Necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez são os principais motivos para abandono escolar
IBGE
Necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez são os principais motivos que levam jovens brasileiros a abandonarem os estudos. Dos quase 50 milhões de jovens de 14 a 29 anos do País, aproximadamente 20,2% não completaram alguma das etapas da educação básica. São 10,1 milhões nessa situação, entre os quais 58,3% homens e 41,7% mulheres. Destes, 71,7% eram pretos ou pardos e 27,3% eram brancos. Esses são alguns dados do segmento Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que traça um cenário do setor educacional em 2019.
Precisar trabalhar foi o motivo apontado por metade dos homens nessa faixa de idade para terem abandonado os estudos ou nunca frequentado a escola, e a falta de interesse a justificativa de 33,0%. A inexistência de escola, vaga ou turno desejado na localidade foi a razão de 2,7% e apenas 0,7% alegaram afazeres domésticos para ausência à escola. Já entre as mulheres, a falta de interesse ser a principal razão (24,1%) fica bem próxima da necessidade de trabalhar e da gravidez (ambas com 23,8%), seguidas por afazeres domésticos (11,5%).
A necessidade de trabalhar foi a principal razão alegada por jovens de todas as regiões, sendo que no Sul (48,3%) e no Centro-Oeste (43,1%) as taxas são maiores e no Nordeste, menor (34,1%). Já o não interesse em estudar foi o segundo principal motivo informado, sempre acima de 25%, com destaque para o Nordeste, com 31,5%.
“Esses dois principais motivos somados alcançam cerca de 70% desses jovens, independentemente da região, e sugerem a necessidade de medidas que incentivem a permanência dos jovens na escola. A taxa de analfabetismo no país (6,6%) está em queda constante, atingindo quase à universalização do ensino. Mas elevar o nível de escolarização até a conclusão do ensino médio ainda parece ser um desafio”, comenta a analista da pesquisa Adriana Beringuy.
Segundo a pesquisadora, no caso das mulheres, a gravidez como motivo de evasão escolar é também um importante ponto a ser observado pelas políticas públicas. “Com relação a essa temática temos o Sul com um índice bem menor (6,4%), sendo quase a metade da região com o maior índice, que é o Norte (12,7%)”, ressalta.
A passagem do ensino fundamental para o médio é crucial em termos de abandono escolar. O percentual de jovens que parou de estudar a partir dos 15 anos é quase o dobro do das faixas etárias anteriores. Até os 13 anos, cerca de 8,5% abandonam os estudos. Aos 14 anos, a taxa é de 8,1%, mas, aos 15 anos, sobe para 14,1% e, aos 16, para 17,7%, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.
“É fundamental que se encontre formas de tornar a educação mais atrativa e formas de se possibilitar que o jovem concilie os estudos com o trabalho nas idades mais elevadas, que as políticas públicas compreendam o que se passa com o jovem nessa faixa etária entre 15 e 19 anos para que ele seja compelido a abandonar a escola”, ressalta Beringuy.
O padrão etário se mantém semelhante entre homens e mulheres e entre as pessoas de cor branca e preta ou parda. Em termos regionais, porém, há algumas diferenças. O abandono escolar precoce (até os 13 anos) foi mais acentuado no Norte (9,7%), no Nordeste (9,0%) e no Sudeste (8,7%). Já aos 14 anos, o Sudeste manteve um percentual de abandono semelhante ao da faixa mais nova e o Sul se destacou com 9,9% de saída da escola.
Por outro lado, o marco dos 15 anos, acontece em todas as regiões, sendo bem expressivo no Sul (16,3%), no Sudeste (14,9%) e no Nordeste (13,9%). Entre 16 e 18 anos, Norte e Nordeste exibiram percentuais de abandono entre 14,0% e 16,4%, saltando para, respectivamente, 26,6% e 22,2% aos 19 anos ou mais.
“Essa maior saída tardia da escola deve, provavelmente, estar associada a um esforço desses jovens para recuperar o atraso educacional”, ressalta Marina Fortes Águas, analista do IBGE.
Pelos dados de 2019, o atraso ou abandono escolar atinge 12,5% das crianças e adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos. Já entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.
Ensino integrado com técnico ou magistério tem mais jovens de cor branca
Visto como uma das alternativas para tornar o ensino médio mais atrativo, o ensino técnico ainda chega a poucos. Em 2019, no Brasil, dos 9,3 milhões de estudantes do ensino médio (regular ou da Educação de Jovens e Adultos – EJA), apenas 7,1% frequentavam curso técnico de nível médio ou o curso normal de nível médio para formação de professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. O percentual apenas em cursos técnicos de nível médio (6,6%) foi estatisticamente semelhante ao percentual de 2018 (6,2%).
O percentual de pessoas brancas que frequentavam o ensino médio integrado com habilitação técnica ou curso normal (7,8%) era maior do que o de pessoas pretas ou pardas (6,6%). Com relação ao sexo, não há diferença entre os percentuais.
O que cresceu entre 2018 e 2019 foi a busca por qualificação profissional. Em 2019, dos quase 171 milhões pessoas de 14 anos ou mais, 15,6% (26,7 milhões) já haviam frequentado algum curso de qualificação profissional, 2,5 pontos percentuais a mais que em 2018 (13,1%).
No entanto, a frequência em cursos de qualificação profissional cresce à medida que aumenta o nível de instrução. Entre as pessoas sem instrução ou com até o ensino fundamental completo, 7,4% haviam frequentado tais cursos em algum momento do passado. Entre as pessoas como ensino médio incompleto até o superior incompleto, foi cerca de 20,9% e entre aqueles com o ensino superior completo, o percentual alcançou 25,8%.
Do IBGE, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/07/2020