terça-feira, 29 de março de 2022

A POBREZA É REAL TRAGÉDIA NOS EXTREMOS CLIMÁTICOS.

 desastre em Petrópolis

Deslizamento em Petrópolis, fevereiro de 2022. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A pobreza é a real tragédia nos extremos climáticos, artigo de José Ricardo Bandeira

“Logicamente, a culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente um olhar mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde por trás de uma tragédia[…]”

O mundo inteiro sofre com tragédias causadas por eventos climáticos como furacões, tempestades, terremotos e tantos outros, porém, na grande maioria dos países, essas tragédias normalmente não causam nada além de prejuízos materiais. Já no Brasil, tragédias como a que ocorreu em Petrópolis causam centenas de mortos, em sua maioria de cidadãos pobres que habitam em áreas de risco.

Logicamente, a culpa sempre recai sobre a mãe natureza, mas certamente um olhar mais atento e imparcial pode revelar a crueldade social que se esconde por trás de uma tragédia aparentemente “natural” e, mais do que isso, para a falta de políticas publicas e incompetência dos governos municipais, estaduais e federal para impedir que isso ocorra.

Tudo começa por falta de políticas publicas que deveriam abranger a geração de emprego e renda, projetos habitacionais, educacionais, de saúde e de melhoria dos transportes, e por isso famílias pobres ocupam ilegalmente áreas de risco para construírem suas habitações.

Isso mesmo, geralmente as favelas se formam para que o trabalhador e suas famílias possam ficar mais próximos dos locais de trabalho e dos serviços públicos essenciais que lhe são negados nas áreas mais distantes, deixando exposto o primeiro erro da administração publica, que é a ausência total de políticas publicas sérias que possam reverter este fenômeno.

Depois, o gestor publico comete o crime de omissão, pois não cumpre o seu papel de fiscalização impedindo tais ocupações de acontecerem, permitindo a criação dessas comunidades em áreas de alto risco, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, uma tragédia acontecerá, porém “desde que a tragédia ocorra no governo de seu sucessor” isso não é um problema para ser pensado agora.

E assim, entra mandato, sai mandato e as comunidades vão crescendo em velocidades alucinantes, sem ordenação, sem saneamento básico, sem um plano de prevenção e controle de catástrofes e sem medidas que poderiam minimizar os efeitos dos eventos climáticos.

Infelizmente, até hoje no Brasil inexistem dispositivos legais para que o judiciário possa penalizar a administração pública por tais tragédias e pelos mortos, ressarcindo as suas famílias e obrigando os gestores a promover a realocação dessas comunidades para locais seguros, e logicamente tais dispositivos inexistem porque os políticos sequer apresentam ou aprovam leis capazes de punir a si próprios pela omissão, descaso e morte de cidadãos.

Todos esses fatores fazem com que a verdadeira tragédia no Brasil seja ser pobre e privado dos serviços básicos, ser invisível aos olhos dos políticos, que somente visitam essas áreas em busca de votos a cada dois anos, sempre com falsas promessas e que se escondem em seus gabinetes quando a tragédia ocorre.

E de tragédia em tragédia vamos escrevendo essas cruéis páginas de sangue, dor e sofrimento na história de nosso país.

Prof. José Ricardo Bandeira é Perito em Criminalística e Psicanálise Forense, Comentarista e Especialista em Segurança Pública

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/03/2022

O MENOR NÍVEL DE GELO MARINHO NA ANTÁRTIDA E O ALERTA DO IPCC.

O menor nível de gelo marinho na Antártida e o alerta do IPCC, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O degelo da Antártida já começou e apenas 5% de perda será suficiente para inundar grandes áreas urbanas e rurais. A maior parte do litoral brasileiro está ameaçado pelas inundações

“Em nossa opinião, a evidência dos pontos de inflexão sugere que estamos em um estado
de emergência planetária: tanto o risco quanto a urgência da situação são acentuados”
Timothy Lenton (27/11/2019)

O gelo marinho ao redor da Antártida apresentou o menor nível de todos os tempos, desde que começaram as medições por satélite. A camada de gelo que congela sobre o Oceano Antártico estava aumentando nas últimas décadas do século XX, enquanto o gelo no resto do mundo diminuía devido às mudanças climáticas. Mas no final de fevereiro de 2022, pela primeira vez, a extensão do gelo marinho ficou abaixo de 2 milhões de km2. O mapa abaixo mostra que a quantidade média de gelo em fevereiro de 2022 ficou em 2,2 milhões de km2, bem abaixo da média de 1981 a 2010 que foi de 3,1 km2.

220304a concentração de gelo marinho na antártida em fevereiro de 2022

A despeito das variações anuais, a reta de tendência dos dados mensais estava sempre direcionada para cima e a inclinação era positiva. Os gráficos abaixo mostram os dados relativos aos meses de fevereiro. Nota-se que entre 1979 e 2017 a inclinação da reta era de 3,0 + ou – 3,8% por década, mesmo considerando que em 2016 e 2017 a anomalia ficou abaixo da média do período. Mas considerando o período 1979 e 2022 a inclinação da reta ficou negativa, marcando -0,4 + ou – 3,4%. Ou seja, pela primeira vez nas últimas décadas a Antártida apresenta uma variação negativa nos meses de fevereiro.

evolução da anomalia da extensão de gelo marinho na antártida

O gráfico abaixo, também da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostra que a extensão de gelo marinho na Antártida na média do período 1981-2010, o ano 2020-21 e o ano 2021-22. O mês de fevereiro de 2022 apresenta o menor nível de todos os tempos e, com já mostramos, pela primeira vez a extensão de gelo ficou abaixo de 2 milhões de km2.

extensão de gelo marinho na antártida na média

Esta tendência já era conhecida, os últimos dados estão confirmando e o último relatório do IPCC veio alerta que a situação está ficando fora do controle e a crise pode ser irreversível. Em um novo relatório publicado na última segunda-feira (28/02), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU alerta que ações urgentes são necessárias para lidar com os riscos trazidos pelas mudanças climáticas. O documento adverte que, para evitar a perda crescente de vidas, biodiversidade e infraestrutura, é necessária uma ação ambiciosa e acelerada para se adaptar à crise climática, com cortes rápidos nas emissões de gases de efeitos estufa.

Nos últimos 250 anos, a economia global cresceu cerca de 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens e provocou a ultrapassagem da capacidade de carga da Terra. Segundo o relatório do IPCC: “As mudanças climáticas induzidas pela humanidade, incluindo eventos extremos mais frequentes e intensos, causaram impactos adversos generalizados e perdas e danos relacionados à natureza e às pessoas, além da variabilidade climática. Alguns esforços de desenvolvimento e adaptação reduziram a vulnerabilidade”.

A temperatura da Terra já aumentou 1,2º Celsius desde o período pré-industrial e a meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, era limitar o aquecimento global a 2º C, com esforços para que ele não ultrapasse os 1,5º C. Mas, as gerações que estão nascendo agora e que terão muitas pessoas sobreviventes no ano de 2100, vão passar por quatro vezes mais extremos climáticos do que passam agora, no cenário de 1,5º C. Mas se as temperaturas aumentarem por volta de 2º C, elas terão cinco vezes mais inundações, tempestades, secas e ondas de calor do que agora.

Segundo o IPCC, pelo menos 3,3 bilhões de pessoas são altamente vulneráveis às mudanças climáticas e 15 vezes mais propensas a morrer por condições climáticas extremas.

degelo da Antártida já começou e apenas 5% de perda será suficiente para inundar grandes áreas urbanas e rurais. A maior parte do litoral brasileiro está ameaçado pelas inundações, como mostrei em artigo do Ecodebate (Alves, 19/03/21). Assim, o degelo da Antártida é uma péssima notícia para a humanidade.

O nível do mar deve subir dezenas de centímetros no século XXI, dependendo dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global. As gerações que ainda nascerão vão herdar um mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens.

O fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e tende a se acelerar nas próximas décadas. Os indicadores da crise climática e ambiental estão piores do que o esperado.

Toda a vida na Terra é vulnerável ao aquecimento global, incluindo os ecossistemas e a civilização humana. Mitigação e adaptação são fundamentais.

Todavia, se a humanidade não alterar o estilo de vida e a maneira de produzir e consumir, as mudanças podem inviabilizar a capacidade de adaptação e o colapso ecológico seria inevitável.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A inflexão da Antártida: aquecimento e aceleração do degelo, Ecodebate, 10/02/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/02/10/a-inflexao-da-antartida-aquecimento-e-aceleracao-do-degelo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. A elevação do nível do mar e o impacto no litoral brasileiro, Ecodebate, 19/03/21
https://www.ecodebate.com.br/2021/03/19/a-elevacao-do-nivel-do-mar-e-o-impacto-no-litoral-brasileiro/

O colapso do gelo na Antártida, Climate State https://vimeo.com/climatestate

National Snow and Ice Data Center (NSIDC) https://nsidc.org/data/seaice_index/

IPCC. Summary for Policymakers Headline Statements, 28/02/2020
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/resources/spm-headline-statements/?fbclid=IwAR19kdvQF1kWi1UTzPgmWW8laBeaEX9RaWLD9sFb_b6QTPkPnAbexdthaSs

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/03/2022

ENTENDA O QUE É COMPULSÃO ALIMENTAR.

 fast food

Entenda o que é compulsão alimentar

De acordo com levantamento da OMS – Organização Mundial da Saúde, os transtornos alimentares afetam cerca de 4,7% dos brasileiros, sendo que entre os adolescentes esse índice pode chegar até a 10% da população.

Por Fernanda Martinelli

São cerca de 10 milhões de brasileiros com algum distúrbio alimentar, o equivalente a 5% da população. Com o isolamento social vivenciado nos últimos tempos, somados a causas psíquicas, fatores socioculturais, hormonais ou ainda, genéticos, a compulsão alimentar precisa ser compreendida e detectada o quanto antes.

Principais características da compulsão alimentar:

  • Necessidade de comer sem que haja fome física;
  • Não deixar de se alimentar, mesmo após satisfeito;
  • Comer mais rápido do que o normal e sozinho, por vergonha da quantidade ingerida;
  • Comer em grandes quantidades e em pouco tempo;
  • Comer até sentir desconforto;
  • Se sentir deprimido, com vergonha e culpa após comer demais. Os episódios podem ocorrer ao menos uma vez por semana, durante três meses.

Caso perceba alguns dos comportamentos citados acima, é importante consultar-se com um especialista para entender qual o seu quadro e se pode ser caracterizado como uma compulsão alimentar. Afinal, muitas vezes o exagero na alimentação pode estar pautado em sentimentos como ansiedade, estresse e tristeza e devem ser investigados. Desse modo, uma equipe multidisciplinar é essencial, pois entenderão a causa do problema e trabalharão em conjunto na situação.

Além de profissionais de saúde mental, para entender sensações, sentimentos e conseguir identificar se há um distúrbio alimentar, é indicado acompanhamento especializado, onde uma nutricionista realiza uma anamnese detalhada para conhecer os hábitos alimentares e histórico de doenças do paciente, além de analisar crenças e medos que envolvam a comida e planejar as metas terapêuticas do paciente, que podem ser divididas em fases. De acordo com a Supervisora de Nutrição e Dietética do São Cristóvão Saúde, Cintya Bassi, “primeiro vem a etapa educacional, quando o paciente vai aprender sobre a doença e suas consequências, tirar dúvidas e conhecer o que é alimentação saudável. A segunda fase é a experimental, quando o foco será a mudança de comportamento”, explica a especialista.

Ainda segundo a nutricionista, a dieta para quem sofre com a compulsão alimentar não necessariamente será baseada em alimentos que saciam a fome. “O trabalho é pautado em uma alimentação saudável e diversificada, porque o exagero na compulsão não está relacionado à fome física, mas na necessidade de suprir uma demanda emocional”.

O acompanhamento não é baseado na perda ou ganho de peso do paciente, mas tem como objetivo criar uma relação saudável com a comida, com a saúde e imagem corporal do paciente. De modo geral, os resultados começam a aparecer após os primeiros meses de acompanhamento multiprofissional. Caso o paciente ainda encontre dificuldade no tratamento, então é sugerido um trabalho com um psiquiatra para que ele avalie a necessidade de entrar com medicação para ajudar no processo.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/03/2022

COMO IDENTIFICAR UMA RELAÇÃO ABUSIVA.

Como identificar uma relação abusiva

Muitas pessoas vivem relacionamentos abusivos há anos, desvalorizando aspectos fundamentais como autoestima, amor-próprio, equilíbrio emocional, autoconhecimento, respeito, entre outros diversos, mantendo a relação em uma base totalmente nociva.

Por Flávia Ghiurghi

 

“Pode ser uma mãe que abusa da autoridade com seus filhos. Pode ser uma amiga mandona que controla sua turma. Pode ser um marido possessivo que impede sua mulher de trabalhar fora. A pessoa exerce poder sobre outra, tolhendo sua liberdade, humilhando, denegrindo, impondo sua forma de pensar e ser, de modo que ela acaba perdendo parte de sua identidade e de sua possibilidade de escolha”, afirma Marcia Dolores Resende, psicóloga, conselheira em Desenvolvimento Humano e Estudos da Família no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e especialista em Estudos da Medicina Comportamental.

 

Como identificar uma relação de abuso
Frequentemente, o domínio é exercido por alguma vantagem que uma das partes tem sobre a outra, como condição financeira, por exemplo. “Uma pessoa pode se sentir superior às outras por ter mais dinheiro. Com os amigos, ela acha que pode determinar os programas que vão fazer. Com a mulher, ou com o marido, a pessoa se sente no direito de fazer tudo do seu jeito, inclusive em relação à educação dos filhos, já que ela ‘banca a família’”, explica a psicóloga.

 

Segundo ela, esse tipo de relação resulta também na humilhação em público. Exemplo disso é a postura de reprovação da pessoa “abusadora”, quando a “abusada” expressa suas ideias durante um encontro entre amigos ou familiares. “Ao notar que o outro não gostou, a pessoa se sente intimidada, envergonhada, acaba se calando e ficando apática. Pior: muitas vezes, a parte que teme desagradar insiste em querer justificar a todos o comportamento do outro”, diz Marcia Dolores.

 

Comodismo ou medo?

 

Quem passa por esses abusos, muitas vezes, “finge” já ter se acostumado, e prefere continuar do jeito que está do que enfrentar os desafios que virão pela frente. “Essa acomodação pode estar relacionada à própria personalidade da pessoa, alguém que frequentemente se sente frágil e, mesmo sendo abusada, se sente protegida pelo outro. Daí, cria-se uma relação simbiótica, na qual um depende emocionalmente do outro, formalizando um processo de desrespeito e submissão, que é alimentado continuamente”.

 

Como sair de uma relação de co-dependência

Em alguns casos, a situação pode chegar a extremos de agressão verbal e/ou física, o que passa, então, a demandar uma mudança comportamental urgente. A abordagem dessa relação abusiva requer que ambos se disponham a buscar tratamento psicoterápico, visando a ruptura da relação simbiótica e a busca de equidade e equilíbrio. Para isso, é preciso primeiro reconhecer que é parte de uma relação de abuso. “A partir do momento em que a pessoa consegue ter consciência da sua realidade e que precisa se libertar da visão que tem sobre amor e respeito, fica mais fácil trabalhar essa distorção em terapia, conseguindo resgatar sua integridade física, moral e psicológica”, finaliza Marcia Dolores Resende.

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/10/2020

ECOS DA GUERRA.

artigo de opinião

Ecos da Guerra, artigo de Montserrat Martins

Parece longe de nós, mas essa guerra vai nos atingir de várias maneiras, inclusive no preço de alimentos, combustíveis e energia, que tendem a encarecer, a nível mundial.

Não só questões objetivas, nosso emocional também é atingido, sob efeito das bombas despejadas por ordem do Putin contra a Ucrânia, que invariavelmente atingem civis também.

O poderio dos invasores é tão maior que as defesas ucranianas que está mais para um massacre (ou genocídio) do que para uma guerra, pois todos já sabemos como ela vai terminar (a qualquer momento), com o país dominado pelos russos.

Porque resistem os ucranianos, então? Eles estão tirando da ficção uma frase dita no filme “Coração Valente” (protagonizado por Mel Gibson), quando lhe perguntam porque luta se é provável a sua morte: “Morrer todos vamos, o importante é como vivemos”.

O sentimento de revolta extrema contra humilhações – como a de seu país ser subjugado por outro – não acontece só nesse tipo de guerra, é claro. Um filme que retrata a revolta contra a pobreza é “Fique rico ou morra tentando”, história verídica de um rapper americano, cujo título já retrata o desapego à vida, mesmo se for para seguir uma “vida bandida” com risco de morte, desde que o resultado seja enriquecer e ser “poderoso”. Situações totalmente diferentes, mas manifestações de fenômenos extremos.

Nas redes sociais tem surgido comparações as mais diversas, como por exemplo gente protestando que “quando os Estados Unidos invadem países, vocês não reclamam”. O que aliás não é verdade, desde a Guerra do Vietnã existem protestos contra os americanos que inclusive os influenciaram naquela derrota. Campanhas mundiais contra a guerra aconteceram também na invasão do Iraque, sob justificativa falsa de Bush de que os iraquianos tinham armas químicas. Invasão que resultou noutro revés tempos depois, gerando o Estado Islâmico, mais violento que Sadam.

O imperialismo americano não serve de desculpa para justificar o imperialismo russo, porque não é defensável nenhum tipo de imperialismo no século XXI. Putin parece que contava com essas polêmicas das redes sociais, que confundem parcialmente a opinião pública – cuja importância é inegável, pois gera consequências das mais diversas.

Só uma revolta mundial muito forte contra Putin, capaz de influenciar os próprios russos, pode levar a que esse genocida dos ucranianos tenha o seu poder enfraquecido no seu país, depois de mais de duas décadas no poder.

Rejeitar Putin é como rejeitar Bush e todos que usaram seu poder pela guerra, contra a paz. Fora Putin!

Montserrat Martins é Psiquiatra

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/03/2022

segunda-feira, 28 de março de 2022

ÍNDICE DE PREÇO DOS ALIMENTOS BATE RECORDE HISTÓRICO EM FEVEREIRO DE 2022.

Índice de Preço dos Alimentos bate recorde histórico em fevereiro de 2022, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Historicamente, o aumento do preço dos alimentos provoca uma elevação do percentual da população mundial sujeita à fome e à insegurança alimentar

“De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra”
Hino da Internacional Socialista

O Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) vinha subindo em 2021 e acelerou o aumento em 2022. O FFPI ficou em 140,7 pontos em fevereiro, 5,3 pontos acima do valor de janeiro de 2022. O preço dos alimentos em fevereiro é o mais alto em cerca de 100 anos, sendo superado apenas pelo preço dos alimentos na época da 1ª Guerra Mundial e da pandemia da Influenza, no quinquênio 1915-1920.

O gráfico abaixo mostra que os recordes de alta do FFPI aconteceram em 1974 e 1975 (quando houve o primeiro choque do petróleo) e a década de 1971-80 foi a que teve a maior média decenal da série, com 110,2 pontos. Nas décadas de 1980 e 1990 os preços dos alimentos caíram e marcaram os menores valores do século XX. Mas a comida voltou a ficar mais cara no século XXI e esta batendo recorde histórico de alta em função de 3 acontecimentos: pandemia da covid-19, guerra da Ucrânia e crise climática e ambiental.

Índice de preços dos alimentos fao 1961 2022

A alta de fevereiro foi liderada por grandes aumentos nos subíndices de preços de óleos vegetais e lácteos. Os preços dos cereais e da carne também subiram, enquanto o subíndice de preços do açúcar caiu pelo terceiro mês consecutivo, conforme mostra o gráfico abaixo. O Índice de Preços de Cereais teve média de 144,8 pontos em fevereiro, alta de 4,2 pontos (3,0%) em relação a janeiro e 18,7 pontos (14,8%) em relação a um ano atrás.

O Índice de Preços de Óleos Vegetais da FAO teve uma média de 201,7 pontos em fevereiro, alta de 15,8 pontos (8,5%) mês a mês e marcando um novo recorde. A força contínua dos preços resultou principalmente do aumento dos preços do óleo de palma, soja e girassol. Em fevereiro, os preços internacionais do óleo de palma aumentaram pelo segundo mês consecutivo devido à demanda global de importação sustentada que coincidiu com a redução das disponibilidades de exportação da Indonésia, o maior exportador mundial de óleo de palma. Enquanto isso, os valores mundiais do óleo de soja continuaram a subir com a deterioração das perspectivas de produção de soja na América do Sul. Os preços internacionais do óleo de girassol também aumentaram acentuadamente, sustentados por preocupações com as perturbações na região do Mar Negro, que poderiam reduzir as exportações.

O Índice de Preços de Lácteos teve média de 141,1 pontos em fevereiro, alta de 8,5 pontos (6,4%) em relação a janeiro, marcando o sexto aumento mensal consecutivo e colocando o índice 28,0 pontos (24,8%) acima de seu valor no mês correspondente do ano passado. Em fevereiro, as cotações internacionais de todos os produtos lácteos representados no índice se firmaram, sustentadas pelo contínuo aperto dos mercados globais devido à oferta de leite abaixo do esperado na Europa Ocidental e Oceania.

O Índice de Preços da Carne teve média de 112,8 pontos em fevereiro, alta de 1,2 ponto (1,1%) em relação ao mês anterior e 15,0 pontos (15,3%) em relação ao nível do ano anterior. Em fevereiro, as cotações internacionais de carne bovina atingiram um novo recorde, impulsionadas pela forte demanda global de importação em meio à oferta restrita de gado pronto para abate no Brasil e alta demanda por reconstrução de rebanho na Austrália. O Índice de Preços do Açúcar teve média de 110,6 pontos em fevereiro, queda de 2,1 pontos (1,9%) em relação a janeiro, marcando a terceira queda mensal consecutiva.

ffpi da fao por elementos

O aumento do preço dos alimentos já vinha subindo em decorrência do rompimento das cadeias produtivas ocorrido na pandemia da covid-19 e, especialmente, em função da crise climática e ambiental que tem dificultado a produção de alimentos devido às secas, enchentes, erosão e acidificação dos solos e das águas, etc. Mas o aumento de fevereiro já reflete o impacto da invasão russa da Ucrânia, embora os efeitos serão mais sentidos em março de 2022.

De fato, a guerra entre Ucrânia e Rússia ameaça o abastecimento global de alimentos. A Ucrânia e a Rússia são os principais exportadores de alguns dos alimentos mais básicos do mundo, representando juntos cerca de 29% das exportações globais de trigo, 19% da oferta mundial de milho e 80% das exportações mundiais de óleo de girassol. Mas a Rússia também exporta nutrientes agrícolas, bem como gás natural, que é fundamental para a produção de fertilizantes à base de nitrogênio. Cerca de 25% do suprimento europeu dos principais nutrientes das culturas, nitrogênio, potássio e fosfato, vêm da Rússia.

Portanto, com as condições geopolíticas desarticuladas, as maiores fontes de matéria-prima para a produção de alimentos estão sujeitas a limitações e não há alternativas de curto prazo. Os preços futuros do trigo dispararam nos últimos dias com a interrupção dos embarques de grãos da região do Mar Negro. Os preços dos fertilizantes aumentaram acentuadamente nos últimos meses de 2021, acompanhando o aumento dos custos do gás natural e do petróleo.

Historicamente, o aumento do preço dos alimentos provoca uma elevação do percentual da população mundial sujeita à fome e à insegurança alimentar. O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado no dia 28/02/2022, mostra que a rapidez das mudanças climática podem inviabilizar a capacidade de adaptação e o colapso ecológico poderá ser inevitável.

O conjunto das atividades antrópicas já superou a capacidade de carga do Planeta, mas os diversos governos do mundo só pensam no crescimento demoeconômico. O aumento do preço dos alimentos é apenas um indicador de um conflito cada vez maior entre a ECOnomia e a ECOlogia e que é agravado pelas disputas econômicas e políticas. Neste quadro, as perspectivas para o ano de 2022 é a continuidade do aumento do preço dos alimentos. O sofrimento será maior entre as populações mais pobres e nos países mais dependentes da importação de alimentos.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A Era da comida barata acabou, Ecodebate, 06/12/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/12/06/a-era-da-comida-barata-acabou/

FAO, The state of the world’s land and water resources for food and agriculture, Systems at breaking point, SOLAW 2021 https://www.fao.org/3/cb7654en/cb7654en.pdf

IPCC. Summary for Policymakers Headline Statements, 28/02/2020
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/resources/spm-headline-statements/?fbclid=IwAR19kdvQF1kWi1UTzPgmWW8laBeaEX9RaWLD9sFb_b6QTPkPnAbexdthaSs

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/03/2022