quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

HOLOCAUSTO


Dilma: o Holocausto também se repete quando é negado

30/01/2013 - 22h48
Heloisa Cristaldo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Na data que celebra o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, a presidenta Dilma Rousseff disse que "o Holocausto também se repete quando é negado. Por isso deve-se sempre lembrar, mas ter muita responsabilidade quanto à verdade dos fatos”.
Dilma Rousseff , disse hoje (30) em seu discurso que o país também enfrentou momentos difíceis com os 300 anos escravidão e os períodos de ditadura. A presidenta reiterou diversas vezes em seu discurso que o caminho para evitar esse tipo de tragédia é o conhecimento da verdade e da história da humanidade.
“Respeitando a diversidade, a liberdade de pensamento e a grande riqueza de sermos diferentes e tão iguais, tão humanos, isso não significa que podemos deixar de avaliar, de conhecer, de estudar as mais dolorosas lições do ser humano. (...) [Devemos] lembrar, sistematicamente, para evitar que isso se repita”, disse.
Para a presidenta, a ideologia que resultou no holocausto, “não chegou abruptamente”. “Sem dúvida nenhuma os guetos são uma antecipação disso. A expulsão dos judeus de Portugal [durante o período de inquisição] foi outra manifestação histórica, uma longa preparação, secular, que desembocou naquele momento terrível da história da humanidade, que foi a perseguição aos diferentes, aos judeus. E se repete sempre que foi aos judeus, porque tinha uma sistemática tentativa de descaracterizar seres humanos como humanos”, disse.
A presidenta ressaltou a criação no governo da Comissão da Verdade, que tem a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.
Dilma Rousseff encerrou o evento citando o poeta do alemão Martin Niemöller. "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".
A cerimônia homenageou Aracy Guimarães Rosa, mulher do escritor João Guimarães Rosa,  funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, e Luis Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro na França. Os dois, nas décadas de 1930 e 1940, salvaram centenas de judeus, concedendo a eles vistos para o Brasil contrariando ordens superiores.
Por questões de segurança, a cerimônia, que ocorreria no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Brasília, foi transferida de local. A decisão foi do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a partir de laudo do Corpo de Bombeiros.
A data lembrada hoje marca a libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. No local, mais de 1,5 milhão de pessoas foram exterminadas.
Edição: Fábio Massalli
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

LEGALIZAÇÃO DE IMIGRANTES NOS ESTADOS UNIDOS


REUTERS/Jason Reed / Obama cumprimenta populares após discurso em Las Vegas em que defendeu reformas no sistema de imigração dos EUAObama cumprimenta populares após discurso em Las Vegas em que defendeu reformas no sistema de imigração dos EUA
ESTADOS UNIDOS

Imigrante ajudará economia dos EUA, diz Obama

O democrata também elogiou a proposta feita na véspera por senadores dos dois partidos, a qual deixou o presidente na insólita situação de ver um tema prioritário de sua agenda absorvido pela oposição republicana
Com um discurso de apelo emocional no qual evocou a origem da maioria dos americanos, o presidente Barack Obama pediu nesta terça-feira (29) urgência na reforma do sistema imigratório dos EUA e enfatizou que as mudanças são necessárias à economia do país.
O democrata também elogiou a proposta feita na véspera por senadores dos dois partidos, a qual deixou o presidente na insólita situação de ver um tema prioritário de sua agenda absorvido pela oposição republicana, que tenta recuperar terreno entre o cobiçado eleitorado latino.
"A hora é agora", declarou Obama, cinco vezes seguidas, à plateia em uma escola de Las Vegas, no Estado fronteiriço de Nevada (27% de população de origem latina).
"Temos 11 milhões de homens e mulheres vivendo nas sombras. Eles quebraram as regras (...) Mas muitos estão aqui há muitos anos, e a maioria contribui para a sociedade, cuida de suas famílias e tenta ganhar a vida honestamente", afirmou.
"Quando trabalham horas extras, muitas vezes o fazem à sombra. Isso é ruim não só para eles, mas para a nossa economia [...].Os salários e as condições de trabalho dos americanos estão em risco também", prosseguiu Obama, dizendo que a reforma "ajudaria a classe média".
O longo discurso do presidente (foram 25 minutos), porém, trouxe poucos detalhes e mal se diferencia da proposta apresentada na véspera por oito senadores republicanos e democratas ou do plano de imigração que o próprio Obama lançara em 2011.
Ele organizou seu projeto em três pontos, unindo em um item a vigilância e a segurança enfatizadas pelos senadores: patrulhamento inteligente; caminho para a cidadania e modernização do sistema, visando atrair para o país "as pessoas mais brilhantes do mundo".
Diferentemente dos senadores, porém, o presidente não atendeu à reivindicação republicana de condicionar a possibilidade de legalização dos imigrantes ao reforço da segurança na fronteira.
Os dois lados concordam sobre a criação de um banco de dados e o estabelecimento de penas que inibam a contratação de ilegais, mas as medidas de segurança ainda precisam ser detalhadas, e esperá-las atrasaria o início da solicitação de cidadania.
Obama disse que será um caminho "duro, mas justo", exigindo do imigrante impostos em dia, ausência de antecedentes criminais, pagamento de multa, domínio do inglês e concessão de residência permanente.
Estrangeiros que tenham pós-graduação em ciências ou tecnologia nos EUA, empreendedores que encontrem patrocínio de empresas locais e imigrantes trazidos na infância teriam, porém, um processo acelerado - nos dois primeiros casos, para dar impulso à inovação no país.
Fonte : Gazeta Do Povo.


Em memória dos mortos de Santa Maria

"Em memória dolorida e esperançosa dos jovens mortos em Santa Maria na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, no seu blog, 28-01-2013.
Fonte: notícias.uol.com.br
Eis o texto.
Os antigos já diziam:”vivere navigare est” quer dizer, “viver é fazer uma viagem”, curta para alguns, longa para outros. Toda viagem comporta riscos, temores e esperanças. Mas o barco é sempre atraído por um porto que o espera lá no outro lado.

Parte o barco mar adentro. Os familiares e amigos da praia acenam e o acompanham. E ele vai lentamente se distanciando. No começo é bem visível. Mas na medida em que segue seu rumo parece aos olhos cada vez menor. No fim é apenas  um ponto. Um pouco mais e mais um pouco desaparece no horizonte. Todos dizem: Pronto! Partiu!

Não  foi tragado pelo mar. Ele está lá, embora não seja mais visível. E segue seu rumo.

O barco não foi feito para ficar ancorado e seguro na praia. Mas para navegar, enfrentar ondas, vencê-las e chegar ao destino.

Os que ficaram na praia não rezam: "Senhor, livra-os das ondas perigosas", mas "dê-lhe, Senhor, coragem para enfrentá-las e ser mais forte que elas".

O importante é saber que do outro lado há um porto seguro. Ele está sendo esperado. O barco está se aproximando. No começo é apenas um ponto levemente acima do mar. Na medida em que se aproxima é visto cada vez maior. E quando chega, é admirado em toda a sua dimensão.

Os do porto dizem: Pronto! Chegou! E vão ao encontro do passageiro, o abraçam e o beijam. E se alegram porque fez uma travessia feliz. Não perguntam pelos temores que teve nem pelos riscos que quase o afogaram. O importante é que chegou apesar de todas as aflições. Chegou ao porto feliz.

Assim é com todos os que morrem. O decisivo não é sob que condições partiram e saíram deste mar da vida, mas como chegaram e o fato de que finalmente chegaram. E quando chegam, caem, bem-aventurados, nos braços de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade para o abraço infinito da paz. Ele os esperava com saudades, pois são seus filhos e filhas queridos  navegando fora de casa.

Tudo passou. Já não precisam mais navegar, enfrentar ondas e vencê-las. Alegram-se por estarem em casa, no Reino da vida sem fim. E assim viverão para sempre pelos séculos dos séculos.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.

APOSTILAS DO ENEM 2013.


Data oficial do lançamento das Apostilas Enem 2013

Data oficial do lançamento das Apostilas Enem 2013Conforme informamos no final do ano passado, estávamos iniciando a elaboração de um curso preparatório para o Enem 2013, cujo lançamento inicialmente estava previsto para janeiro. Passado um mês do anuncio, e com tudo praticamente pronto, divulgamos hoje a data oficial para o lançamento das apostilas, que ocorrerá no dia 18 de fevereiro. Pedimos desculpas a vocês leitores por nosso atraso, pois a enorme demanda de tempo e trabalho nos obrigou a alterar nosso calendário.
Esse curso preparatório consiste num conjunto de quatro apostilas contendo resoluções e comentários das últimas quatro edições do Enem (2009 a 2012), feitos pelos melhores professores do Brasil. Cada apostila trará questões referentes a uma área do exame. Dessa forma,  teremos a apostila de “Matemática e suas Tecnologias”, de “Códigos, Linguagens e suas Tecnologias”, “Ciências da Natureza e suas Tecnologias” e “Ciências Humanas e suas Tecnologias”. Esclarecemos ainda que as apostilas são autodidatas, ou seja, o candidato estuda sozinho, em qualquer hora e qualquer lugar.
Acreditamos que umas das melhores maneiras de se preparar para uma prova com características tão únicas como o Enem é treinando muito. Concentração, leitura, interpretação, controle do tempo, resistência e paciência. Para se conseguir bons resultados no Enem é necessário estimular muito estas capacidades. Aliando isso a falta de um material que leve esta proposta ao estudante, surgiu a ideia da elaboração destas apostilas que trazem mais de 700 questões das últimas edições do maior exame do país.
Em vez de modelos de resoluções, como feito anteriormente, hoje trazemos uma ilustração das capas das quatro apostilas.
Apostilas Enem 2013
Como já havíamos adiantado, as apostilas já estão em fase final de preparação. O material realmente está ficando excelente. Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade, já publicamos alguns artigos que trazem exemplos de resolução/comentários (clique para ver modelos de resoluções de MatemáticaGeografia e Biologia), mostrando um pouquinho do que vem por aí.
Informamos que tais apostilas serão vendidas de três maneiras diferentes:
  • Versão Digital – Arquivo em PDF, para ser aberto diretamente pelo seu computador;
  • Versão Impressa – Enviaremos no seu endereço pelo correio;
  • Versão Digital + Versão impressa.
O caminho para a certificação do Ensino Médio ou para a tão sonhada vaga no ensino superior, seja numa universidade pública (SiSU), seja numa instituição particular (bolsa ProUni), passa por um material que acrescente qualidade aos seus estudos. E é justamente esta a palavra que define nossas apostilas: qualidade.
Interessou-se pelo nosso Curso/apostila?
Então fique ligado e nos acompanhe. Nas três semanas que seguem publicaremos mais artigos com exemplos de resolução de questões que fazem parte das apostilas, bem como traremos mais detalhes do material, incluindo preço, forma de pagamento etc.
Para qualquer dúvida ou esclarecimento, fiquem a vontade para nos escrever. E não se esqueçam, dia 18 de fevereiroé a data de lançamento das Apostilas para o Enem 2013!
Postado por : Geoconceicao.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

AS 100 PESSOAS MAIS RICAS DO MUNDO.

A renda dos 100 mais ricos poderia acabar com a pobreza no mundo

 curiosando.com.br
A renda líquida obtida em 2012 pelas 100 pessoas mais ricas do mundo, 240 bilhões de dólares, poderia acabar quatro vezes com a extrema pobreza no planeta. A conclusão está num relatório publicado no fim de semana pela ONG britânica Oxfam. A entidade não entra em detalhes a respeito das contas que fez para chegar ao dado, mas os números servem como alerta para a intensa e crescente desigualdade social no mundo.
A reportagem foi publicada na revista Carta Capital, 22-01-2013.
O documento serve para chamar a atenção para os debates do Fórum Econômico Mundial, que começa nesta terça-feira 22 em Davos, na Suíça. A desigualdade ganhou um painel próprio no encontro, marcado para sexta-feira 25, mas tanto suas conclusões quanto os avisos da Oxfam devem cair em ouvidos moucos. O mundo hoje está construído para ampliar a desigualdade e não há sinais de mudança.
O relatório da Oxfam ecoa estudos e análises econômicas recentes sobre a desigualdade. Hoje, as diferenças entre os países estão diminuindo, mas a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres dentro de cada nação está crescendo. Essa é a regra na maior parte das nações em desenvolvimento e também nas desenvolvidas.
Nos Estados Unidos, a desigualdade social é tão grande hoje em dia que, nas palavras da revista The Economist, supera a das últimas décadas do século XIX, a chamada “Era Dourada” do capitalismo norte-americano. A porcentagem da renda nacional que vai para o 1% mais rico da população dobrou desde 1980, de 10% para 20%. Para o 0,01% mais rico, a bonança foi maior: sua renda quadruplicou.
Na União Europeia, a situação também é ruim. No livro Inequality and Instability (Desigualdade e Instabilidade, em tradução livre), o economista James Galbraith mostrou que, se tomada como um conjunto, a UE supera os Estados Unidos em desigualdade. Isso se explica, em parte, pelas diferenças entre os diversos países do bloco. Ainda assim, se tomadas separadamente, as nações europeias também têm observado aumento da desigualdade. Um estudo sobre o tema publicado em 2012 pela OCDE, concluiu que “desde a metade dos anos 1980″, os 10% mais ricos de cada país “capturam uma crescente parte da renda gerada pela economia, enquanto os 10% mais pobres estão perdendo terreno”. No Japão, onde 100 milhões de pessoas se diziam de classe média, estudos mostram, desde o fim da década de 1990, o aumento da desigualdade a partir da metade dos anos 1980.
A política sequestrada
Não é uma coincidência o aumento da desigualdade no mundo desenvolvido desde os anos 1980. Foi nesta época que começaram a ter efeito as políticas lideradas pelos governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos (1981-1989) e Margaret Thatcher (1979-1990) no Reino Unido, mas adotadas em boa parte do mundo por outros governantes, como Helmut Kohl (Alemanha), Ruud Lubbers (Holanda) e Bob Hawke (Austrália): impostos mais baixos, desregulamentação do sistema financeiro, redução do papel do governo e outras medidas integrantes do receituário neoliberal. Essa política, arrimo da globalização, teve alguns efeitos positivos, mas foi levada a extremos por quem se beneficia delas. Para manter as políticas desejadas, que aumentavam sua riqueza (e também a desigualdade) esses grupos de interesse se encrustaram nos círculos de poder. Eles sequestraram a política.
Este fenômeno é analisado no livro Winner-Take-All Politics (Política do vencedor leva tudo, em tradução livre), dos professores Jacob S. Hacker, de Yale, e Paul Pierson, da Universidade da Califórnia. Em artigo de capa da revista Foreign Affairs em dezembro de 2011, o jornalista George Packer resume o argumento do livro em duas palavras: dinheiro organizado. Foi no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 que as grandes corporações de diversos setores da economia passaram a financiar as campanhas eleitorais, dando início a uma “maciça transferência de riqueza para os americanos mais ricos”.
Este modelo de política, e de fazer política, grassou no mundo desenvolvido e foi transplantado para os países em desenvolvimento, onde foi emulado com maestria pelas elites econômicas locais. Não é uma surpresa, então, que a desigualdade esteja aumentando também nesta região. A Índia acumula diversos bilionários, mas continua sendo o país com mais pobres no mundo. A África do Sul é mais desigual hoje do que era no fim do regime segregacionista do Apartheid. Na China, onde não é preciso sequestrar a política, apenas pertencer ou ter um bom relacionamento com o Partido Comunista, a desigualdade é semelhante à sul-africana: os 10% mais ricos ficam com 60% da renda.
A América Latina e o caso do Brasil
O único lugar do mundo onde a desigualdade está caindo de forma sistemática é a América Latina, justamente a região mais desigual do mundo. Isso ocorreu nos últimos anos por dois motivos. O modelo neoliberal, e a ascensão do “dinheiro organizado”, também chegaram aos países latino-americanos, mas em alguma medida entraram em choque com forças políticas contrárias a uma parte importante do receituário, a não-intervenção do Estado na economia. Assim, os governos da região, entre eles o de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, conseguiram estabelecer a redução da desigualdade social como uma prioridade. Em segundo lugar, os países da região, também incluindo o Brasil, foram muito beneficiados pelo rápido crescimento econômico provocado pela existência de um mundo faminto por commodities.
Há, entretanto, inúmeras dúvidas a respeito da sustentabilidade do modelo latino-americano de redução da desigualdade, especialmente quando a economia começar a desacelerar, situação em que o Brasil já se encontra. Como notou o colunista Vladimir Safatle em edição de dezembro de CartaCapital, o capitalismo de Estado do governo Lula promoveu um processo de oligopolização e cartelização da economia, o que favorece a concentração de renda nas mãos de pequenos grupos. Ao mesmo tempo, Lula não fez, e Dilma Rousseff não dá indícios de que promoverá, a universalização e qualificação dos sistemas públicos de educação de saúde. Sem essas reformas, a classe média seguirá gastando metade de sua renda com esses dois serviços básicos e os pobres continuarão com acesso a escolas e hospitais precários. Os ricos, por sua vez, não terão problemas. A desigualdade de renda poderá cair ainda mais, mas a desigualdade de oportunidades vai perseverar, e a imensa maioria dos pobres continuará pobre.
Para fazer essas reformas, e outras potencialmente capazes de reduzir a desigualdade, como a taxação de grandes fortunas e de heranças e reformas estruturais, o Brasil e outros países latino-americanos enfrentarão as mesmas questões do mundo desenvolvido. Em grande medida, a política latina foi sequestrada pelo “dinheiro organizado”. Levantamento do repórter Piero Locatelli mostra que, em 2010, 47,8% das doações eleitorais no Brasil foram feitas por empresas e que apenas 1% dos doadores foram responsáveis por 73,6% do financiamento da campanha.
O resultado disso, seja nos Estados Unidos, na Europa, na Índia ou no Brasil, é uma grave crise de representação. O cidadão não consegue participar da vida pública e ter seus anseios ouvidos pelo governantes. Os partidos, à esquerda e à direita, caminham cada vez mais para o centro e, como diz o filósofo esloveno Slavoj Zizek, fica cada vez mais difícil diferenciá-los. A esquerda, supostamente contrária aos absurdos do liberalismo econômico, ou aderiu a ele e também tem suas campanhas financiadas por grandes corporações ou não tem um modelo alternativo e crível a apresentar.
Em seu relatório, a Oxfam pede aos governos para tomar medidas que, ao menos, reduzam os níveis atuais de desigualdade social aos de 1990. É bastante improvável que os política e economicamente poderosos resolvam fazer isso do dia para a noite. Estão aí os brasileiros que chamam o Bolsa Família de bolsa-esmola e o ator francês Gerard Depardieu, que preferiu dar apoio a um ditador a correr o risco de pagar impostos de 75%, para provar isso. Talvez apenas o entendimento de que, como diz a ONG britânica, a desigualdade social é economicamente ineficiente, politicamente corrosiva e socialmente divisiva, provoque mudanças. Para isso, no entanto, é preciso que os poderosos entendam os riscos da desigualdade.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

COREIA DO NORTE: SANÇÕES DA ONU.

Coreia do Norte

ONU amplia sanções à Coreia do Norte 

Em votação unânime, o Conselho de Segurança da ONU decidiu ampliar as existentes

Lançamento do foguete norte-coreano Unha-3 em 12 de dezembro
O Conselho de Segurança da ONU condenou o lançamento do foguete norte-coreano (AFP)
O Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade, nesta terça-feira, a ampliação das sanções contra a Coreia do Norte por causa do lançamento de um foguete de longo alcance no mês passado. O orgão determinou ainda que a agência espacial norte-coreana seja adicionada à lista que sofre conjunto de sanções de congelamento de ativos.
Proposta pelos Estados Unidos, a resolução condenou energicamente o governo de Pyongyang que classificou de teste 'balístico'. O comunicado recebeu inclusive o apoio da China que costuma se alinhar ao lado da Coreia do Norte.
Histórico - Na versão norte-coreana, o foguete serviu para colocar um satélite em órbita. Astrônomos afirmaram, no entanto, que o satélite estava inativo. Em resposta, os governos japonês, americano e sul-coreano condenaram o teste e prometeram represálias na ONU, com os Estados Unidos encabeçando um pedido de novas sanções.
O próprio governo chinês, por meio do porta-voz do ministério de Relações Exteriores, afirmou que “lamentava profundamente que a Coreia do Norte executasse o teste apesar dos protestos da comunidade internacional”, mas que esperava que a resposta das Nações Unidas fosse “prudente, moderada e capaz de conduzir a um processo de paz e estabilidade na península coreana”. Nessa conjuntura, a China negociou durante semanas com os Estados Unidos de manter e ampliar as sanções já existentes sem criar novas, e apoiou a votação desta terça-feira.
Leia também: Kim Jong-un ordena fabricação de foguetes maiores
(Com agências Reuters e France-Presse)

COREIA DO NORTE X ESTADOS UNIDOS.

Coreia do Norte anuncia novo teste nuclear e admite ter EUA como alvo

Em resposta à punição na ONU, principal órgão de Pyongyang diz que manterá lançamentos de foguetes, afirmando que têm como objetivo carregar ogivas contra seu 'inimigo declarado'

iG São Paulo | - Atualizada às
O principal órgão de governo da Coreia do Norte advertiu nesta quinta-feira que o regime realizará seu terceiro teste nuclear em desafio à recente punição imposta pelo Conselho de Segurança da ONU e deixou claro que seus foguetes de longo alcance não têm como objetivo carregar apenas satélites, mas também ogivas com o objetivo de atacar os EUA, que classificou de "inimigo declarado".
Alerta: Coreia do Norte ameaça 'dissuasão nuclear' após reprimenda da ONU

AP
Sul-coreanos assistem a notícias mostrando foguete norte-coreano durante parada militar
Desafio: Coreia do Norte lança foguete com sucesso
A Comissão de Defesa Nacional, que é chefiada pelo líder Kim Jong-un , criticou a resolução da ONU patrocinada pelos EUA que condenou a Coreia do Norte e reforçou as sanções contra o país pelo lançamento de um foguete em dezembro . A comissão reafirmou sua declaração de que o lançamento tinha a intenção pacífica de pôr um satélite em órbita, mas também claramente indicou que os disparos de foguetes têm um propósito militar: atacar e atingir os EUA.
A comissão prometeu manter as ações com satélites e foguetes e conduzir um teste nuclear como parte de uma "nova fase" do combate com os EUA, que culpou por liderar a medida de punição da ONU contra o regime de Pyongyang. Ela indicou que o teste atômico está "próximo", mas não especificou quando ou onde será realizado.
"Não escondemos que uma variedade de satélites e foguetes de longo alcance que serão lançados por Pyongyang um após o outro e um teste nuclear de alto nível que será realizado em breve são uma nova fase do combate anti-EUA que dura século após século, e têm como alvo os EUA, o inimigo declarado da população coreada", disse a comissão.
Google: Delegação pressiona Coreia do Norte por liberdade da informação na internet
Foi uma rara declaração da poderosa comissão antes liderada por Kim Jong-il , morto em 2011, e agora comandada por seu filho. O comunicado deixou claro o compromisso de Kim Jong-un de continuar desenvolvendo os programas nuclear e de mísseis em desafio ao Conselho de Segurança, mesmo sob risco de um maior isolamento internacional.
A alusão norte-coreana a um teste nuclear de "nível mais alto" provavelmente se refere a um artefato produzido com urânio altamente enriquecido, que é mais fácil de miniaturizar do que as bombas de plutônio que testou em 2006 e 2009, disse Cheong Seong-chang, analista no Instituto Sejong na Coreia do Sul. Especialistas dizem que os norte-coreanos podem conduzir testes adicionais de seus artefatos atômicos e aprimorar as técnicas para torná-los menores antes de que sejam montados como ogivas para ser carregados em mísseis de longo alcance.
A Coreia do Norte alega o direito de construir armas nucleares como uma defesa contra os EUA, seu inimigo da Guerra da Coreia (1950-1953). O amargo conflito de três anos terminou com um cessar-fogo, e não um tratado de paz, e deixou a Península da Coreia dividida pela zona desmilitarizada mais fortemente armada do mundo. Os EUA lideram o Comando da ONU que governa o cesssar-fogo e têm mais de 28 mil soldados na aliada Coreia do Sul, presença que Pyongyang aponta como uma razão-chave para sua necessidade de construir armas atômicas.
Pyongyang: Americano é preso na Coreia do Norte
Durante anos, os vizinhos da Coreia do Norte negociaram com Pyongyang para fornecer ajuda em troca do desarmamento. Pyongyang abandonou as negociações em 2009, e na quarta-feira reiterou que o diálogo está fora de questão.
Aliada da Coreia do Norte, a China pediu cautela após a ameaça norte-coreana. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Hong Lei, que fez a declaração, também apelou aos EUA para que não tomem nenhuma medida que aumente as tensões.
*Com AP e Reuters

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

SALÁRIO MÍNIMO.

“O que o empregado compra com um salário mínimo de R$ 678,00?”, questiona o próximo presidente do TST sobre empresários que reclamam do custo do trabalho no país

Primeiro negro eleito para presidir o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o ministro Carlos Alberto Reis de Paula qualifica a sociedade brasileira como "racista e discriminatória". "É racista, discriminatória e usa de discriminação por um motivo muito simples: uma questão cultural", disse em entrevista à Fabiano Costa do portal G1, 20-01-2013.

Reis de Paula assumirá o comando da Justiça trabalhista no próximo dia 5 de março, em um momento em que, também pela primeira vez, outro negro, Joaquim Barbosa, chefia a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal (STF).

Aos 68 anos – ele completa 69 anos em 26 de fevereiro –, o magistrado eleito por unanimidade para a presidência do TST revela que já foi alvo de racismo ao longo da vida, mas nunca foi discriminado no Judiciário. "Isso acontece, isso é o Brasil", disse.

O ministro se diz um defensor das políticas de cotas para o ingresso de negros nas universidades federais. Ele, no entanto, ressalta que é contra a implantação do sistema para o acesso ao serviço público. "O problema de cota não pode ser uma esmola. Cota é uma questão de justiça social", avalia.

Natural de Pedro Leopoldo (MG), município da região metropolitana de Belo Horizonte, Reis de Paula foi o primeiro negro a ser indicado para um tribunal superior do país (o TST), em 1998. Mestre e doutor em direito constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele ingressou na magistratura, em 1979, como juiz do trabalho da 3ª Região (MG).

Casado pela segunda vez, Reis de Paula tem três filhas e cinco netos e é torcedor fanático do América mineiro. Atualmente, concilia as atribuições no tribunal trabalhista com o mandato de conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O ministro, porém, diz que deixará a vaga no CNJ assim que assumir a presidência do TST.

Eis a entrevista.

Há um simbolismo no fato de um negro assumir pela primeira vez o comando do Tribunal Superior do Trabalho no mesmo momento em que o Supremo Tribunal Federal também é presidido por um magistrado negro?


É uma coincidência da história, mas é lógico que é um fato simbólico. Só se as pessoas não quiserem ler os fatos. Posso fazer várias leituras. Primeiro, posso olhar para os negros e dizer: é possível chegar lá à custa de trabalho individual, muito empenho e dedicação. Sempre que vou a algum lugar elegante, fico pensando: o negro é exceção. Quantos empresários negros existem no Brasil? Quantos homens de dinheiro e poder existem no país?

O sr. acredita que os negros estão conseguindo conquistar mais espaço?

O Brasil ainda não teve um presidente da República negro. Tenho quase certeza de que vão cobrar muito mais do Joaquim [Barbosa, presidente do Supremo] e de mim do que dos outros. Terão muito menos benevolência nas críticas conosco. Não me assusto com isso. Vou viver minha vida com normalidade. Não quero fazer nada de extraordinário. Quero apenas fazer as coisas ordinárias de forma extraordinária.

O sr. já foi alvo de racismo?


Na minha carreira, não, mas na minha vida, sim. Isso acontece, isso é o Brasil. Mas aí você ascende ao cargo de ministro e ninguém mais o discrimina. Mas eu já fui sujeito de racismo.

Apesar da ascensão de negros a cargos importantes na estrutura da República, a sociedade brasileira ainda é racista?


É racista, discriminatória e usa de discriminação por um motivo muito simples: uma questão cultural. E o pior é que a sociedade não toma consciência porque isso está no seu subconsciente. A sociedade é racista. O fundamental é as pessoas tomarem consciência de que são racistas porque os fatos mostram isso. Espero que a minha gestão e a do Joaquim [Barbosa] mostrem que somos iguais aos demais e temos nossos valores.

Mesmo defensor das cotas raciais para acesso ao ensino superior, o sr. é contra as cotas para ingresso no serviço público. Por quê?

Sustento que devemos habilitar todos, sobretudo os negros, para que possam entrar na universidade, se qualificar e concorrer em igualdade com os outros. Mas essa visão não é apenas para negros, e sim para todos os que são discriminados. Pode ser também para índios e portadores de deficiências físicas. A partir do momento em que eu busco isso, não preciso mais reservar cotas. Não posso admitir cota para magistrado, por exemplo. A meu ver, essa é uma visão simplista. O problema de cota não pode ser uma esmola. Cota é uma questão de justiça social, é uma forma de reparar, mas não fazendo doações.

Empresários reclamam do suposto excesso de benefícios dos trabalhadores brasileiros. Segundo eles, esses direitos encarecem a mão de obra e, consequentemente, os produtos fabricados no país. Na sua avaliação, há exageros nas leis trabalhistas no Brasil?


Há um exagero na leitura dos fatos. Em cima do salário dos empregados, há várias incidências de tributos postas pelo governo. O empregado é que sai caro ou o governo é que faz o empregado sair caro? A primeira pergunta que temos de responder é essa. Um empregado brasileiro não é mais caro do que um empregado estrangeiro. O estrangeiro custa muito mais caro em poder de compra. Eu não trabalho com valores nominais. Quero saber é o que ele [empregado] compra com um salário mínimo de R$ 678. Esse é o raciocínio.

Durante seu mandato, a presidente Dilma Rousseff implementou políticas pontuais de desoneração da folha de pagamentos, que beneficiaram cerca de 40 segmentos da economia. Na sua avaliação, o governo federal deveria promover uma desoneração mais ampla nos encargos trabalhistas para estimular a economia?

Não sou eu que vou pensar sobre administração macroeconômica. Todas essas alterações tiveram uma conotação econômica, não foi trabalhista. Acho que as questões trabalhistas teriam de ser analisadas em primeiro lugar pelos governos. Essas questões pontuais resolvem conjuntura, não resolvem estrutura.

Justiça do Trabalho, Ministério Público e governo federal deveriam trabalhar articulados para tentar erradicar os trabalhos escravo e infantil?


Esse é um dos vexames do país. O índice [de trabalho escravo e infantil] reduziu por causa da influência da OIT [Organização Internacional do Trabalho], mas o patamar ainda é alto. Não sou eu quem fala. Consulte o Ministério do Trabalho. A OIT trabalha com um termo que eu considero muito digno, que é o de "trabalho decente". Esse termo envolve não só a segurança no trabalho, mas também o trabalho valorizado, devidamente remunerado, e em condições dignas e humanas, o que afasta o trabalho escravo e infantil. Devemos despertar a nossa consciência.

O sr. é a favor da redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais sem diminuição de salário, bandeira histórica do movimento sindical?

Os sindicatos fazem muito charme com isso [a redução da jornada de trabalho], mas acho difícil passar no Congresso. Pergunto: 44 horas semanais é uma jornada de trabalho pesada? São discursos, temas de passeata de rua. Não está nesse ponto a solução das questões trabalhistas, isso eu lhe garanto categoricamente. Acho razoável a jornada de 44 horas semanais. Eu, por exemplo, trabalho muito mais do que isso.

O sr. pretende tomar alguma medida para acelerar a tramitação dos processos na Justiça trabalhista?


No Poder Judiciário, trabalhamos em cima de leis que não foram feitas por nós. Não sou legislador, não posso fazer nada contra a lei. Posso interpretá-la, de forma criativa, mas respeitando-a. Aí você me pergunta: demora? Demora. E por que demora? Porque a lei permite que demore. Eu sempre questiono: a quem interessa uma Justiça rápida no Brasil? Aos que não têm voz, costumo responder.

O sr. defende a regulamentação do direito de greve no serviço público?


A Constituição é de 5 de outubro de 1988. Ela já tem 24 anos. Direito de greve, para mim, decorre do trabalho. Vira e mexe, dizem: vamos regulamentar. Mas não passam de mobilizações. A vantagem de um direito sem regulamentação é que você faz o que quer. O problema é esse. A forma de descumprir a Constituição é se omitir.

Há carreiras públicas que estão extrapolando o direito de greve?

Os professores, por exemplo, têm direito de fazer greve, mas depois têm de compensar as aulas que não foram dadas. Por outro lado, o servidor público entra em greve e não compensa. Me conte um dia no Brasil que o Executivo tenha cortado o ponto de algum grevista ou servidor público.

O senhor vê restrições no meio jurídico aos magistrados da Justiça do Trabalho?


Quando eu estava na Faculdade de Direito da UFMG, dizia-se que a Justiça do Trabalho era uma justiça menor, de balcão de negócios. A verdade é que há maus olhares para a Justiça do Trabalho. O problema é que a Justiça do Trabalho não é conhecida. A sociedade não valoriza o trabalho. Se valorizasse, a Justiça do Trabalho seria extremamente valorizada no país. É um problema cultural.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.
Se o trabalhador brasileiro é explorado e usurpado através do salário mínimo, imagine como um aposentado consegue sobreviver com o salário da aposentadoria?   Geo-Conceição.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

DESEMPREGO/ CRISE GLOBAL.

Crise global já deixou 67 milhões sem trabalho

rmnofoco.blogspot.com                  A crise econômica mundial e as medidas de austeridade aplicadas por governos já fizeram 67 milhões de vítimas no mercado de trabalho e, em 2013, o volume de desempregados baterá novo recorde, com 200 milhões de pessoas sem trabalho.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 22-01-2013.
Mas se não bastasse o impacto social dos últimos cinco anos e o fato de os mais afetados terem sido os trabalhadores dos países ricos, as previsões estimam que as demissões vão aumentar até 2017 e, desta vez, atingirão as economias emergentes.
 O alerta é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que, em seu informe anual, aponta que, comparado com 2007, 28 milhões de pessoas mais estão desempregadas no mundo. Essa é apenas parte da história. Outras 39 milhões simplesmente se cansaram de buscar um emprego e abandonaram o mercado de trabalho nos últimos cinco anos.
"O drama que se vive é de proporções enormes, e esses números representam um risco real para a desestabilização social", alertou Guy Ryder, diretor-geral da OIT. "As taxas que estamos vendo são inaceitáveis", declarou.
Uma certa redução do desemprego ocorreu em 2011. Mas, com a retomada da crise em 2012 na Europa e a volta da recessão em muitas economias, mais 4,2 milhões perderam seus empregos. O número total chegou a 197 milhões de pessoas pelo mundo, 5,9% da mão de obra global. "A desaceleração na economia global foi significativa, e isso teve um impacto severo no mercado de trabalho", disse Ryder.
O que mais preocupa a OIT é que, até 2017, a situação não ficará melhor. A previsão é de que, em cinco anos, mais de 10 milhões de pessoas extras perderão o emprego em todo o mundo. No total, a década entre 2007 e 2017 verá uma acumulação de 41 milhões de pessoas a mais sem trabalho no mundo. Em 2013, serão 5,1 milhões de demissões, além de 3 milhões em 2014. Em 2017, o total de desempregados no mundo será de 210 milhões. "Estamos caminhando na direção errada", disse Ryder.
Em 2012, 25% das demissões ocorreram nos países ricos. Na primeira fase da crise, entre 2008 e 2010, os países ricos de fato foram os mais atingidos e somaram mais 15,6 milhões de desempregados que o volume registrado antes da crise, em 2007.
 Uma certa redução ocorreu em 2011, diante do que parecia ser uma retomada do crescimento mundial. Mas em 2012 a segunda onda da crise desfez os avanços obtidos e, ao final de 2013, a OIT estima que 15,7 milhões estarão desempregados, em comparação com os níveis de 2007. 
Austeridade
Ryder fez questão de ressaltar que as políticas de austeridade têm sido as principais responsáveis pela crise. Em sua avaliação, "a dimensão, o ritmo e a intensidade" das políticas de corte de investimentos adotadas por vários governos acabaram incrementando a recessão e, portanto, o desemprego. Ele lembrou que o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu ter errado na dose do remédio.
O impacto das políticas de austeridade entre os jovens preocupa a OIT. Hoje, são 74 milhões sem emprego, 12,6% do total. Nos países ricos, um a cada três jovens não tem trabalho e 35% já não encontram nada há mais de um ano.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LIXO ELETRÔNICO.

Países pobres são destino ‘de 80% do lixo eletrônico de nações ricas’

  Depósito de lixo eletrônico na China (China é um dos principais destinos mundiais de lixo eletrônico). Foto: StEP-EMPA
Depósito de lixo eletrônico na China (China é um dos principais destinos mundiais de lixo eletrônico). Foto: StEP-EMPA

Os países em desenvolvimento são o destino de 80% do lixo eletrônico produzido nas nações ricas, mas carecem da infraestrutura, de tecnologias de reciclagem apropriadas e da regulamentação legal para absorver essa vasta quantidade de detritos.
Essa é uma das conclusões de um relatório [The global impact of e-waste: Addressing the challenge] divulgado nesta sexta-feira (18) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo o documento O Impacto Global do Lixo Eletrônico: Lidando com o Desafio, boa parte do lixo eletrônico exportado para as nações em desenvolvimento é enviado ilegalmente, e estes detritos acabam indo parar em plantas de reciclagem informais, predominantemente em países como China, Índia, Gana e Nigéria.
Especificamente em relação à América Latina, o documento afirma que a maior parte dos países da região ”ainda precisa elaborar uma legislação para o lixo eletrônico”.
O documento afirma que houve avanços recentes na região, como na Costa Rica, o primeiro país latino-americano a criar uma legislação nacional específica sobre o tema.
Ônus
De acordo com o estudo, ”as nações em desenvolvimento estão tendo de lidar com o ônus de um problema global, sem ter a tecnologia para lidar com isso. Além disso, os países em desenvolvimento estão eles próprios cada vez gerando maiores quantidades de lixo eletrônico’.
O estudo afirma que está havendo um aumento rápido na geração de lixo eletrônico doméstico produzido na China, no Leste Europeu e na América Latina.
Um total de 40 bilhões de toneladas de lixo eletrônico é produzido anualmente. Estima-se que 70% dos produtos eletrônicos descartados e exportados todos os anos vá parar na China e que esta proporção estaria aumentando.
Muitas vezes, esse lixo exportado para a China é reexportado para outros países do Sudoeste asiático, como Cambodja e Vietnã.
De um modo geral, as exportações de pequeno porte são destinadas a países da África Ocidental. Mas o relatório diz que essa proporção deverá crescer, devido à adoção de leis mais duras por parte dos países do Sudeste Asiático, que costumavam absorver parte desse comércio.
Entre os principais problemas ligados ao lixo eletrônico, de acordo com o relatório, estão a ausência de regulamentações para assegurar a segurança dos que lidam com esses produtos descartados e a falta de incentivos financeiros para reciclar detritos eletrônicos de forma responsável.
A manipulação desses detritos traz vários riscos à saúde pela presença de materiais tóxicos.
Entre as recomendações feitas no documento da OIT, está a adoção de legislações apropriadas por parte dos países em desenvolvimento, a regularização do setor informal de reciclagem e a organização de trabalhadores que lidam com detritos eltrônicos em cooperativas.
The global impact of e-waste: Addressing the challenge – [pdf 3700KB]
Matéria da BBC Brasil, republicada pelo EcoDebate, 21/01/2013

sábado, 19 de janeiro de 2013

LEI CUBANA SOBRE VIAGEM.

Cubanos já podem viajar ao exterior sem pedir permissão 

Esperada reforma de lei migratória entrou em vigor em Cuba nesta segunda

Passaporte cubano, exigido para as viagens internacionais, é válido por dois anos
Passaporte cubano, exigido para as viagens internacionais, é válido por dois anos  (Enrique De La Osa/Reuters)
Uma lei migratória que permite aos cubanos viajar ao exterior sem pedir permissão ao governo pela primeira vez em meio século entrou em vigor nesta segunda-feira em Cuba, segundo as autoridades locais. Esta reforma migratória havia sido longamente esperada pela população e muitos cubanos se preparam para solicitar o passaporte a partir desta segunda-feira.
Leia também: Entra em vigor a nova lei tributária de Cuba
A lei, publicada no dia 16 de outubro no Diário Oficial e que entrou em vigor à 0h local desta segunda-feira (3h de Brasília), estabelece que agora todos os cubanos podem viajar para fora do país se tiverem um passaporte válido, já que deixaram de ser necessários o visto de saída ou "cartão branco" e a carta-convite de alguém no exterior.
O passaporte cubano, exigido para as viagens internacionais, é válido por dois anos e prorrogável pelo mesmo período com uma vigência total de seis anos. Granma, o jornal oficial de Cuba, publicou um artigo nesta segunda-feira afirmando que "com a entrada em vigor hoje da atualização de sua política migratória, Cuba dá um passo a mais para garantir que os movimentos migratórios aconteçam de uma forma legal, ordenada e segura".
No entanto, a chamada "atualização da política migratória" limita a saída de médicos, militares e cientistas, em uma tentativa de evitar o chamado "roubo de cérebros" da ilha. Além disso, o benefício será negado a quem tiver pendências na Justiça e "quando razões de defesa e segurança nacional assim o justificarem" - o que deve limitar a saída da maioria dos opositores do regime.
Dissidentes -  De fato, dissidentes como a líder das Damas de Branco, Berta Soler, e a blogueira Yoani Sánchez, embora tenham declarado que desejam viajar, disseram que têm medo de serem privadas seletivamente deste direito. "A reforma migratória é mais do mesmo, produto de que sempre vai existir um filtro, o governo cubano vai selecionar quem pode ou não sair do país", disse Soler.
Sánchez, no entanto, escreveu na rede social Twitter: "A Reforma Migratória não acolhe as demandas do povo, mas os desejos do governo". A nova lei migratória é uma das maiores reformas introduzidas pelo presidente Raúl Castro desde que substituiu no comando seu irmão Fidel, que impôs as primeiras restrições para sair da ilha em 1961, em meio a grandes tensões com os Estados Unidos.
  fONTE.Veja.com.br
(Com agência France-Presse)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

GREVE DOS PROFESSORES ABRIL DE 2013.

Professores marcam greve nacional para abril de 2013

Professores organizarão Semana Nacional da Educação para exigir que o Piso Salarial Nacional seja efetivamente aplicado em todo o país.
Fonte:ww3.muraldenoticias.com.br
A reportagem é do portal do Conselho Nacional de Entidades – CNTE, 17-01-2012.

Durante o encontro do Conselho Nacional de Entidades, a CNTE definiu que realizará uma Semana Nacional da Educação em abril de 2013 que será focada na valorização dos profissionais em educação e também agendou uma greve de três dias. "Esta semana tradicionalmente se destina ao debate das questões educacionais e terá como prioridade o debate sindical da mobilização, mais um ano que estaremos lutando para que o piso salarial nacional seja efetivamente aplicado no nosso país com uma greve nacional nos dias 23, 24 e 25 de abril", explica o presidente da CNTE, Roberto Leão.

A Confederação vai continuar defendendo a aplicação de 10% do PIB para a educação pública. Esta proposta está prevista no Plano Nacional de Educação que já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, mas ainda falta a sua aprovação no Senado. “Nós continuamos nossa luta para que o Plano Nacional de Educação estabeleça claramente que 10% do PIB serão investidos em educação pública. Acho lamentável o que foi feito pelo senador Pimentel que tirou a palavra pública, abrindo espaço para que seja feito um festival com o dinheiro público em entidades particulares”, refutou Leão.

Será defendida também uma alterção na MP 592 que destina os royalties do petróleo para a educação. Da forma atual, os recursos para a área não chegam a 20%. A luta é para que o total dos royalties do pré-sal sejam destinados apenas à educação. “É uma riqueza que é finda e que, portanto, precisa deixar um legado para as futuras gerações e a maior forma de fazer isso é através da educação também pública”, destacou o presidente da CNTE. 

Para a CNTE, reajuste do piso é insuficiente

Como previsto, o Ministério da Educação acaba de anunciar o reajuste de 7,97% para o piso do magistério em 2013, totalizando R$ 1.567. Além de representar o menor índice dos últimos 3 anos, o valor não corresponde ao que foi proposto pela CNTE.

A entidade lembra que o MEC se baseia no parecer da Advocacia Geral da União, com o qual a CNTE não concorda. O parecer leva em conta o percentual do reajuste do custo aluno do Fundeb nos dois anos anteriores ao exercício vigente. A CNTE entende que o artigo 5º da Lei que criou o Piso é muito claro e estabelece que o custo-aluno é prospectivo. Se o custo-aluno está sendo reajustado em 2013 em 20,16%, esse deveria ser o reajuste do Piso.

Além disso, a CNTE considera que deveria ter havido um reajuste do Piso de 2008 para 2009. O MEC, levando em conta a interpretação do acórdão do STF quando do julgamento da primeira ação de inconstitucionalidade movida pelos governadores, entende que o Piso só passou a vigorar em 2009 e não em 2008. Para a CNTE, é uma interpretação sem lógica, já que a Lei do Piso é de 2008 e passou a vigorar assim que foi sancionada.

"Esse ano é um exemplo claro disso, houve um rebaixamento do Custo-Aluno estimado no início do ano. O índice estava previsto para ser reajustado em 21,75% e terminou sendo ajustado em 7,97%, o que também contribui para essa diferença de valores entre o Piso do MEC e da CNTE. Nossa análise é a seguinte: o Governo, ao anunciar o percentual de reajuste, deve ter mecanismos que banquem esse percentual de reajuste até o final, para não acontecer o que acabou de acontecer", afirma o presidente da CNTE, Roberto Leão.

A grande maioria dos Estados e municípios não cumpre a Lei, que inclui a jornada de trabalho, composta de 1/3 de hora atividade. Praticamente nenhum Estado cumpre a Lei do Piso na íntegra, alguns estão com negociações avançadas com os sindicatos, mas a CNTE lembra que a maioria insiste em desconsiderar esse artigo da Lei

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.

CRESCIMENTO POPULACIONAL ENTRE PAÍSES POBRES E RICOS.

Fosso demográfico global: regiões com alto crescimento e com decrescimento populacional, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  Fosso demográfico global: regiões com alto crescimento e com decrescimento populacional

[EcoDebate] A população do Planeta continua crescendo, mas pode se estabilizar antes do final do século XXI. Porém, os números médios não mostram que existe um fosso demográfico global (Global Demographic Divide), pois os países considerandos desenvolvidos (More developed) devem apresentar um declínio da população, enquanto os países muito menos desenvolvidos (Least developed) devem apresentar um crescimento demográfico muito acelerado.
Os países hoje considerados desenvolvidos tinham, em conjunto, uma população de 811 milhões de habitantes em 1950 e passaram para 1,24 bilhão de habitantes em 2010. Na projeção média da ONU devem chegar a 1,32 bilhão e 1,34 bilhão, respectivamente, em 2050 e 2100. Na projeção alta os números são 1,48 bilhão e 2,04 bilhões. Na projeção baixa, as estimativas são de uma queda para 1,16 bilhão de habitantes em 2050 e de 830 milhões de habitantes em 2100.
A taxa de fecundidade total (TFT) nos países desenvolvidos era de 2,8 filhos por mulher no quinquênio 1950-55 e caiu para 1,6 filhos por mulher em 2005-10. Se a TFT continuar neste nível a população vai cair para 830 milhões em 2100. Se a fecundidade subir para 2,1 filhos, então valeria a projeção média de 1,34 bilhão até 2100 e se a fecundidade subir para 2,6 filhos por mulher então valeria a projeção alta de pouco mais de 2 bilhões de pessoas. O cenário mais provável é que a fecundidade continue baixa, pois a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos está fazendo as taxas de fecundidade cairem. Portanto, os países desenvolvidos devem chegar em 2100 com uma população parecida com aquela de 1950, com um montante por volta de 800 milhões de habitantes.
A mortalidade infantil era de 60 mortes para cada mil nascimentos em 1950-55 e caiu para 6,4 por mil em 2005-10, devendo chegar a 3 por mil em 2100. A esperança de vida era de 66 anos em 1950-55 e subiu para 77 anos em 2005-10, devendo chegar a 88 anos no final do século. Desta forma, com a queda da fecundidade e o aumento da esperança de vida, os países desenvolvidos vão ter um grande crescimento do grupo de idosos, sendo que a idade mediana já passou de 29 anos em 1950 para 40 anos em 2010 e deve ficar em 44 anos em 2050.
Já os países muito menos desenvolvidos vão apresentar um grande crescimento populacional ao longo do século XXI, muito maior do que o crescimento previsto para os países em desenvolvimento (que é um outro grupo, cujos dados não estão apresentados neste artigo).
Os países considerados muito menos desenvolvidos, os mais pobres do mundo tinham, em conjunto, uma população de 196 milhões de habitantes em 1950 e passaram para 832 milhões de habitantes em 2010. Na projeção média da ONU devem chegar a 1,73 bilhão e 2,69 bilhões, respectivamente, em 2050 e 2100. Na projeção alta os números são 1,95 bilhão e 3,95 bilhões. Na projeção baixa as estimativas são de 1,52 bilhão de habitantes em 2050 e de 1,77 bilhão de habitantes em 2100. Portanto, na projeção média – a mais provável – a população destes países muito menos desenvolvidos vai crescer cerca de 14 vezes entre 1950 e 2100.
No quinquênio 2010-15 devem nascer anualmente cerca de 14,2 milhões de crianças e devem morrer 12,7 milhões de pessoas, nos países desenvolvidos. Isto significa um crescimento de 1,6 milhão de pessoas por ano. Mas no quinquênio 2025-30 o número de nascimentos deve cair para 13,7 milhões e o número de óbitos deve subir par 14 milhões, significando uma diminuição de 340 mil pessoas por ano.
Já nos países muito menos desenvolvidos o número anual de nascimentos no quinquênio 2010-15 deve ficar em torno de 28,9 milhões para 8,8 milhões de óbitos, significando um aumento populacional de 20 milhões de pessoas ao ano. No quinquênio 2025-30 o número de nascimentos deve subir para 33,7 milhões e o número de óbitos para 9,8 milhões, significando um aumento de 23 milhões de habitantes por ano.
Este alto crescimento demográfico se deve ao lento processo de transição da fecundidade e à permanência de uma estrutura etária jovem, nestes países com menor nível de desenvolvimento econômico e social. O número médio de filhos por mulher era de 6,54 em 1950-55, caiu para 4,4 filhos em 2005-10 e estima-se, na projeção média, que caia para 2,76 filhos em 2045-50 e 2,13 filhos em 2095-00. Portanto, a população dos países muito menos desenvolvidos deve passar de 196 milhões de habitantes em 1950 para 2,69 bilhões de habitantes em 2100, mesmo em um quadro de queda da fecundidade. Se não houver a queda esperada o aumento populacional poderá ser bem maior e chegar a quase 4 bilhões de habitantes no final do século.
Evidentemente, este alto crescimento populacional dos países muito menos desenvolvidos vai dificultar a redução da mortalidade infantil, o aumento da esperança de vida e a diminuição da situação de pobreza. A mortalidade infantil era de 192 por mil em 1950-55 e caiu para 80 por mil em 2005-10, enquanto a esperança de vida subiu de 37 anos para 57 anos no mesmo período. Este conjunto de países pobres possuem uma estrutura etária jovem, com idade mediana em torno de 19 anos (metade da população tem menos de 19 anos) e uma alta razão de dependência demográfica que dificulta a decolagem do desenvolvimento. Se nada for feito exogenamente, estes países podem ficar presos à “armadilha da pobreza” e com dificuldades para mudar o círculo vicioso entre pobreza e alto crescimento demográfico.
No caso do Brasil e da China, que são considerados países em desenvolvimento, haverá também, após 2030, decrescimento populacional ao longo do século XXI. Ambos os países vão passar por um grande processo de envelhecimento populacional e, em termos demográficos, vão ficar mais parecidos com os atuais países desenvolvidos.
Os países desenvolvidos também vão ter uma alta razão de dependência demográfica (de idosos), mas como já possuem baixas taxas de mortalidade infantil, alta esperança de vida e altos níveis de escolaridade e renda, poderão suportar melhor os desafios demográficos. Mas provavelmente vão ter dificuldades para manter o crescimento econômico e sustentar o alto padrão de vida.
Em termos ambientais os países desenvolvidos (de alta renda) tinham, em 2008, uma pegada ecológica per capita de 5,6 hectares globais (gha) e uma biocapacidade de 3 gha, portanto apresentavam um grande déficit ambiental. Já os países muito menos desenvolvidos tinham uma pegada ecológica per capita de 1,14 gha e uma biocapacidade também de 1,14 gha, portanto em uma situação de empate entre pegada ecológica e biocapacidade, segundo o Relatório Planeta Vivo, da WWF.
Uma redução da população dos países desenvolvidos vai ajudar a diminuir a pegada ecológica. Contudo, um aumento muito grande da população dos países muito menos desenvolvidos vai criar um grande déficit ambiental nas regiões mais pobres do Planeta. A alternativa de migração das regiões pobres para a ricas pode até ser bom para os migrantes, mas aumentaria a pegada ecológica global, aumentando o déficit que já existe em escala planetária. Além disto, um volume muito grande de migração do “Sul econômico” para o “Norte econômico” tende a aumentar os conflitos sociais, os choques culturais e as manifestações de xenofobia.
Tudo indica que haverá pequeno crescimento, estabilização ou até decrescimento econômico nos países mais ricos e com alto déficit ambiental. Assim, a redução demo-econômica nos países ricos vai ter um impacto negativo nos países pobres. O fato é que o fosso demográfico (decrescimento em alguns países e alto crescimento populacional em outros) tende a aumentar outras desigualdades. A solução passa pelo apoio dos países ricos aos países pobres, para que haja aumento dos direitos de cidadania no mundo no sentido da construção de um planeta com maior equidade econômica, social e demográfica.
Referências e nota:
Nota: Classificação da ONU para os países desenvolvidos (More developed) e países muito menos desenvolvidos (Least developed):
Paises desenvolvidos (Belarus, Bulgaria. Czech Republic, Hungary, Poland, Republic of Moldova, Romania, Russian Federation, Slovakia, Ukraine, Denmark, Estonia, Faeroe Islands, Finland, Iceland, Ireland, Latvia, Lithuania, Norway, Sweden, United Kingdom, Albania, Andorra, Bosnia and Herzegovina, Croatia, Gibraltar, Greece, Holy See, Italy, Malta, Montenegro, Portugal, San Marino, Serbia, Slovenia, Spain, TFYR Macedonia, Austria, Belgium, France, Germany, Liechtenstein, Luxembourg, Monaco, Netherlands, Switzerland, Bermuda, Canada, Greenland, United States of America, Australia, New Zealand and Japan).
Países muito menos desenvolvidos (Burundi, Comoros, Djibouti, Eritrea, Ethiopia, Madagascar, Malawi, Mozambique, Rwanda, Somalia, Uganda, United Republic of Tanzania, Zambia, Angola, Central African Republic, Chad, Democratic Republic of the Congo, Equatorial Guinea, São Tomé and Príncipe, Sudan, Lesotho, Benin, Burkina Faso, Gambia, Guinea, Guinea-Bissau, Liberia, Mali, Mauritania, Niger, Senegal, Sierra Leone, Togo, Afghanistan, Bangladesh, Bhutan, Nepal, Cambodia, Lao People’s Democratic Republic, Myanmar, Timor-Leste, Yemen, Haiti, Solomon Islands, Vanuatu, Kiribati, Samoa and Tuvalu).
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 18/01/2013

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CRESCIMENTO ZERO.

A caminho do crescimento zero, artigo de Eugênio Giovenardi


crise ambiental

Apesar da obsessão incontida do consumo, estimulada por todos os meios de divulgação, incluindo-se subsídios governamentais, muitas pessoas sentem que algo está errado na descontrolada volúpia de comprar. Intuem, mas são intimidadas pelo próprio conformismo de expressar seu sentimento sobre o abismo que se anuncia.
O delírio do crescimento econômico que incita a produzir mais para consumir mais, está nos levando para o impasse, a frustração e o desastre. Há que deter a expansão econômica impulsionada a qualquer custo, pois a mina de ouro – a natureza – é limitada. A tendência inteligente aponta para o decrescimento gradativo rumo ao estágio do crescimento econômico zero, equilibrado, sensato a fim de chegar ao ponto ômega do equilíbrio do planeta para que a lei inercial biológica da reprodução da espécie humana não solape a sobrevivência de todas as espécies vivas.
Uma nova atitude diante das ameaças à vida no planeta poderá encontrar formas eficazes e mesmo radicais de contenção do crescimento econômico sem perder a ternura. Deverá ser possível buscar o caminho do decrescimento inteligente ou a inteligência capaz de alcançar o estágio do crescimento zero. Um dos passos é planejar e programar o crescimento zero da população. Menos gente, menos agressão à natureza, menos tudo. A economia pode mudar seu enfoque para se desligar dos sentimentalismos religiosos e do assistencialismo político da opção pelos pobres e declarar corajosamente sua opção pela riqueza socializada. Ironicamente, uma opção pelos ricos. Eles são minoria no mundo. Isto significa drenar em profundidade a riqueza acumulada em poucas mãos para aplicá-la na contenção demográfica com enfoque ambiental e incentivos públicos à redução da expansão da população. Trata-se de inverter os papéis estratégicos das funções do Estado: administrar a riqueza e não a pobreza. Isto poderá ser possível com o equilíbrio entre administração da população e administração da escassez.
Por outro lado, expande-se cada dia mais, entre as mulheres, a sensação benéfica de que a felicidade feminina não precisa de cinco gravidezes para consolidar a maternidade. Há, portanto, condições favoráveis para o crescimento zero da população e, consequentemente, o crescimento zero da economia. Há que se caminhar na direção de prover a sociedade humana de bens socializáveis e reduzir inteligentemente o consumo de bens materiais individualizáveis. A tecnologia eletrônica de comunicação mundial é um dos exemplos de bens socializáveis. Ou o transporte público eficiente, eficaz e confortável. Dá-se, dessa forma, mais amplo espaço às pessoas para desfrutarem o essencial da existência que é a própria vida, um bem intransferível.
O controle do crescimento da população humana é resultado de um processo que depende de formas as mais diversas. Assim como o controle de velocidade é um efeito da câmera fotográfica com o fim de evitar acidentes de trânsito. Onde está o principal? Na velocidade, na câmera fotográfica ou no acidente de trânsito? Ou nas leis de trânsito?
Há, a meu ver, uma distorção filosófica ao se mencionar direito humano reprodutivo. A reprodução dos seres vivos obedece a leis biológicas evolutivas que regem sua adaptação às mudanças e transformações climáticas. É muito mais que um direito humano reprodutivo. A inteligência do organismo humano é um artifício de adaptação ao meio capaz de comunicar-se pela palavra, comportamento e cultura transmissíveis às cópias futuras. Seus truques e avanços tecnológicos lhe dão boas razões de que possa ilusoriamente dominar e subjugar os demais seres vivos do planeta.
Por que essa mesma inteligência não pode evoluir para construir novas formas de adaptação às mudanças gerais do planeta, dada a limitação dos elementos essenciais de sobrevivência e reprodução da imensa variedade de seres vivos dos quais somos uma pequena parcela?
Considero que a sobrevivência e reprodução da espécie humana, que depende de milhares de outras espécies vivas, devem ser vistas com abrangência universal. A questão não está em quem consome mais ou em quem consome menos. A questão está em encontrar um grau de desenvolvimento da inteligência do organismo humano no qual uma população mundial, relativamente estável, alcance o mesmo nível de satisfação que lhe produz o compartilhar de todos os bens necessários a sua sobrevivência, reprodução e transmissão de sua cultura indefinidamente. Esta circunstância está na base do conceito de crescimento zero da população. O papel dos governos, das mulheres, dos homens, das crianças é buscar no diálogo democrático, civilizado, as medidas, as fórmulas, os meios e as decisões a serem tomadas nos próximos milênios.
Não existem propostas pré-fabricadas, cabais e completas com o fim de a espécie humana evoluir sem percalços para um determinado alvo. As pegadas ecológicas são deixadas no planeta pelos pés de todos os seres humanos em sua trajetória de adaptação às mudanças climáticas, de sobrevivência e reprodução. Cada árvore derrubada, cada nascente destruída, cada casa construída, cada carro manobrado, cada avião voando é uma pegada de sérias consequências para ricos e pobres. Afirmar que o tamanho absoluto da população não é questão central arrisca-se de minimizar, se não debilitar, o exame do tema. Hiperconsumo pode existir também com população menor no planeta. São dois aspectos que não podem ser tratados separadamente. Atitude inteligente é propor-se, com a urgência necessária, a caminhar para o crescimento zero da economia e da população.
I – O engodo do Desenvolvimento Sustentável
O bom senso da humanidade aponta para a redução do crescimento econômico e a busca do equilíbrio das relações entre os seres vivos e a natureza, além de conquistar importante espaço na consciência mundial. Um dos gritos de alerta anunciando os perigos da exploração exaustiva do planeta foi o da insustentabilidade dos processos de produção que esgotam as riquezas disponíveis aos seres vivos. O desenvolvimento, apregoa-se agora, precisa ser sustentável.
Sustentável, sustentabilidade, tantas vezes usados e abusados na forma de adjetivo ou substantivo, esses termos se enfraqueceram com discursos confusos e práticas contraditórias. Mas fica bem dizê-los em qualquer tempo, situação ou circunstância. Candidatos a qualquer posto os empregam. De vereador de minúsculo município ao secretário geral da ONU, ministros, deputados, altos funcionários públicos, executivos bem pagos, donos de empreiteiras e construtoras, grandes proprietários rurais e líderes de movimentos sociais de diferentes orientações e propósitos, todos se dizem preocupados com a sustentabilidade.
As boas intenções originais brotadas de gabinetes ou escritórios climatizados do Banco Mundial, iluminados com energia atômica, diante do crescente esgotamento de áreas agrícolas em todos os países, frente à poluição generalizada e uso maciço de agrotóxicos, perderam-se no emaranhado da retórica ambientalista. O alerta original apontava para os efeitos de longo prazo se a natureza continuasse maltratada com queimadas, exploração intensiva e extensiva da terra, utilização de agrotóxicos mais e mais eficazes. Que efeitos? Redução relativa da quantidade e qualidade de produtos alimentícios e catástrofe ambiental com o sacrifício de vastas e irrecuperáveis regiões do planeta.
Que tem a ver queimadas na Amazônia com sustentabilidade? Ou a transformação de milhares de hectares de florestas e de cerrado em campos de soja ou cana-de-açúcar? Que tem a ver o crescente estímulo do governo brasileiro à produção e venda de automóveis com o conceito original de sustentabilidade? Que tem a ver com sustentabilidade o inchaço descontrolado de nossas cidades inundadas a cada ano, cortadas por avenidas, viadutos, estacionamentos, trânsito caótico e criminoso? Nada vezes nada.
O termo se tornou ridículo na boca de presidentes e ministros e chegou ao cúmulo da zombaria conceitual ao associá-lo ao desenvolvimento. Frases como a de um ministro do meio ambiente soam à irresponsabilidade: “O Brasil tem todas as condições para ser líder em sustentabilidade”. O novo código florestal, como quer que se aprove, é garantia da insustentabilidade.
O conceito de sustentabilidade foi sequestrado pelo autoritarismo econômico do mercado e pela ditadura administrativa que gera decisões econômicas para fins políticos de poder. Tomam-se todas as precauções para colocar os mecanismos da máquina de produção de bens como créditos bancários, juros suportáveis, subsídios e redução de impostos com dinheiro público para favorecer o consumo intenso de milhões de consumidores com os artifícios de políticas públicas. A guerra contra a miséria e a pobreza não visa diretamente às pessoas no que têm de mais nobre: liberdade e participação democrática nas decisões políticas. Essa ofensiva cega objetiva levar multidões de consumidores aos supermercados e centros comerciais, às empresas de construção, aos bancos, às agências de automóveis, aos aeroportos para apaziguar a fome do PIB. A sustentabilidade se reflete e se resume no PIB. Se o PIB cresce, a sustentabilidade do lucro econômico está garantida. E se não cresce, também. Até quando?
Por fora desta raia correm os ambientalistas com voz rouca e pernas cansadas. Por quê? Nesses debates, nas propostas que põem a sustentabilidade em jogo, raramente se aponta o cerne da questão: crescimento da população. Parte dos ambientalistas, por medo de ofender a humanidade, se alinha aos comportamentos estimulados por instituições ideologicamente conservadoras que se opõem ao planejamento familiar democrático e, consequentemente, à diminuição dos nascimentos. O sistema econômico, ao contrário, por estratégia intrínseca de sobrevivência, precisa de grande população, propositalmente diversificada e a transforma em peça de mercado.
Em qualquer parte do mundo e em qualquer nível de capacidade de atender e suprir suas necessidades de sobrevivência, o crescimento da população humana é o maior desafio da sustentabilidade no que respeita à reprodução das riquezas naturais disponíveis a todos os demais seres vivos. A população humana cresce em ritmo maior do que a capacidade humana de administrá-la eficaz e equitativamente. Ao mencionar população, o termo deve estender-se a todos os seres vivos, todos eles implicados na sustentabilidade dessas riquezas disponíveis, dada a interdependência mútua. População humana, população animal, população vegetal. A sobrevivência dessas três categorias de seres vivos depende de um elemento básico: água. Para sobreviver, essas populações competem entre si no consumo de água.
A interdependência dessas populações – a cadeia trófica – depende do equilíbrio do consumo de água e da proporcionalidade de tamanho de cada um dos grupos de seres vivos. Um bovino consome 15 mil litros de água para ganhar um quilo de peso. Soma-se nesse volume a água que bebe diariamente e a que é necessária para manter e recuperar os pastos (30 mil m2 por cabeça) e os demais ingredientes de alimentação e cuidados sanitários. Ao alcançar 300 kg, ao cabo de dois a quatro anos, um bovino consumiu direta e indiretamente 18 milhões de litros de água. Uma pessoa consome, em média, 200 litros diários em seu ambiente, o que representa ao final de 70 anos, pouco mais de cinco milhões de litros de água. Só o rebanho bovino, no Brasil, é estimado em 198 milhões de cabeças, maior do que a população brasileira, com um consumo de água três vezes superior a que é necessária para os cidadãos.
São essas as questões fundamentais da sustentabilidade. Como imaginar o desenvolvimento sustentável devastando florestas e destruindo esses laboratórios de produção de oxigênio? Como imaginar o desenvolvimento sustentável arrasando a Amazônia e o Cerrado, comprometendo e extinguindo nascentes? Como imaginar o desenvolvimento sustentável abrindo poços artesianos no campo e nas cidades, esvaziando as reservas subterrâneas, como está acontecendo com o Aquífero Guarani, nas áreas de fronteira entre Paraguai, Argentina e Brasil? Como imaginar o desenvolvimento sustentável com 16 milhões de miseráveis no Brasil e mais de 2 bilhões no mundo que ainda não alcançaram ver um prato de comida decente?
Parece evidente que o bom senso das gerações futuras optará pela redução do consumo predador e pela diminuição mais eficaz de populações humanas e não humanas que desertificam o planeta. Há de se alcançar, de forma equilibrada, o fornecimento de bens essenciais, materiais e não materiais, necessários à sobrevivência de todos os seres vivos. Salvar árvores, poupar e produzir água serão os lemas do futuro. Hoje, se gasta um real para exaurir a terra e investem-se cinco reais para recuperá-la. O futuro inverterá a tendência insana do crescimento econômico baseado no PIB e nas esdrúxulas leis do mercado. Investirá sabiamente na proteção preventiva da natureza e dos seres vivos e desfrutará as riquezas do planeta com os benefícios de tecnologias limpas.
II – A ilusão do consumo
O consumismo é o reino da ilusão. Os desejos mais profundos de felicidade e gozo da existência são satisfeitos com a apropriação de bens úteis e inúteis. As frustrações procuram, no consumo, um analgésico eficaz. Penso que a maioria das pessoas adultas, à luz do bom senso, percebe que é preciso parar, olhar e pensar com o corpo e com a alma.
Governar é administrar populações. Uma criança, antes de nascer, já movimentou equipamentos médicos e centros de consumo. Sua presença requer o aumento de 200 litros de água, consumo de energia, vaga em creche e escola, vacinas e todo o aparato hospitalar. Parque infantil, transporte especial. Alimentação adequada. As duzentas mil crianças que se incorporam à população do Distrito Federal, no correr do ano, pedem passagem para todos os serviços dignos de sua presença. A administração pública não está preparada para atender a todas ao mesmo tempo e, em consequência, as que moram nas periferias esperarão na fila a senha do atendimento.
Com a irrigação inteligente da riqueza pode-se multiplicar a construção de escolas, teatros, parques, centros esportivos para todas as idades e em todas as regiões. Há que se pensar, na linha da administração da riqueza, em tornar mais severas as leis que orientam a constituição de empresas de produção e distribuição de bens, construção imobiliária, exploração agropecuária, fabricação de automóveis, entre outras, para coordenar a distribuição mais equitativa dos bens públicos. Abrem-se, para a população, avenidas de acesso aos bens socializados, circunstância que distende a sociedade e amplia o espaço de convivência. O confronto dialogante entre liberdade criativa e liberalismo explorador ganhará as escolas, as universidades e as ruas.
Temos diante dos olhos uma bomba demográfica instalada no Distrito Federal e no Brasil. Registram-se, há tempos, perigosas explosões dessa bomba cujos estilhaços rompem a organização das cidades e tumultuam severamente a administração da coisa pública. Explosões no edifício educativo deixam professores mutilados, sem ânimo, afetando a capacidade e a virtude do pensar das crianças. Além de lhes ministrar conhecimentos inadequados e muitas vezes inúteis. As crianças saem das escolas meio cegas, pois o analfabetismo não é de todo substituído pela compreensão da leitura e do exercício aritmético. Outras explosões constantes se ouvem no edifício da saúde, do trabalho, da cultura, do transporte e até das prisões.
Quem administra essa bomba demográfica? Quem está preparado para desmontá-la? A prática tem demonstrado que a velocidade pela qual a população se multiplica e gera necessidades é geometricamente maior do que a capacidade dos governos e da própria sociedade em administrá-la. Eis o ponto crucial do problema. Os que se apresentam para manipular a bomba demográfica são políticos, grande parte deles aventureira e arrivista, sem conhecimento, sem tecnologia nem experiência. Administradores funcionais se repartem em departamentos de finanças, secretarias burocráticas, exercendo cargos e funções sem poder de decisão. A capacidade administrativa para gerir demandas massivas de grandes populações está atomizada e pouco desenvolvida. A população é tratada por partes, esquartejada por medidas de urgência. As decisões tomadas no campo da educação aparecem desvinculadas das do trabalho, do transporte e da saúde. Constroem-se escolas, postos de saúde sem provê-los de professores ou médicos ou sem merenda escolar e medicamentos.
Agrupamentos com 100 mil pessoas constituem para os administradores tarefa quase impossível de executar. Samambaia ou Recanto das Emas (DF), como similares em outros estados da federação, são exemplos dessa incapacidade de lançar um olhar sistêmico sobre sua população. A concentração desses agrupamentos foi improvisada, apressada, pressionada por migrações, impedindo a execução de medidas humanistas e comprometendo os requisitos primordiais do planejamento urbano. As demandas da população se cruzam e se amontoam a ponto de não permitirem soluções sistêmicas. O abastecimento de água, o fornecimento de energia, o fluxo do transporte humano e de carga se sobrepõem e se entrelaçam com outros serviços públicos. A administração torna-se confusa. Decisões parciais e seccionadas só retardam soluções sensatas de curto e longo prazo. Os administradores, geralmente, esquecem a relação fundamental das pessoas com a natureza. As decisões parecem orientar-se a transformar a natureza em inimiga das pessoas, levantando muros de proteção contra a invasão de árvores e pássaros, outrora seu habitat original. A arborização é negligenciada ou postergada para outros tempos. Lixo é visto com indiferença, jogado ao chão ou à beira de rodovias. A contaminação ambiental pouco tem a ver com a duplicação de vias ou fiscalização do trânsito e da poluição por emissão de gases tóxicos.
Administrar populações é cuidar, nutrir e proteger vidas ao longo de sua existência desde o nascimento. Todos os seres vivos, por sua interdependência, devem estar incluídos nos amplos mecanismos e circunstâncias da administração de um país. A interdependência dos seres vivos requer um olhar generoso e sistêmico sobre as mútuas energias que se intercomunicam. Administrar uma população humana agredindo o complexo natural dos demais seres vivos, sejam animais ou árvores, trará consequências sérias à inter-relação das dependências e à convivência humana. Estimular a população humana a crescer para explorar a rede de outros seres vivos a ponto de extingui-los é trair os princípios da interdependência. O excesso de população humana, que induz o aumento de fontes de proteína animal, força, na mesma intensidade, a exploração agressiva dos bens de sobrevivência, com risco de dizimar seres da cadeia de interdependência ou cadeia trófica, empobrecendo a natureza em seu conjunto.
A espécie humana depende de todas as demais espécies para sobreviver, a começar pelo elemento vital que é a água, repositório das essências necessárias aos seres vivos. Transformar a população humana em meros consumidores é diminuir sua importância na cadeia da interdependência. As árvores precisam da mão do homem para subsistir. E o homem precisa delas.
O mais delicado e perigoso atentado à dignidade do ser humano é declará-lo contribuinte do orçamento através do fisco. Sua criatividade, seu papel, sua função na cadeia da interdependência se reduz a um repassador de valores monetários para alimentar um sistema de administração que pretende dominar ciclos de vida e impor comportamentos irracionais. Quanto mais cresce a população contribuinte mais perigosa e ineficaz se torna a administração. Já não é a vida das pessoas que está em primeiro plano e, sim, a gerência do orçamento conduzido por inúmeras mãos, honestas e desonestas, eficientes e ineficientes. As obras levantadas com placas de publicidade não visam diretamente à população, mas à manutenção do poder sobre ela. A catástrofe é iminente. Torna-se uma população escrava do poder. Sua liberdade de ser e pensar se vê manietada por sistemas verticais de decisão que lhe impõem fatos consumados.
O crescimento econômico tende a ser linear e a ultrapassar todas as barreiras rumo, se não ao infinito, ao indefinido. Em economia, as medidas propostas não gozam de precisão, tudo são experimentos. Deixa vidas sobre escombros no rastro de sua passagem. Aponta para o novo, o perfeito e o luxo. Mas, pelo retrovisor, veem-se os atropelados, os mutilados, os maltrapilhos envoltos na poeira da riqueza veloz.
O ruído do crescimento envolve a todos. Ouvem-se milhares de gritos da multidão arrastada pela fúria das comissões de frente e já não se escuta a voz dos vizinhos e dos que vêm atrás. O delírio toma conta da sociedade até que o cansaço da corrida derruba a todos. As vozes sensatas que pediam para frear a marcha e diminuir o tamanho do passo são ignoradas e desprezadas. Tudo é conduzido em nome da felicidade, do bem-estar, do conforto imediato, do privilégio de ter, da ambição do poder. A ambição do crescimento econômico baseado na abundância põe a felicidade do ser humano num alvo equivocado.
O caminho rumo ao crescimento zero requer respeito aos limites dos bens naturais disponíveis para a sobrevivência e reprodução da espécie humana e de todos os demais seres vivos do planeta. Educação, discussão e debate sobre vantagens comparativas para todos os seres da espécie humana e de todas as outras espécies vivas com o fim de se encontrar o equilíbrio entre bens disponíveis no planeta e consumo saudável para a sobrevivência e reprodução. Os quatro bilhões de anos que proporcionaram o aparecimento do organismo humano e o desabrochamento de sua inteligência peculiar se estenderão por mais alguns bilhões de anos, propícios a mudanças de rumo, a adaptações às transformações climáticas e ambientais fora de nosso campo de visão.
Eugênio Giovenardi, sociólogo e escritor
http://www.eugeobservador.blogspot.com
EcoDebate, 17/01/2013