (3v, mapa e CD-ROM).
*Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).
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