sexta-feira, 29 de abril de 2022

O QUE É EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL.

artigo

O que é Empreendedorismo Sustentável, artigo de José Austerliano Rodrigues

O empreendedorismo sustentável cria soluções viáveis de mercado e atua como agentes de mudança que percebem e exploram oportunidades de desenvolvimento sustentável.

Para alcançar ganhos tão ambiciosos de desenvolvimento sustentável, o empreendedorismo sustentável oferece soluções orientadas ao mercado para combater a degradação ambiental e corrigir a injustiça e a desigualdade social (BELZ; BINDER, 2017; BINDER, 2017; FARNY, 2016).

Em 1994, o siciólogo John Elkington cunhou o termo triplo bottom line, ou tripé da sustentabilidade que refere-se à combinação de benefícios econômicos, sociais e ecológicos como uma situação ganha-ganha para os negócios, sociedade e o meio ambiente. Hart e Milstein (1999), referiram-se ao conceito de destruição criativa (teoria) como uma pré-condição e a força central para a transição de uma sociedade sustentável, enfatizando que inovadores e empreendedores vão ver o desenvolvimento sustentável como uma das maiores oportunidades de negócios da história do comércio. No entanto, a integração da sustentabilidade às atividades de uma empresa é marcada pela alta complexidade e incerteza, o que exige que as organizações alcancem valor econômico, social e ambiental simultaneamente (FARNY et al., 2019; MUÑOZ; COHEN, 2018).

Ao contrário do empreendedorismo convencional, que tem como foco a maximização dos lucros econômicos, o empreendedorismo sustentável baseia-se na premissa-chave de que os empreendedores têm potencial de criar valor econômico, social e ecológico por meio de sua atividade empresarial (BELZ; BINDER, 2017; MUÑOZ; COHEN, 2018; SCHALTEGGER; WAGNER, 2011).

Para Shepherd e Patzelt (2011), o empreendedorismo sustentável é focado na preservação da natureza, no suporte à vida e na comunidade na busca de oportunidades percebidas para trazer à existência de futuros produtos, processos e serviços. Em vez de tentar minimizar os danos sociais e ambientais, o empreendedorismo busca regenerar o meio ambiente e instilar mudanças sociais positivas, além da mera geração de riqueza econômica (MARKMAN et al., 2016; MUÑOZ; DIMOV, 2015; PATZELT; SHEPHERD, 2011). Portanto, o empreendedorismo sustentável postula a atividade empreendedora como uma solução potencial para a degradação ambiental e a desigualdade social (COHEN; WINN, 2007; MUÑOZ; COHEN, 2018; SHEPHERD; PATZELT, 2011).

Atualmente, existem pelo menos três pontos de vista sobre empreendedorismo sustentável na literatura que diferem em sua conceituação da intersecção entre sustentabilidade econômica, social e ambiental (FARNY, 2016). A perspectiva mais proeminente é a adaptação do modelo Triple Bottom Line (TBL) de Elkington (COHEN; WINN, 2007; HOCKERTS; WÜSTENHAGEN, 2010; SCHALTEGGER; WAGNER, 2011). A perspectiva do TBL pressupõe que as três dimensões da sustentabilidade (econômica, ecológica e social) são de igual valor (não há priorização) e podem ser tratadas separadamente. A crítica tem questionado a suposição de que cada dimensão pode ser tratada separadamente, quando na realidade estão fortemente entrelaçadas. Elkington (2018), afirma que a abordagem de equilibrar as necessidades do meio ambiente, da sociedade e da economia tornou-se um exercício contábil para a maioria das empresas.

A segunda conceituação da sustentabilidade adota o modelo de Bioeconomia do economista René Passet, que resulta do empreendedorismo sustentável como conceito de incrustação. O argumento-chave é que, devido aos efeitos prejudiciais do passado, o empreendedorismo deve ser visto como incrustado e, portanto, limitado pelo ambiente natural e pela sociedade (MARKMAN et al., 2016). Popular em abordagens de sistemas e ciência climática, o modelo bioeconomia vê a sustentabilidade em três círculos concêntricos, nos quais a economia está inserida na sociedade mais ampla, incorporada e constrangida por seu ambiente natural. Embora as atividades econômicas constituam o cerne do modelo, elas devem ser realizadas sem colocar em risco a vida social nem sacrificar recursos do ambiente natural.

Outra perspectiva, embora provavelmente menos reconhecida, vê o empreendedorismo sustentável como um conceito de integração, orientado para a economia, a sociedade e o meio ambiente (HEIKKURINEN et al., 2019; MUÑOZ; DIMOV, 2015; SCHLANGE, 2009). A abordagem de integração à sustentabilidade reconhece que, no antropoceno, os atores econômicos têm a responsabilidade coletiva de se organizar em relação aos limites ecológicos, o que tem profundas implicações na relação entre humanos e outros organismos (HEIKKURINEN et al., 2019). Como tal, esta abordagem descarta casos fracos de empreendedorismo sustentável, por exemplo, modelos de negócios orientados à conformidade, que inclui apenas fortes casos de sustentabilidade, ou seja, sustentabilidade regenerativa e co-evolutiva (HEIKKURINEN et al., 2019).

Essa perspectiva amplia a noção de sustentabilidade para incluir na esfera ética e até espiritual (SCHLANGE, 2009). Isso é consistente com declarações comuns descrevendo uma forma de empreendedorismo sustentável tanto em seus objetivos quanto em meios de criação de riqueza, mas também indica que o empreendedorismo sustentável, pelo menos implicitamente, assume que mais dimensões são significativas. A exemplo da dimensão moral, cidadania ecológica, tecnologia de informação e dimensão política (FARNY; BINDER, 2021; RODRIGUES, 2021).

A ideia central que une as três perspectivas acima citado, relacionado com o empreendedorismo sustentável, é que as atividades dos empreendedores em busca de ganhos financeiros não devem afetar negativamente os ambientes naturais e sociais em que atuam. O discurso acadêmico tem gerado conceitos comparáveis, porém distintos, enfatizando a atividade empreendedora como uma solução potencial para a degradação ambiental e a desigualdade social: empreendedorismo comunitário, ecopreneurship, empreendedorismo ambiental, organização híbrida, aventura pró-social, empreendedorismo social e empreendedorismo sustentável-ético. Todos esses rótulos conceituam entre empreendedorismo social e sustentável, diferem em seu mercado (BINDER, 2017). Por exemplo, empresas sociais dependentes de financiamento que são orientadas por missões e totalmente subsidiadas por parceiros externos que representam o empreendedorismo social sem fins lucrativos e não são diferentes das organizações não governamentais. Em contrapartida, as empresas sociais e eco-ambientais autofinanciadas têm forte foco em metas sociais ou ambientais e são capazes de gerar lucro, que é totalmente reinvestido na empresa.

Pesquisa recente sobre empreendedorismo sustentável, tem como foco o processo empreendedor (BELZ; BINDER, 2017; KIBLER et al., 2015; MUÑOZ; DIMOV, 2015). Apesar do foco recorrente no processo, poucos estudos têm investigado empiricamente o processo empreendedor sustentável. McMullen e Dimov (2013), apontam a falta de estudos empíricos orientado para o processo empreendedor. Para estes autores, a pesquisa empírica que adota uma visão de processo sobre fenômenos empreendedores tem o potencial de produzir insights relevantes para todo o campo acadêmico.

Deste modo, o processo empreendedor sustentável é tipicamente desencadeado pela motivação dos empreendedores de benefícios e emoções não econômicas: é a compaixão de apoiar o bem-estar dos outros que cria uma visão compartilhada entre os fundadores, a empresa e seus membros (FARNY et al., 2017). O início de um processo de empreendedorismo sustentável pode ser encontrado no reconhecimento de um problema ecológico ou social específico (BELZ; BINDER, 2017). Estes autores argumentam que os empreendedores engenhosos então reconhecem uma oportunidade de retificar o problema socio-ecológico e, sucessivamente, desenvolver uma solução do tripé da sustentabilidade que pode ser introduzida no mercado. Do ponto de vista econômico, a oportunidade poderia se originar de imperfeições do mercado relacionadas ao ambiente natural que proporcionam uma oportunidade de lucro para a ação empreendedora (COHEN; WINN, 2007).

Os empreendedores individuais, portanto, normalmente possuem uma motivação pró-social, uma vontade de exercer uma prática empreendedora mais compassiva, que também pode render ganho pessoal de lucro (SHEPHERD; PATZELT, 2011). Assim sendo, o empreendedores sustentáveis precisam ter a capacidade e a motivação para aumentar o bem-estar comunitário ou social (MUNOZ; COHEN, 2018).

Uma característica específica do empreendedorismo sustentável, é que a agência coletiva por parte de uma comunidade maior é parte integrante do processo de desenvolvimento de empreendimentos. O empreendedorismo sustentável tende a ser empreendedor e colaborativo ao invés de oportunista (FARNY; BINDER, 2021). Uma forma de governança cooperativa emerge como uma forma natural de organização, pois permite a colaboração e a tomada de decisões coletivas no nível de governança. Possibilita articular modelos democráticos de negócios e o envolvimento de diferentes membros de grupos da comunidade no processo de desenvolvimento de negócios. Neste sentido, cooperativas ou empresas comunitárias podem ser vistas como uma empresa sustentável do tipo ideal. Em geral, eles são propriedade coletivamente, gerenciados e governados pelo povo, e não por um pequeno grupo de empresários.

Semelhante a determinadas atividades de movimento social, os empreendimentos tipo ideal de sustentabilidade baseiam-se na solidariedade coletiva voltada para fins sociais e ecológicos explícitos, onde o compromisso de apoiar uns aos outros supera os custos pessoais (FARNY et al., 2019).

Ao mesmo tempo, o empreendedorismo sustentável enfrenta tensões estruturais resultantes da manutenção de múltiplos objetivos que provavelmente criarão conflitos internos (BINDER, 2017). Os conflitos decorrem principalmente do nível de integração ou separação de múltiplos objetivos no design organizacional, atividades organizacionais e atores organizacionais (BATTILANA, LEE, 2014).

Empresas sustentáveis altamente integradas precisam gerenciar uma equipe de atores organizacionais de diferentes interesses. Os múltiplos objetivos das empresas sustentáveis orientadas à comunidade suprimem a aplicação rigorosa de uma lógica de mercado e, em vez disso, em sua composição de força de trabalho devem incorporar um conjunto de habilidades heterogêneas com diversas origens (FARNY et al., 2019). Essa necessidade é menos uma questão para empresas que separam atividades pró-sociais e econômicas, onde a força de trabalho geralmente é contratada com base em habilidades individuais e demanda organizacional, a fim de evitar tensões produtivas (BATTILANA; DORADO, 2010). Além disso, o projeto organizacional, por exemplo, estruturas de governança, incentivos e sistemas de controle, precisa abordar a comunidade como uma noção integrada (BATTILANA; LEE, 2014; KIBLER et al., 2015).

As atividades organizacionais são baseadas em recursos locais, em busca de um bem comum para a comunidade anfitriã. As atividades muitas vezes dependem em parte do envolvimento voluntário dos membros para compensar os níveis de eficiência mais baixos e incluem o acoplamento seletivo de algumas características organizacionais específicas que não arriscam a estabilidade de uma empresa sustentáveil (FARNY et al., 2019).

Em relação ao fim do processo de empreendedorismo sustentável, os estudiosos ainda não determinaram o que constitui o sucesso da jornada. Isso é particularmente difícil, pois os processos empreendedores são altamente idiossincráticos. Alguns argumentam que o processo convencional de empreendedorismo normalmente termina com a introdução de um novo produto no mercado que gera lucro para a empresa e/ou economia.

O enquadramento do empreendedorismo sustentável como processos de criação de valor ecológico, social e econômico sugere definir (pelo menos) três extremidades (FARNY; BINDER, 2021). Uma visão alternativa sobre o fim de um processo de empreendedorismo sustentável é, portanto, marcada por uma mudança nos arranjos sociais (mudança institucional), que em diferentes graus envolve o mercado, uma comunidade e o ambiente ecológico (FARNY, 2016).

Isso estaria em consonância com o objetivo abrangente de desenvolver um novo espaço operacional seguro para a humanidade, promover o crescimento sustentável e se tornar um contribuinte líquido para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (FARNY; BINDER, 2021).

José Austerliano Rodrigues. Especialista e Doutor em Sustentabilidade de Marketing pela UFRJ, com ênfase em Marketing e Sustentabilidade, com interesse em pesquisa em Sustentabilidade Organizacional, Sustentabilidade de Marketing e Comportamento do Consumidor Sustentável. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/0779999836176801

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/04/2022

ESTÃO COMENDO O MUNDO PELAS BEIRADAS.

 

artigo

Estão comendo o mundo pelas beiradas, artigo de Larissa Warnavin e Nicole Witt

“Ao colocar as mudanças climáticas no centro das discussões atuais, podemos levantar diversos fatores que impactam diretamente as alterações climáticas como o desmatamento, a extração mineral, a produção agropecuária e o uso irrestrito de combustíveis fósseis”.

“Estão comendo o mundo pelas beiradas, roendo tudo, quase não sobra nada” esse é o início da canção “Sonho” de autoria da banda Nação Zumbi. A composição foi inspirada no filme Blade Runner – O Caçador de Androides (Ridley Scott, 1982).

A menção realizada sobre comer o mundo pelas beiradas nos leva a refletir sobre o consumismo, a produção de alimentos e a transformação de áreas naturais em áreas agricultáveis, as quais impactam direta ou indiretamente a saúde humana, ambiental e promovem alterações na dinâmica da natureza.

Não obstante, o filme lançado em 1982 – um clássico do cinema futurista Neo noir – retrata Los Angeles em 2019. Num contexto decadente, a cidade está imersa em poluição e consumo exacerbado. O cenário do futuro, no qual agora nos encontramos, se parece em parte com a proposta do diretor, os impactos do consumismo, da poluição e da tecnologia são uma realidade da qual não podemos nos abster. Ao colocar as mudanças climáticas no centro das discussões atuais, podemos levantar diversos fatores que impactam diretamente as alterações climáticas como o desmatamento, a extração mineral, a produção agropecuária e o uso irrestrito de combustíveis fósseis.

Anualmente, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), são produzidas 3,8 bilhões de toneladas de alimentos ao redor do mundo, destas, algo em torno de um bilhão é jogada fora. Também, de acordo com a Global Footprint Network, a demanda alimentar representa 28% da pegada ecológica global e o desperdício 9%. Em um mundo com uma população crescente e que se alimenta de maior quantidade de calorias do que o requerido, somaremos, em 2025, quase 2,3 bilhões de adultos acima do peso, sendo que destes, cerca de 700 milhões de indivíduos serão obesos.

No entanto, enquanto alguns se alimentam e desperdiçam em demasia, aproximadamente 811 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2020. Falar da produção de alimento, consumo e desperdício nos permite dialogar com diferentes esferas: cultural, ambiental, econômica, política e social.

Ao passo que a população humana aumenta em número e peso, um estudo publicado em 2021 e realizado ao longo dos últimos 40 anos, com aves de florestas intocadas da Amazônia Central, revelou que 77 espécies de aves estão tendo a sua estrutura corporal alterada. Enquanto alguns pássaros aumentaram o comprimento das asas, outros perderam cerca de 2% de seu peso, por década. De acordo com os cientistas, essas alterações genéticas e estruturais são uma adequação às mudanças climáticas, sendo que as asas mais longas em corpos mais leves significam economia de energia em tempos de recursos escassos.

Esse pequeno retrato das condições contraditórias existentes em nossa sociedade serve de reflexão para pensarmos sobre o consumo. O que de fato precisamos para viver? O que podemos fazer para minimizar essas disparidades? Qual futuro esperamos para a vida na Terra?

A música citada trata de um sonho dentro de um sonho, como tinham os replicantes (clones humanos) do filme Blade Runner. O que sonhamos para o futuro? Ainda, os compositores finalizam com a estrofe “hoje de manhã eu acordei sem imagem e sem som”. Vamos esperar até quando para nos responsabilizarmos pela vida e agir em consonância com ela? Até acordar sem imagem e sem som?

*Larissa Warnavin é doutora em Geografia. Docente da área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

*Nicole Witt é bióloga e especialista em Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Docente da área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/04/2022

NÍVEIS DE CO2 E METANO NA ATMOSFERA ATINGEM NOVOS RECORDES EM 2021.

Níveis de CO2 e metano na atmosfera atingem novos recordes em 2021

Embora o dióxido de carbono permaneça na atmosfera por muito mais tempo, o metano é aproximadamente 25 vezes mais poderoso na retenção de calor na atmosfera

Pelo segundo ano consecutivo, os cientistas da NOAA observaram um aumento anual recorde nos níveis atmosféricos de metano, um poderoso gás de efeito estufa que retém o calor e é o segundo maior contribuinte para o aquecimento global causado pelo homem depois do dióxido de carbono.

A análise preliminar da NOAA mostrou que o aumento anual do metano atmosférico durante 2021 foi de 17 partes por bilhão (ppb), o maior aumento anual registrado desde que as medições sistemáticas começaram em 1983. O aumento em 2020 foi de 15,3 ppb. Os níveis de metano atmosférico atingiram em média 1.895,7 ppb durante 2021, ou cerca de 162% acima dos níveis pré-industriais. A partir das observações da NOAA, os cientistas estimam que as emissões globais de metano em 2021 sejam 15% maiores do que no período 1984-2006. 

Tendência de CH4: Este gráfico mostra a média global da abundância de metano atmosférico média mensal determinada a partir de locais de superfície marinha desde 1983. Os valores para o último ano são preliminares.
Tendência de CH4: Este gráfico mostra a média global da abundância de metano atmosférico média mensal determinada a partir de locais de superfície marinha desde 1983

Enquanto isso, os níveis de dióxido de carbono também continuam a aumentar a taxas historicamente altas. A média da superfície global de dióxido de carbono durante 2021 foi de 414,7 partes por milhão (ppm), o que representa um aumento de 2,66 ppm em relação à média de 2020. Isso marca o 10º ano consecutivo em que o dióxido de carbono aumentou mais de 2 partes por milhão, o que representa a taxa sustentada de aumento mais rápida nos 63 anos desde o início do monitoramento. 

Tendência de CO2: Este gráfico mostra a abundância média mensal de dióxido de carbono em média global em locais de superfície marinha desde 1980.
Tendência de CO2: Este gráfico mostra a abundância média mensal de dióxido de carbono em média global em locais de superfície marinha desde 1980. (NOAA Global Monitoring Laboratory)

“Nossos dados mostram que as emissões globais continuam a se mover na direção errada em ritmo acelerado”, disse Rick Spinrad, Ph.D., Administrador da NOAA. “As evidências são consistentes, alarmantes e inegáveis. Precisamos construir uma Nação Preparada para o Clima para se adaptar ao que já está aqui e se preparar para o que está por vir. Ao mesmo tempo, não podemos mais adiar ações urgentes e eficazes necessárias para resolver a causa do problema – a poluição por gases de efeito estufa”. 

O dióxido de carbono continua a ser a maior ameaça da mudança climática 

Embora tenha havido um debate científico sobre a causa do aumento contínuo dos níveis de metano, a poluição por dióxido de carbono sempre foi o principal motor das mudanças climáticas causadas pelo homem. Estima-se que 36 bilhões de toneladas de dióxido de carbono foram emitidas na atmosfera no ano passado pela atividade humana; cerca de 640 milhões de toneladas de metano foram emitidas durante o mesmo período. O tempo de residência atmosférica do metano é de aproximadamente nove anos, enquanto parte do dióxido de carbono emitido hoje continuará a aquecer o planeta por milhares de anos. 

Os níveis atmosféricos de dióxido de carbono são agora comparáveis ​​a onde eles estavam durante o meio da época do Plioceno, cerca de 4,3 milhões de anos atrás. Durante esse período, o nível do mar era cerca de 75 pés mais alto do que hoje, a temperatura média era 7 graus Fahrenheit mais alta do que nos tempos pré-industriais, e estudos indicam grandes florestas ocuparam áreas do Ártico que agora são tundra. 

Dados de CO2: Este gráfico mostra as taxas médias anuais de crescimento de dióxido de carbono, com base em dados médios globais da superfície marinha, desde o início do monitoramento sistemático em 1959. As linhas horizontais indicam as médias decenais da taxa de crescimento.
Dados de CO2: Este gráfico mostra as taxas médias anuais de crescimento de dióxido de carbono, com base em dados médios globais da superfície marinha, desde o início do monitoramento sistemático em 1959. As linhas horizontais indicam as médias decenais da taxa de crescimento. (Laboratório de Monitoramento Global da NOAA)

“O efeito das emissões de dióxido de carbono é cumulativo”, disse Pieter Tans, cientista sênior do Laboratório de Monitoramento Global . “Cerca de 40% das emissões do Ford Modelo T de 1911 ainda estão no ar hoje. Estamos a meio caminho de dobrar a abundância de dióxido de carbono que estava na atmosfera no início da Revolução Industrial”.     

Controle de muitas fontes de metano tecnicamente possível hoje

Embora o dióxido de carbono permaneça na atmosfera por muito mais tempo, o metano é aproximadamente 25 vezes mais poderoso na retenção de calor na atmosfera e tem uma importante influência de curto prazo na taxa de mudança climática. 

O metano na atmosfera é gerado por muitas fontes diferentes, como produção, transporte e uso de combustíveis fósseis, a partir da decomposição de matéria orgânica em áreas úmidas e como subproduto da digestão por animais ruminantes, como vacas. Determinar quais fontes específicas são responsáveis ​​por variações nos aumentos anuais de metano é complexo, mas os cientistas estimam que a produção e o uso de combustíveis fósseis contribuem com cerca de 30% das emissões totais de metano. Essas fontes industriais de metano são relativamente simples de identificar e controlar usando a tecnologia atual.

“Reduzir as emissões de metano é uma ferramenta importante que podemos usar agora para diminuir os impactos das mudanças climáticas no curto prazo e reduzir rapidamente a taxa de aquecimento”, disse Spinrad. “Não vamos esquecer que o metano também contribui para a formação de ozônio ao nível do solo, que causa cerca de 500.000 mortes prematuras a cada ano em todo o mundo.” 

Pesquisas anteriores de metano da NOAA que utilizaram análises isotópicas de carbono estáveis ​​realizadas pelo Instituto de Pesquisa Ártica e Alpina da Universidade do Colorado indicam que fontes biológicas de metano, como pântanos ou agricultura de ruminantes, são o principal fator de aumentos pós-2006. Os cientistas da NOAA estão preocupados que o aumento do metano biológico possa ser o primeiro sinal de um ciclo de feedback causado em parte por mais chuva sobre as zonas úmidas tropicais que estariam em grande parte além da capacidade de controle dos humanos. 

“Reduzir as emissões de metano fóssil é um passo necessário para mitigar as mudanças climáticas”, disse Xin Lan, membro do CIRES cientista que trabalha no Laboratório de Monitoramento Global da NOAA . “Mas a extrema longevidade das emissões de dióxido de carbono na atmosfera significa que precisamos reduzir agressivamente a poluição por combustíveis fósseis a zero o mais rápido possível, se quisermos evitar os piores impactos de um clima em mudança”.

A amostragem de ar da NOAA monitora o pulso do planeta 

O Laboratório de Monitoramento Global da NOAA coleta anualmente mais de 15.000 amostras de ar de estações de monitoramento em todo o mundo e as analisa em um laboratório de última geração em Boulder, Colorado. Toda primavera, a NOAA calcula os níveis médios globais de quatro gases de efeito estufa primários – dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e hexafluoreto de enxofre – observados durante o ano anterior.  

As médias globais foram calculadas usando amostras de ar de um subconjunto de locais da Global Greenhouse Gas Reference Network, que é composta por quatro observatórios de linha de base da NOAA no Havaí, Alasca, Samoa Americana e Pólo Sul, e de amostras coletadas em cerca de 50 outras cooperativas locais de amostragem em todo o mundo. As amostras de ar utilizadas para o cálculo são predominantemente ar da camada limite marinha bem misturado, representativo de uma grande região da atmosfera.

Observações sustentadas por muitas décadas, pela NOAA e outros, mostram que a taxa de aumento do dióxido de carbono acompanhou as emissões globais. Apesar das promessas internacionais de reduzir as emissões, os cientistas do clima não viram nenhum progresso mensurável na redução da poluição por gases de efeito estufa.

“Vai exigir muito trabalho duro para reverter essas tendências, e claramente isso não está acontecendo”, disse Ariel Stein, diretor do Laboratório de Monitoramento Global . “Portanto, é crucial que continuemos a manter sistemas integrados e robustos de monitoramento e verificação para ajudar a avaliar o estado atual da carga atmosférica de gases de efeito estufa, bem como determinar a eficácia das futuras medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa”.

Fonte: NOAA

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/04/2022

ESTUDO RELACIONA EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA E AUMENTO DO NÍVEL DO MAR.

Estudo relaciona emissões de gases de efeito estufa e aumento do nível do mar

New link between greenhouse gases and sea-level rise

Técnicas avançadas de modelagem oceânica revelam como as emissões de gases de efeito estufa contribuem para oceanos mais quentes e o derretimento resultante do manto de gelo da Antártida Ocidental.

British Antarctic Survey (BAS)*

Um novo estudo dos cientistas Kaitlin Naughten e Paul Holland, da British Antarctic Survey (BAS), fornece a primeira evidência de que o aumento dos gases de efeito estufa tem um efeito de aquecimento de longo prazo no Mar de Amundsen, na Antártida Ocidental.

A perda de gelo do manto de gelo da Antártida Ocidental no Mar de Amundsen é uma das contribuições de crescimento mais rápido e mais preocupantes para o aumento global do nível do mar. Se a camada de gelo da Antártida Ocidental derreter, o nível global do mar pode subir até três metros. Os padrões de perda de gelo sugerem que o oceano pode estar aquecendo no Mar de Amundsen nos últimos cem anos, mas as observações científicas da região só começaram em 1994.

Infográfico mostrando o fortalecimento das correntes de água quente no Mar de Amundsen
Infográfico mostrando o fortalecimento das correntes de água quente no Mar de Amundsen, que se acredita serem responsáveis pelo aumento do derretimento do manto de gelo da Antártida Ocidental. Gráfico: Kaitlin Naughten @ British Antarctic Survey

 

No estudo – publicado na revista Geophysical Research Letters – os oceanógrafos usaram modelagem computacional avançada para simular a resposta do oceano a uma série de possíveis mudanças na atmosfera entre 1920-2013.

As simulações mostram que o Mar de Amundsen geralmente se tornou mais quente ao longo do século. Este aquecimento corresponde a tendências simuladas nos padrões de vento na região que aumentam as temperaturas ao conduzir correntes de água quente em direção e sob o gelo. Sabe-se que o aumento dos gases de efeito estufa torna esses padrões de vento mais prováveis e, portanto, acredita-se que a tendência dos ventos seja causada em parte pela atividade humana.

Dr Kaitlin Naughten, modelador de gelo oceânico da BAS e principal autor deste estudo, diz: “Nossas simulações mostram como o Mar de Amundsen responde às tendências de longo prazo na atmosfera, especificamente os ventos de oeste do Hemisfério Sul. Isso levanta preocupações para o futuro, porque sabemos que esses ventos são afetados por gases de efeito estufa. No entanto, também deve nos dar esperança, porque mostra que o aumento do nível do mar não está fora de nosso controle”.

Este estudo apoia as teorias de que as temperaturas dos oceanos no Mar de Amundsen estão aumentando desde antes do início dos registros. Ele também fornece o elo perdido entre o aquecimento dos oceanos e as tendências do vento, que são parcialmente causadas pelos gases de efeito estufa.

As temperaturas dos oceanos ao redor do manto de gelo da Antártida Ocidental provavelmente continuarão a subir se as emissões de gases de efeito estufa aumentarem, com consequências para o derretimento do gelo e os níveis globais do mar. Esses resultados sugerem, no entanto, que essa tendência pode ser contida se as emissões forem suficientemente reduzidas e os padrões de vento na região forem estabilizados.

O professor Paul Holland, cientista de oceanos e gelo da BAS e coautor do estudo, diz: “Mudanças nos ventos de oeste do Hemisfério Sul são uma resposta climática bem estabelecida ao efeito dos gases de efeito estufa. No entanto, o Mar de Amundsen também está sujeito a uma variabilidade climática natural muito forte. As simulações sugerem que tanto as mudanças naturais quanto as antropogênicas são responsáveis pela perda de gelo do manto de gelo da Antártida Ocidental causada pelo oceano.”

Referência:

Naughten, K. A., Holland, P. R., Dutrieux, P., Kimura, S., Bett, D. T., & Jenkins, A. (2022). Simulated twentieth-century ocean warming in the Amundsen Sea, West Antarctica. Geophysical Research Letters, 49, e2021GL094566. https://doi.org/10.1029/2021GL094566

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Henrique Cortez *, tradução e edição.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/04/2022

POLINIZAÇÃO POR ABELHAS E CONTROLE DE PRAGAS POR PÁSSAROS SÃO ESSENCIAIS PARA A PRODUTIVIDADE CAFEEIRA.

 

abelha

Polinização por abelhas e controle de pragas por pássaros são essenciais para a produtividade cafeeira

Um novo estudo descobriu que os grãos de café são maiores e mais abundantes quando pássaros e abelhas se unem para proteger e polinizar as plantas de café.

University of Vermont*

Sem esses ajudantes alados, alguns viajando milhares de quilômetros, os cafeicultores veriam uma queda de 25% nos rendimentos das colheitas, uma perda de aproximadamente US$ 1.066 por hectare de café.

Isso é importante para a indústria cafeeira de US$ 26 bilhões – incluindo consumidores, agricultores e corporações que dependem do trabalho não remunerado da natureza para sua agitação matinal – mas a pesquisa tem implicações ainda mais amplas.

O estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences é o primeiro a mostrar, usando experimentos do mundo real em 30 fazendas de café, que as contribuições da natureza – neste caso, polinização por abelhas e controle de pragas por pássaros – são maiores combinadas do que suas contribuições individuais.

“Até agora, os pesquisadores normalmente calculavam os benefícios da natureza separadamente e depois simplesmente os somavam”, diz a principal autora Alejandra Martínez-Salinas, do Centro de Pesquisa e Ensino Superior Agropecuário Tropical (CATIE). “Mas a natureza é um sistema interativo, cheio de importantes sinergias e compensações. Mostramos a importância ecológica e econômica dessas interações, em um dos primeiros experimentos em escalas realistas em fazendas reais.”

“Esses resultados sugerem que avaliações anteriores de serviços ecológicos individuais – incluindo grandes esforços globais como o IPBES – podem realmente subestimar os benefícios que a biodiversidade proporciona à agricultura e ao bem-estar humano”, diz Taylor Ricketts do Instituto Gund para Meio Ambiente da Universidade de Vermont. “Essas interações positivas significam que os serviços ecossistêmicos são mais valiosos juntos do que separadamente.”

Para o experimento, pesquisadores da América Latina e dos Estados Unidos manipularam plantas de café em 30 fazendas, excluindo pássaros e abelhas com uma combinação de grandes redes e pequenos sacos de renda. Eles testaram quatro cenários principais: atividade de pássaros sozinho (controle de pragas), atividade de abelhas sozinho (polinização), nenhuma atividade de pássaros e abelhas e, finalmente, um ambiente natural, onde abelhas e pássaros eram livres para polinizar e comer insetos como o broca do café, uma das pragas mais prejudiciais que afetam a produção de café em todo o mundo.

Os efeitos positivos combinados de pássaros e abelhas na frutificação, peso dos frutos e uniformidade dos frutos – fatores-chave em qualidade e preço – foram maiores do que seus efeitos individuais, mostra o estudo. Sem pássaros e abelhas, o rendimento médio caiu quase 25%, avaliado em cerca de US$ 1.066 por hectare.

“Uma razão importante pela qual medimos essas contribuições é ajudar a proteger e conservar as muitas espécies das quais dependemos, e às vezes damos como garantidas”, diz Natalia Aristizábal, doutoranda no Instituto Gund de Meio Ambiente da UVM e na Escola Rubenstein de Meio Ambiente e Recursos Naturais. . “Pássaros, abelhas e milhões de outras espécies sustentam nossas vidas e meios de subsistência, mas enfrentam ameaças como a destruição do habitat e as mudanças climáticas”.

Um dos aspectos mais surpreendentes do estudo foi que muitas aves que controlam pragas de cafeeiros na Costa Rica migraram milhares de quilômetros do Canadá e dos EUA, incluindo Vermont, onde a equipe da UVM está sediada. A equipe também está estudando como as mudanças nas paisagens agrícolas afetam a capacidade das aves e das abelhas de fornecer benefícios à produção de café. Eles são apoiados pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA por meio da Lei de Conservação de Aves Migratórias Neotropicais.

Além de Martínez-Salinas (Nicarágua), Ricketts (EUA), Aristizábal (Colômbia), a equipe internacional de pesquisa do CATIE incluiu Adina Chain-Guadarrama (México), Sergio Vilchez Mendoza (Nicarágua) e Rolando Cerda (Bolívia).

Referência:

Interacting pest control and pollination services in coffee systems
Alejandra Martínez-Salinas, Adina Chain-Guadarrama, Natalia Aristizábal, Sergio Vilchez-Mendoza, Rolando Cerda, and Taylor H. Ricketts
Proceedings of the National Academy of Sciences -April 4, 2022 | 119 (15) e2119959119
https://doi.org/10.1073/pnas.2119959119

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Henrique Cortez *, tradução e edição.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/04/2022