quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

AGRESSÃO CONTRA MULHERES É UMA VIOLÊNCIA DE REPETIÇÃO.


Agressão contra a mulher é uma violência de repetição, diz socióloga


Agressão contra a mulher

A empresária e paisagista Elaine Perez Caparroz estava em seu primeiro encontro com Vinicius Batista Serra quando foi vítima de uma tentativa de feminicídio. O apartamento ensanguentado e o rosto inchado da vítima causaram indignação e reavivaram a discussão sobre o combate à violência contra a mulher. Diferentemente do que ocorreu com a empresária, no entanto, a maioria das vítimas de feminicídio não estava em seu primeiro encontro, mas morava ou já morou com os assassinos.
ABr
O último Dossiê Mulher, divulgado pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, mostra que 65,8% dos assassinos nos casos de feminicídio registrados em 2017 eram os companheiros ou ex-companheiros das vítimas.
Já quanto a ser agredida na própria casa, o caso de Elaine não é uma exceção no estado do Rio de Janeiro: 75,9% das tentativas de feminicídio registradas em 2017 ocorreram nas residências das vítimas. Já entre os feminicídios consumados, os que foram cometidos nas casas das vítimas somam 57,4% do total.

Atenção

Para a socióloga Jacqueline Pitanguy, diretora-executiva da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), os casos de feminicídio muitas vezes são o ponto final de uma história de violências repetidas, que poderia ter sido interrompida pela atenção de vizinhos, familiares ou do Estado”.
A paisagista Elaine Caparroz
A paisagista Elaine Caparroz foi agredida em casa – Vladimir Platonow /Agência Brasil
“A violência doméstica é uma violência de repetição. Ela nunca é um tapa só, um empurrão só. Ela tem intervalos e até gestos amorosos entre um tapa e outro”, disse a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora, durante muito tempo, as agressões envolvendo relações pessoais eram consideradas assuntos privados. “Quando acontece entre quatro paredes, ou envolvendo um casal que tenha um relacionamento, muitas pessoas dizem que não têm nada com isso”.

Educação

Jaqueline trabalha com a conscientização de jovens sobre o tema e considera que a educação é um fator chave para mudar essa realidade. “É importante uma educação infantil que valorize a mulher como indivíduo com direitos e que eduque o homem para que construa sua masculinidade encontrando nele mesmo seu valor, não se sentindo valorizado somente quando domina e desrespeita uma mulher”, argumentou.
A socióloga afirmou que, muitas vezes, as mulheres se sentem culpadas e não denunciam as agressões. “A educação que muitas mulheres recebem até dentro de casa faz se sentirem sempre desvalorizadas e culpadas por alguma coisa, sempre tendo que servir ao homem. Muitas vezes, ela já leva nela uma carga de subalternidade que a faz receber o primeiro tapa e não denunciar”.

Números

Em 2018, as delegacias do estado do Rio de Janeiro registraram 70 feminicídios e 288 tentativas de feminicídio. Os números superam os registrados em 2017, quando foram contabilizados em boletins de ocorrência 68 feminicídios e 187 tentativas de feminicídio no estado.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro também registra dados sobre o crime. Segundo o Observatório Judicial de Violência Contra a Mulher, 88 novos procedimentos foram iniciados em 2018 para tratar de feminicídios na justiça do Rio, um a menos que em 2017, quando foram 89. Os anos de 2016 e 2015 tiveram, respectivamente, 54 e 22 procedimentos abertos.
A secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Fabiana Bentes, trabalha no momento em uma reestruturação da rede de amparo à mulher, para melhorar a qualidade do atendimento. Entre os objetivos estão ampliar o número de Centros Especializados de Atendimento à Mulher no interior e reforçar a conscientização também entre os agentes do estado, como policiais e profissionais de saúde.
“A área de saúde é fundamental na descoberta ou na potencial investigação, porque aquela mulher que chega ao hospital com uma situação que não é tão grave [quanto um feminicídio], pode ser alertada. Toda a estrutura do estado tem que observar os sinais, porque é muito importante tirar a pessoa do ambiente onde está o agressor”, afirmou Fabiana Bentes
Segundo ela, nos casos de feminicídio no âmbito familiar, é preciso proteger também as crianças filhas das vítimas. “Muitas vezes, o resultado do feminicídio é uma mãe morta, um pai preso e um filho órfão”, disse a secretária.

Vagas

Nomeada para a Subsecretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, a delegada da Polícia Civil Sandra Ornellas disse que tem como um de seus objetivos aumentar o número de vagas em casas de passagem para mulheres vítimas de violência. A delegada disse que muitas vezes as vítimas precisam apenas de um pernoite fora da casa dos agressores para conseguirem se organizar e ir para outro lugar.
No momento, a única casa de passagem mantida pelo estado, em parceria com a prefeitura de Volta Redonda, está fechada, mas as negociações para que ela volte a funcionar já começaram.
“Uma das últimas vezes em que fiquei em uma delegacia, recebemos uma mulher com três filhos, que saiu de casa com a roupa do corpo. Ela passou a noite na delegacia, porque só precisava esperar que o dia amanhecesse, e parentes chegassem da Região dos Lagos para buscá-la”, contou Sandra.
Para ela, a parceria com municípios é uma possibilidade para que mais casas de passagem estejam à disposição dessas mulheres.

Grupos

A subsecretária também trabalha na formulação de uma coordenadoria de enfrentamento ao feminicídio e apoio às vítimas sobreviventes, para reunir outros órgãos e seguir protocolos internacionais para acelerar o combate e a prevenção à essa violência.
“É importante que essa pessoa se fortaleça, para que ela não fique esperando que a pessoa que ela ama pare com esse comportamento. É preciso que ela se fortaleça para romper esse ciclo”, disse.
A delegada defendeu a adoção dos grupos reflexivos para homens, onde agressores participam de um programa de conscientização para desconstruir seu machismo. “Com esses grupos, resolvemos não só o problema dessa mulher, mas de qualquer outra mulher que se relacione com ele”, argumentou.


Por Vinícius Lisboa, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2019

MUDANÇAS CLIMÁTICAS :"ESTAMOS EM UMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA PLANETÁRIA ".


Mudanças Climáticas: ‘Estamos em uma situação de emergência planetária’


Mudanças Climáticas – Pesquisadores refletem sobre dez anos de pesquisa e discutem estratégias para avançar no conhecimento e no convencimento da sociedade sobre as ameaças do aquecimento global

Por Herton Escobar, Jornal da USP
O recado da ciência é claro e já vem sendo dado há algum tempo: o aquecimento global é um problema real, causado pelo homem, com consequências climáticas gravíssimas, e que precisa ser atacado com urgência por todos os países, pelo bem da humanidade.
Mas nunca é demais repetir, o que muitos parecem não querer ouvir: “Estamos numa situação de emergência planetária, ponto”, diz o especialista Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e co-coordenador do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, que recentemente completou dez anos e agora busca renovar sua agenda de pesquisa para a próxima década.
Criado em agosto de 2008, o programa multiplicou por cinco os investimentos da Fapesp em pesquisas sobre mudanças climáticas, de uma média de aproximadamente R$ 4 milhões por ano até 2007, para mais de R$ 20 milhões anuais, desde 2008. O resultado foi um aumento igualmente expressivo da produção científica paulista sobre o tema, de aproximadamente 15 artigos publicados por ano em 2007 para 280 artigos, em 2018 (Figuras 1 e 2); grande parte deles feita em parceria com pesquisadores de outros Estados e países.
“Uma característica dessa área é que ela envolve muita colaboração”, destacou o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, em entrevista ao Jornal da USP. Entre os resultados científicos de maior destaque do programa, segundo ele, estão as previsões de aumento do nível do mar no litoral paulista e a caracterização dos chamados “rios voadores” da Amazônia, que levam umidade da floresta para outras regiões do Brasil.
Valores contratados pela Fapesp para pesquisas sobre mudanças climáticas globais
Evolução da produção científica de autores baseados em São Paulo sobre o tema das mudanças climáticas globais
Figura 1: Valores contratados pela Fapesp para pesquisas sobre mudanças climáticas globais. Figura 2: Evolução da produção científica de autores baseados em São Paulo sobre o tema das mudanças climáticas globais. Em ambos os gráficos é possível notar o aumento a partir de 2008 – Fonte: Diretoria Científica, Fapesp
Ainda assim, mesmo após uma década de pesquisa, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas. Razão pela qual centenas de pesquisadores se reuniram na semana passada (dias 20 e 21), na sede da Fapesp, para fazer uma reflexão sobre a primeira década do programa e, em cima disso, iniciar um processo de revisão e planejamento de prioridades para os próximos dez anos.
Além da necessidade de aprofundar o conhecimento científico sobre diversos fenômenos naturais ligados às mudanças climáticas, um dos principais desafios identificados pelos pesquisadores na reunião foi a necessidade de uma melhor comunicação com a sociedade (e com seus atores econômicos e políticos) sobre os riscos e os impactos associados a essas mudanças — principalmente no que diz respeito aos impactos locais e sociais, que afetam diretamente a vida das pessoas.
“Vocês acham que alguém vai mudar seu estilo de vida por causa de urso polar?”, desafiou o médico Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e professor da Faculdade de Medicina da USP. Segundo ele, a ciência precisa inovar na forma de se comunicar com a sociedade sobre o tema das mudanças climáticas, apostando em narrativas que combinem desafios globais com benefícios locais e individuais. Por exemplo, destacando os efeitos da poluição urbana sobre a saúde pública. “As pessoas mudam de comportamento mais quando vão para a UTI do que para a igreja”, disse. “Temos que fazer a mensagem chegar no cidadão, se não vamos continuar sempre pregando para convertidos.”
as zonas noroeste (em verde) e sudeste (azul) de Santos serão as mais afetadas pela elevação do nível do mar
Acima, as zonas noroeste (em verde) e sudeste (azul) de Santos serão as mais afetadas pela elevação do nível do mar, segundo pesquisa publicada em 2018 – Fotos: Reprodução Google Earth / Projeto Metrópole via revista Pesquisa Fapesp
Simulações de inundação por elevação do nível do mar em Santos
Simulações de inundação por elevação do nível do mar em Santos – Fotos: Reprodução Google Earth / Projeto Metrópole via revista Pesquisa Fapesp
“Precisamos de excelência na ciência e também na comunicação com a sociedade, que sofre os impactos desse fenômeno”, disse Brito Cruz, segundo a Agência Fapesp. “Não é questão de opinião, é uma questão comprovada por pesquisa, medição, teste e verificação há muitos anos por cientistas em todo o mundo. O que eu percebo é que nós, brasileiros, mas também cientistas americanos, franceses e ingleses, não estamos conquistando os corações e mentes.”
Fator humano
Pesquisadores de diversas áreas, da biologia marinha à agricultura, exaltaram a necessidade de uma maior interação com as ciências sociais, no sentido de olhar não somente para a atmosfera, para os oceanos e as florestas, mas também para os seres humanos, e para a maneira como eles interagem com esses sistemas naturais — uma interação que muitas vezes passa despercebida, pelo fato da maior parte das pessoas viver hoje nas cidades.
José Antonio Puppim de Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas, especialista em economia política do desenvolvimento sustentável, destacou que mais de 70% das emissões de carbono no mundo estão ligadas a atividades de produção e consumo nas cidades. O Estado de São Paulo, por exemplo, é o maior consumidor de madeira tropical do mundo, o que acaba contribuindo para o desmatamento da Amazônia e para as emissões de carbono resultantes desse desmatamento.
O enfrentamento do aquecimento global, portanto, passa obrigatoriamente por uma série de mudanças nos padrões de comportamento social, econômico e político, que equivalem a uma “revolução copernicana no funcionamento do mundo”, disse a pesquisadora Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política e diretora do Centro de Estudos da Metrópole da USP. Mudanças estas que, segundo ela, costumam ocorrer num ritmo muito mais lento do que o necessário para responder ao desafio imediato das mudanças climáticas. “A literatura mostra que apenas em situações de guerra há mudanças estruturais de comportamento capazes de gerar respostas rápidas”, disse. A situação é agravada aqui pelo fato de que “a maior parte das cidades brasileiras ainda está no século 19”, destacou Marta, mostrando mapas do atraso nacional na universalização de serviços básicos, como coleta de esgoto e tratamento de água.
Torre Atto ajuda nos estudos sobre mudanças climáticas na Amazônia
Torre Atto ajuda nos estudos sobre mudanças climáticas na Amazônia. Vários estudos feitos na torre são financiados pela Fapesp – Foto: Divulgação / Ascom Inpa
No ambiente rural também é preciso trabalhar com novas narrativas e novas abordagens de pesquisa, disse o pesquisador Giampaolo Pellegrino, coordenador do Portfólio de Pesquisa em Mudanças Climáticas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo ele, é importante que as pesquisas busquem não apenas identificar novos problemas, mas também apresentar soluções para os problemas que já são conhecidos e que impactam diretamente a vida do produtor rural.
“O que comove o agricultor não é baixar emissões de carbono, é se manter na atividade; é produzir”, disse Pellegrino, criticando o uso de narrativas que simplesmente jogam a culpa pelo aquecimento global na agricultura. Do ponto de vista técnico, ele cobrou o desenvolvimento de modelos climáticos mais customizados ao cenário brasileiro. “Somos muito prejudicados pelos modelos globais do IPCC que não refletem a realidade nacional”, disse, referindo-se ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas — colegiado internacional de cientistas que estuda o tema, vinculado às Nações Unidas.
Modelagem
A necessidade de melhorar a capacidade de modelagem nacional foi um dos tópicos prementes da reunião, que certamente aparecerá na lista de prioridades do programa para os próximos anos. “A ciência das mudanças climáticas está cada vez mais baseada em modelos”, disse o pesquisador Marcos Heil Costa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Interação Atmosfera-Biosfera da Universidade Federal de Viçosa (UFV). “Hoje em dia tudo é modelagem”, afirmou. O termo refere-se ao uso de computadores para simular sistemas complexos e, dessa forma, fazer diagnósticos e previsões sobre o comportamento do clima e outras variáveis.
Costa também enfatizou a necessidade da busca de soluções. “A gente já sabe que o cenário é catastrófico”, disse. O desafio maior agora, segundo ele, é encontrar maneiras de evitar que essas mudanças catastróficas aconteçam, ou pelo menos se adaptar a elas. “Como desviar dessa bala? A gente ainda não tem essa resposta.”
Gases de combustão lançados por chaminés
Gases de combustão lançados por chaminés – Foto: Pixabay-CC
O físico José Goldemberg destacou a necessidade de zelar pela sustentabilidade da matriz energética brasileira, que teve sua reputação parcialmente manchada nos últimos anos pela “má gestão dos reservatórios” das hidrelétricas — forçando, por consequência, o acionamento de usinas termelétricas, movidas a combustíveis fósseis, com alta emissão de carbono. Algumas hidrelétricas recentes foram feitas de forma “desastrosa”, segundo ele, incluindo a de Belo Monte, na Amazônia. Para Goldemberg, o aumento da população e da demanda por energia elétrica representa uma encruzilhada para o País: ou melhora-se o planejamento e o gerenciamento das hidrelétricas (energia limpa), ou aumenta-se o uso de termelétricas (energia suja). “É um problema científico”, disse.
Os biocombustíveis também não poderiam ficar fora do cardápio. Um estudo publicado no ano passado estimou que o etanol de cana-de-açúcar brasileiro tem potencial para substituir cerca de 14% do petróleo consumido no mundo atualmente, sem competir por terras com a produção de alimentos ou a conservação ambiental. “Os biocombustíveis têm de ser considerados seriamente para uma transição rápida (da matriz energética)”, disse a pesquisadora Glaucia Souza, professora do Instituto de Química da USP e coordenadora do Programa Fapesp de Bioenergia (Bioen).
Planejamento
Ao final das apresentações, os cientistas se reuniram em cinco grandes grupos temáticos para a produção de relatórios, com recomendações, que serão discutidas numa série de workshops ao longo dos próximos dois meses, para a concepção do novo “plano científico” do programa.
Usina termoelétrica em Camaçari, Bahia
Usina termoelétrica em Camaçari, Bahia – Fotos Gov/Ba via Wikimedia Commons
A revisão ocorre num momento de mudanças significativas no posicionamento político do Brasil sobre o tema das mudanças climáticas, no sentido de minimizar ou até mesmo negar a gravidade do problema. Seguindo o exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro criticou diversas vezes o Acordo de Paris (acordo internacional de combate ao aquecimento global) e, antes mesmo de tomar posse, retirou a oferta do Brasil de sediar a reunião deste ano da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 25). Uma atitude que repercutiu muito mal no cenário internacional, segundo Thelma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e vice-presidente do IPCC. “Foi uma sinalização muito negativa”, disse. “Agora temos que tentar melhorar nossa imagem lá fora. Não está fácil.”
Em contraponto a alguns de seus colegas de Esplanada, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse em entrevista ao Jornal da USP que as mudanças climáticas representam “um dos maiores desafios da humanidade” e que o Brasil não pode se dar ao luxo de ignorá-las. “Está claro para nós que esse problema vai muito além da questão ambiental”, disse o coordenador geral de Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Márcio Rojas da Cruz, que acompanhou a reunião da Fapesp. O papel da ciência nesse processo, segundo ele, “é capital”.

Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2019

TIGRES ASIÁTICOS : O SUCESSO DA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO.

O sucesso da estratégia de desenvolvimento dos Tigres Asiáticos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

renda per capita em preços correntes: EUA, UE, ALC e Tigres Asiáticos
[EcoDebate] A estratégia de desenvolvimento dos Tigres Asiáticos pode ser considerada um caso de sucesso na conquista de melhores condições econômicas e sociais para o conjunto da população e para a soberania nacional. Ao contrário da América Latina e Caribe (ALC) que adotou uma estratégia de “substituição de importações”, o modelo implementado por Hong Kong, Singapura, Taiwan e Coreia do Sul (os 4 Tigres Asiáticos ou NIC: Newly Industrialized Country) se mostrou mais efetivo e mais vitorioso na conquista de alto padrão de vida para seus habitantes.
O gráfico acima, com base em dados do FMI (em poder de paridade de compra – ppp), mostra que em 1980 a renda per capita dos EUA era de US$ 12,7 mil, da União Europeia (UE) era de US$ 9,1 mil, Singapura de US$ 8,9 mil, Hong Kong de US$ 12,7 mil, ALC de US$ 4,6 mil, Taiwan de US$ 3,5 mil e da Coreia do Sul de somente US$ 2,2 mil. A média da renda per capita dos 4 Tigres era de US$ 3,5 mil. Portanto, os Tigres Asiáticos tinham, na média, renda per capita abaixo da renda da ALC e bem abaixo da renda per capita dos EUA e da União Europeia.
Contudo, a situação mudou muito em quatro décadas. Os dados do FMI para 2020 indicam que Singapura com renda per capita de US$ 105,8 mil e Hong Kong com renda de US$ 70,4 mil já ultrapassaram a renda per capita dos EUA (US$ 66,6 mil) e da União Europeia (US$ 46,5 mil). Taiwan (US$ 56,5 mil) atingiu renda pouco abaixo dos EUA e acima da UE. A Coreia do Sul (US$ 45,3 mil) ainda tem renda abaixo daquela dos EUA, mas aproximadamente igual da UE. Já a ALC que estava à frente de Taiwan e Coreia do Sul, atualmente mantém uma distância bastante significativa, mostrando que as opções adotadas pela região não deram resultados positivos. Em 2020, a renda per capita média dos 4 Tigres Asiáticos deve ficar em US$ 54,3 mil contra apenas US$ 17,6 mil da ALC (e um valor ainda menor para a renda per capita do Brasil)
Entre 1980 e 2020, a renda per capita, a preços correntes, se multiplicou por 20,7 vezes na Coreia do Sul, 16,3 vezes em Taiwan, 12 vezes em Singapura e 10,4 vezes em Hong Kong. Os 4 Tigres em conjunto tiveram um aumento de 17,2 vezes na renda per capita. Já os EUA tiveram um aumento de 5,3 vezes e a União Europeia de 5,1 vezes. O pior desempenho foi da ALC com aumento de somente 3,8 vezes no período. O desempenho do Brasil foi muito parecido com a média da ALC, mas o aumento da renda entre 1980 a 2020 foi de 3,6 vezes, um pouco pior do que a média da região.
O desempenho positivo dos Tigres Asiáticos não se limitou ao lado econômico. Em termos demográficos as conquistas foram ainda maiores. A mortalidade infantil, no quinquênio 1950-55, era de 142 por mil no mundo, 136 por mil no Brasil, 138 por mil na Coreia do Sul, 79 por mil em Taiwan, 72 por mil na Europa, 62 por mil em Hong Kong, 61 por mil em Singapura e 30 por mil nos EUA. Ainda em 1950-55, a esperança de vida ao nascer (Eo) era de 47 anos no mundo, 48 anos na Coreia do Sul, 50,8 anos no Brasil, 58,2 anos em Taiwan, 60,2 anos em Singapura, 63,2 anos em Hong Kong, 63,7 anos na Europa e 78,7 anos nos EUA. Portanto, a Europa e os EUA tinham indicadores demográficos melhores do que os Tigres Asiáticos e muito melhores do que o Brasil e o mundo.
Mas no quinquênio 1970-75, conforme mostra o gráfico abaixo, com base em dados da Divisão de População da ONU, os Tigres Asiáticos já tinha mortalidade infantil (entre 15 e 25 por mil) e esperança de vida ao nascer (em torno de 70 anos) próximos dos EUA e da Europa, enquanto o Brasil e a média mundial ainda tinha mortalidade infantil acima de 90 por mil e esperança de vida ao nascer na casa dos 60 anos.
Entre o quinquênio 1970-75 e 2015-20 o salto dos Tigres Asiáticos foi impressionante, especialmente da Coreia do Sul que passou Taiwan, Europa e os EUA tanto nos indicadores de mortalidade infantil quando de esperança de vida. A mortalidade infantil de Hong Kong é a menor do mundo com apenas 1 morte em mil nascimentos. Singapura e Coreia do Sul somente 2 mortes por mil. Taiwan e Europa 4 mortes por mil. EUA 5 por mil. Brasil 13 por mil e o mundo 31 por mil.
mortalidade infantil e esperança de vida: Tigres Asiáticos, Europa e EUA
Em termos de esperança de vida ao nascer, no quinquênio 2015-20, Hong Kong (com 84,2 anos) é a campeã mundial em longevidade. Os outros Tigres possuem esperança de vida ao nascer entre 80,2 e 83,3 anos, enquanto a Europa e os EUA ficam entre 78 e 79 anos. O Brasil com 75,8 anos e o mundo com 72 anos.
Indubitavelmente, os Tigres Asiáticos realizaram conquistas econômicas e sociais de grande monta e superaram, não só o Brasil e a América Latina, mas superaram também a Europa e os Estados Unidos. Os Tigres Asiáticos e, especialmente, Singapura serviram de inspiração e modelo para as reformas de Deng Xiaoping na China, que replicou muitas das medidas adotadas pelos chamados NICs.
Todavia, o modelo adotado pelos Tigres Asiáticos foi motivo de muita crítica por parte da esquerda da América Latina e dos teóricos da dependência na década de 1970 e início da década de 1980. Os críticos diziam mais ou menos o seguinte: “O modelo adotado pelos Tigres Asiáticos não passa de uma plataforma de exportação a serviço das grandes multinacionais ocidentais. Os lucros obtidos pelas indústrias nesses países ocorrem, principalmente, em virtude do exército industrial de reserva, ou seja, grande quantidade de mão de obra barata disponível no mercado, sendo que esse processo ocasiona a desvalorização dos salários pagos pelos detentores do meio de produção. Esse fato é acompanhado por leis trabalhistas frágeis e pouco atuantes, outros fatores que contribuíram para o elevado crescimento foram os incentivos tributários e os baixos custos para a instalação de empresas oriundas de capitais externos aumentando a dependência. A superexploração da mão-de-obra condena estes países ao atraso e ao subdesenvolvimento”.
Porém, a realidade mostrou que os Tigres Asiáticos venceram e superaram não só os países subdesenvolvidos, mas até a maioria dos países desenvolvidos. Os críticos estavam errados e mostraram que não estavam entendendo o que acontecia no leste asiático. O Brasil e a ALC ficaram totalmente atrasados em relação aos Tigres Asiáticos em termos econômicos, demográficos, sociais, de segurança pública e de soberania nacional.
Evidentemente, o sucesso no desenvolvimento humano traz prejuízos no plano ambiental. Mas, por exemplo, Hong Kong e Singapura – que são cidades-estados – possuem indicadores ambientais melhores do que outras cidades do mesmo porte.
De maneira pioneira, há também autores que perceberam as potencialidades do modelo dos NICs e os equívocos do modelo de “substituição de importações”. Fajnzylber (1981) foi um dos economistas pioneiros na percepção das vantagens do modelo adotado pelos Tigres Asiáticos. Outros autores como John Page (1994) e André Nassif (2005) também foram além do simplismo das análises latino-americanas que defendiam o modelo de “substituição de importações”. De modo sintético, podemos resumir os principais pontos que possibilitaram o sucesso dos Tigres Asiáticos:
1) Modelo de crescimento liderado pelas exportações: isto possibilita que a estrutura produtiva consiga uma competitividade externa e interna e que o país possa evitar crises cambiais, pois tem capacidade de geração de divisas;
2) Manutenção de altas taxas de investimento que permitem a renovação e a atualização permanente da estrutura produtiva, de infraestrutura, ao mesmo tempo que eleva a complexidade e a produtividade geral da economia, o que favorece o aumento dos lucros e dos salários;
3) Manutenção de altas taxas de poupança, garantindo os recursos nacionais para manter as altas taxas de investimento e a formação de capital nacional e a capitalização das famílias;
4) Em termos demográficos avançaram rapidamente na transição demográfica (reduzindo as taxas de mortalidade e natalidade) e puderam colher o bônus demográfico em decorrência de uma estrutura etária favorável;
5) Investimento na universalização da educação e na qualidade do ensino, permitindo a formação de capital humano e um grande avanço da ciência e tecnologia;
6) Investimento no pleno emprego e no trabalho decente, aproveitando todo o potencial produtivo da força de trabalho e mantendo o desemprego e o subemprego em níveis baixos, além de baixos níveis de violência;
7) Criação de políticas visando combater as desigualdades sociais e garantindo um baixo índice de Gini de desigualdade de renda. Forte presença do Estado nas políticas públicas, mas sem sufocar a livre iniciativa e a eficiência alocativa do mercado;
8) Estabilidade econômica, com inflação sob controle, baixas taxas de juros, câmbio competitivo e facilidade na organização empresarial, além de sinergia entre as diversas forças do sistema produtivo.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Referências:
Fernando Fajnzylber. “Reflexiones sobre la industrialización exportadora del Sudeste Asiático”, REVISTA DE LA CEPAL N.° 15 / Diciembre de 1981
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/10243/015117138_es.pdf?sequence=1&isAllowed=y
John Page. The East Asian Miracle: Four Lessons for Development Policy. NBER, Jan 1994
http://www.nber.org/chapters/c11011
André Nassif. Estratégias de Desenvolvimento em Países de Industrialização Retardatária: Modelos Teóricos, a Experiência do Leste Asiático e Lições para o Brasil, Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V. 12, N. 23, P. 135-176, Jun. 2005
https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/11457/2/RB%2023%20Estrat%C3%A9gias%20de%20Desenvolvimento%20em%20Pa%C3%ADses%20de%20Industrializa%C3%A7%C3%A3o%20Retardat%C3%A1ria_Modelos%20Te%C3%B3ricos_P_BD.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2019

O CARNAVAL NÃO DEVE FICAR DE FORA.


Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza


Três sambas-enredo campeões sobre natureza

Para especialista, assuntos relacionados ao meio ambiente e à conservação devem estar presentes em agendas políticas, culturais e de educação. O carnaval não deve ficar de fora
A natureza e a conservação do meio ambiente sempre foram fontes de inspiração para vários compositores e carnavalescos. O tema já inspirou sambas de escolas tradicionais que desfilaram pela Marquês de Sapucaí e no Anhembi e trouxeram ao público a importância sobre o debate das questões ambientais.
“No momento em que as manifestações culturais abordam temas relacionados ao meio ambiente, temos a chance de conscientizar mais pessoas sobre o papel da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos para o homem”, explica a ecóloga, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Marcia Marques.
De acordo com a especialista, as manifestações culturais são excelentes momentos para provocar uma reflexão para a conservação da natureza. “Em um país com a maior biodiversidade do mundo, é fundamental que assuntos relacionados ao meio ambiente e à conservação estejam inseridos nas agendas políticas, culturais e de educação. O carnaval, de certa maneira, contribui com isso”, analisa.
Em 2019, a importância da natureza e o alerta para a conservação não estão entre as principais fontes de inspiração para as escolas de samba dos grupos especiais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Apenas a Mocidade Alegre sinalizou que retratará o Rio Amazonas em meio à lenda indígena Ayakamaé no sambódromo paulista.

Lista
Falar sobre elementos naturais e a importância da conservação já ajudou algumas escolas a vibrarem com o grito de “campeã”. Conheça três sambas-enredo sobre natureza que conquistaram o público e venceram o carnaval:

1.“Chuê, Chuá, as águas vão rolar” (Mocidade Independente de Padre Miguel – 1991)
No início da década de 1990, a escola de samba de Padre Miguel escolheu como tema o recurso natural mais importante do planeta. A Mocidade falou da água como fonte da vida, o uso no dia a dia e exaltou cachoeiras, mares e rios. Com o samba-enredo, a escola garantiu o bicampeonato na Sapucaí.
“É no Chuê, Chuê
É no Chuê, Chuá
Não quero nem saber, as águas vão rolar.
É no Chuê, Chuê
É no Chuê, Chuá
Pois a tristeza já deixei pra lá!

Da vida sou a fonte de energia
Sou chuva, cachoeira, rio e mar
Sou gota de orvalho, sou encanto
E qualquer sede posso saciar.”

2.“Amazônia, a Dama do Universo” (X-9 Paulistana – 1997)
Nesse samba-enredo, a escola paulista falou sobre os mistérios e a magia que envolve a região amazônica. Relembrou a época da borracha e a exploração das seringueiras. A agremiação também destacou as riquezas naturais da região, como as águas e o guaraná, e provocou uma reflexão sobre a importância da preservação dos recursos naturais.
“É boi-bumbá (olha o boi, olha o boi)
Esse boi é garantido e caprichoso
Descendo o rio de Manaus a Parintins
Tudo isso é maravilhoso.

Temos que usar a consciência
E despertar para um futuro promissor,
Preservando a natureza
Pra nossa vida ter valor.”

3.“Manôa, Manaus, Amazônia, Terra Santa: Alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz” (Beija-Flor – 2004)
Uma das maiores campeãs do carnaval carioca, a Beija-Flor levou a Amazônia para o sambódromo em 2004, mostrando o verde das florestas e alertando sobre a destruição da natureza ao longo dos anos. O massacre dos índios na região e o perigo das queimadas também foi retratado pela escola, que destacou a importância da conservação da natureza e da Amazônia.
“Força, mistério e magia
Fruto da energia, o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê, cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá
Viva a Paris Tropical

Água que lava minh´alma
Ao matar a sede da população
Caboclo ê a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé

Se Deus me deu, vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
A Amazônia é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor.”

Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

NÚMERO DE REFUGIADOS E MIGRANTES DA VENEZUELA NO MUNDO ATINGE 3,4 MILHÕES.

Número de refugiados e migrantes da Venezuela no mundo atinge 3,4 milhões


O número de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo atualmente é de 3,4 milhões, informaram nesta sexta-feira (22) a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A Colômbia abriga o maior número de refugiados e migrantes da Venezuela, com mais de 1,1 milhão. O país é seguido por Peru, com 506 mil; Chile, 288 mil; Equador, 221 mil; Argentina, 130 mil; e Brasil, 96 mil. México e países da América Central e do Caribe também recebem um número significativo de refugiados e migrantes venezuelanos.
“Os países da região demonstraram uma tremenda solidariedade aos refugiados e migrantes da Venezuela e implementaram soluções engenhosas para ajudá-los. Mas esses números ressaltam a pressão sobre as comunidades anfitriãs e a necessidade contínua de apoio da comunidade internacional, num momento em que a atenção mundial está voltada para os acontecimentos políticos dentro da Venezuela”, disse Eduardo Stein, representante especial de ACNUR-OIM para refugiados e migrantes venezuelanos.
De acordo com dados das autoridades nacionais de migração e outras fontes, os países da América Latina e do Caribe abrigam cerca de 2,7 milhões de venezuelanos. Foto: OIM
De acordo com dados das autoridades nacionais de migração e outras fontes, os países da América Latina e do Caribe abrigam cerca de 2,7 milhões de venezuelanos. Foto: OIM
O número de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo atualmente é de 3,4 milhões, informaram nesta sexta-feira (22) a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com dados das autoridades nacionais de migração e outras fontes, os países da América Latina e do Caribe abrigam cerca de 2,7 milhões de venezuelanos, enquanto outras regiões respondem pelo restante.
Em média, durante 2018, cerca de 5 mil pessoas deixaram a Venezuela todos os dias em busca de proteção ou de uma vida melhor.
A Colômbia abriga o maior número de refugiados e migrantes da Venezuela, com mais de 1,1 milhão. O país é seguido por Peru, com 506 mil; Chile, 288 mil; Equador, 221 mil; Argentina, 130 mil; e Brasil, 96 mil. México e países da América Central e do Caribe também recebem um número significativo de refugiados e migrantes venezuelanos.
“Os países da região demonstraram uma tremenda solidariedade aos refugiados e migrantes da Venezuela e implementaram soluções engenhosas para ajudá-los. Mas esses números ressaltam a pressão sobre as comunidades anfitriãs e a necessidade contínua de apoio da comunidade internacional, num momento em que a atenção mundial está voltada para os acontecimentos políticos dentro da Venezuela”, disse Eduardo Stein, representante especial de ACNUR-OIM para refugiados e migrantes venezuelanos.
Os países latino-americanos concederam cerca de 1,3 milhão de permissões de residência e outras formas de status regular aos venezuelanos e reforçaram seus sistemas de refúgio para processar um número sem precedentes de pedidos. Desde 2014, mais de 390 mil pedidos de refúgio foram apresentados por venezuelanos, mais de 232 mil só em 2018.
Com números crescentes, as necessidades de refugiados e migrantes da Venezuela e das comunidades que as abrigam continuam aumentando. Os governos da região fortaleceram sua resposta nacional e estão cooperando – através do processo de Quito – para melhorar a assistência e a proteção dos cidadãos venezuelanos e facilitar sua inclusão legal, social e econômica. A próxima reunião regional deste processo será realizada em Quito na primeira semana de abril.
Para complementar esses esforços, um Plano Regional Humanitário de Resposta a Refugiados e Migrantes (RMRP) da Venezuela foi lançado em dezembro passado, visando 2,2 milhões de venezuelanos e 500 mil pessoas em comunidades de acolhimento em 16 países.
Fonte : ONUBrasil

PROGRAMA DA ONU FIRMA PARCERIA COM MARICÁ PARA ENFRENTAR EXTREMA POBREZA.

Programa da ONU firma parceria com Maricá para enfrentar extrema pobreza


Para apoiar os esforços de Maricá (RJ) na eliminação da extrema pobreza, o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) firmou neste mês (7) uma parceria com a Prefeitura do município e o Instituto Darcy Ribeiro. Cooperação visa mobilizar as diferentes secretarias do Executivo local para ampliar o acesso a serviços como saúde, educação e condições de vida.
Vista aérea de Maricá (RJ). Foto: Flickr (CC)/Bruno Figueiredo
Vista aérea de Maricá (RJ). Foto: Flickr (CC)/Bruno Figueiredo
Para apoiar os esforços de Maricá (RJ) na eliminação da extrema pobreza, o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) firmou neste mês (7) uma parceria com a Prefeitura do município e o Instituto Darcy Ribeiro. Cooperação visa mobilizar as diferentes secretarias do Executivo local para ampliar o acesso a serviços como saúde, educação e condições de vida.
A proposta da colaboração é implementar uma abordagem integrada das necessidades da população, atendendo aos moradores mais vulneráveis da cidade, localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Maricá já conta com políticas que promovem, por exemplo, o acesso universal ao transporte público, como a tarifa zero em ônibus que passaram a ser operados por empresa estatal em 2014.
Outro exemplo de política pública é o uso da moeda social Mumbuca, que leva serviços financeiros para a população e também complementa a renda, oferecendo um auxílio financeiro que pode ser usado para comprar produtos de negócios cadastrados. O objetivo é ampliar o poder aquisitivo do cidadão e, ao mesmo tempo, fomentar a economia local.
Maricá marcado em vermelho no mapa do estado do Rio de Janeiro. Imagem: Wikimedia Commons/Raphael Lorenzeto de Abreu
Maricá marcado em vermelho no mapa do estado do Rio de Janeiro. Imagem: Wikimedia Commons/Raphael Lorenzeto de Abreu
A articulação com o ONU-Habitat deve fortalecer e assessorar as instituições no levantamento, gestão e sistematização de dados. Com a cooperação, o Executivo municipal alinha a sua atuação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), em especial o ODS nº 11 — tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
A cerimônia de assinatura do memorando da parceria teve a participação do prefeito Fabiano Horta, do diretor regional para América Latina e Caribe do ONU-Habitat, Elkin Velásquez, e de funcionários técnicos e representantes de diferentes órgãos municipais de Maricá.
O organismo das Nações Unidas tem a expectativa de que o trabalho conjunto vai orientar as políticas públicas e os processos decisórios com base em evidências, seguindo o lema da Agenda 2030 da ONU e seus 17 ODS — “não deixar ninguém para trás”.
Fonte : ONUBrasil

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

ESPERANÇA E DESAFIOS PARA OS ECOSSISTEMAS MARINHOS MUNDIAIS.


Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
Esperança e desafios para os ecossistemas marinhos mundiais

*Hudson Pinheiro

A redução da perda da biodiversidade e a promoção do uso sustentável de recursos naturais é um compromisso global assumido por 140 nações signatárias da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O tratado internacional tem relação com o 14º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visa a adoção de medidas para preservar e usar de forma sustentável oceanos, mares e recursos marinhos até 2020. Contudo, diante da atual crise da biodiversidade, os objetivos são ousados.
Um dos temas mais debatidos recentemente está relacionado com a cobertura de unidades de conservação marinha (UCM). Estabelecer esse tipo de área é uma das melhores estratégias para a conservação da biodiversidade e sustentabilidade dos recursos marinhos, pois envolve o manejo a nível de ecossistema. Entretanto, um dos maiores desafios é criar e manejar UCMs em áreas prioritárias para a conservação, pois normalmente estas são áreas de alta diversidade biológica e de alto conflito de usos, onde diversas atividades humanas são praticadas. Ambientes costeiros como mangues, recifes de coral e costões rochosos são os mais vulneráveis.
A melhor estratégia para se remediar a perda da biodiversidade marinha seria focar na proteção do máximo de espécies ameaçadas ecossistemas por área protegida. A conservação da biodiversidade e sustentabilidade dos recursos depende de unidades de conservação conectadas e que abriguem, de forma homogênea, a diversidade de ecossistemas presentes ao longo da linha costeira.
O manejo pesqueiro e o controle da sobrepesca são vistos como um dos principais objetivos do ODS 14. Uma das estratégias é a valorização da pesca artesanal e o controle de atividades pesqueiras destrutivas, que causam danos aos ecossistemas e que não possuem seletividade nas capturas. Entretanto, muitos países, incluindo o Brasil, caminham em sentido contrário, criando subsídios para pesca industrial e removendo benefícios de pescadores de pequena escala.
Alternativas envolvem o estabelecimento de territórios tradicionais de pesca, onde somente pescadores locais possam pescar, o que tornaria mais fáceis o manejo e o controle do esforço de pesca. O ordenamento e a fiscalização da captura de espécies ameaçadas de extinção tamanhos mínimos de capturas também são passos importantes para se atingir os objetivos.
A poluição dos mares e o aquecimento global são problemas graves que estão chamando bastante a atenção da sociedade. A ingestão de plásticos tem causado a morte de milhares de animais marinhos anualmente e o aquecimento dos oceanos tem causado o branqueamento a morte de ecossistemas de coral em todo o mundo. Atividades portuárias desenvolvem dragagens periódicas e despejam toneladas de sedimento sobre os ambientes costeiros, soterrando grandes áreas de habitats naturais.
Em vez de aplicar leis mais restritivas, visando a qualidade de vida humana e saúde ambiental, países em desenvolvimento como o Brasil estão afrouxando as regras para empresas poluidoras. Como consequência, impactos e desastres ambientais são frequentes, o que acelera a perda da biodiversidade e de oportunidades de desenvolvimento sustentável.
Apesar dos desafios, temos esperança. O grande número de nações comprometidas com os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica é um considerável sinal positivo. Alguns países como Palau e Costa Rica estão dando exemplo de desenvolvimento sustentável proteção da biodiversidade. Países em desenvolvimento, como Brasil, China e Filipinas, estão comprometidos em financiar iniciativas de proteção e manejo dos ecossistemas costeiros.
A participação de pescadores no manejo e na conservação dos recursos marinhos tem gerado resultados positivos e o Projeto Tamar, no Brasil, é referência mundial nesse tema. Estados como Califórnia e São Paulo têm criado áreas marinhas protegidas ao longo de suas zonas costeiras com o potencial de desenvolvimento sustentável de atividades pesqueiras e turismo. Países e empresas estão investindo na proteção de ambientes costeiros, visando a diminuição de estragos causados por distúrbios ambientais, como tempestades e enchentes. Essas e outras iniciativas inspiradoras foram apresentadas recentemente no artigo “Hope and doubt for the world's marine ecosystems”, publicado pelo periódico científico Perspectives in Ecology and Conservation.
Uma vez que grande parte da população vive perto da zona costeira, o investimento em educação ambiental é necessário para engajar a sociedade na luta para a manutenção de sua própria qualidade de vida e dos serviços ecossistêmicos providenciados pelos oceanos. Cientistas, cidadãos e tomadores de decisão precisam trabalhar juntos para multiplicar essas iniciativas positivas e reforçar a esperança para a conservação e sustentabilidade da biodiversidade e ecossistemas marinhos no Brasil e no mundo.

* Hudson Pinheiro é mestre em Oceanografia, doutor em Ecologia e Evolução, cientista da Academia de Ciências da Califórnia e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

Sugestão : larissa@centralpress.com.br