quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

MAIORIA DOS PAIS VÊ PREJUÍZOS NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DURANTE A PANDEMIA.

Maioria dos pais vê prejuízos na educação das crianças e adolescentes durante a pandemia, segundo pesquisa Datafolha

Por Elaine Alves, Iris Bertoncini e Ana Claudia Bellintane

  • Para 65% dos pais ou responsáveis entrevistados na pesquisa, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, as crianças da pré-escola terão o seu desenvolvimento comprometido; enquanto 69% dizem que os estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental terão atraso em seu processo de alfabetização, com prejuízo ao seu aprendizado;
  • Em relação aos adolescentes, 58% têm a percepção de que terão problemas emocionais por causa do isolamento e 58% acreditam que os alunos do ensino médio correm risco de desistir dos estudos;
  • Subiu de 24% para 30%, de setembro para novembro de 2020, o índice de pais e responsáveis favoráveis ao retorno das aulas presenciais, alegando principalmente os prejuízos na educação dos estudantes durante a pandemia em todos os níveis de ensino;
  • A pesquisa mostra também que os pais temem a Covid-19 e para 49% não há confiança na capacidade da escola de se adequar às normas de segurança sanitária, índice que era de 22% em setembro; em relação ao comportamento dos estudantes, 43% não confiam que irão cumprir os protocolos de segurança (índice de 24% em setembro).

Após praticamente um ano letivo sem aulas presenciais, pais e responsáveis de estudantes de escolas públicas de todo o país acreditam que, se continuarem fechadas, as crianças da pré-escola terão o seu desenvolvimento comprometido (65%), enquanto aquelas dos anos iniciais do Ensino Fundamental terão um atraso em seu processo de alfabetização e isso irá prejudicar seu aprendizado (69%). Em relação aos adolescentes, a percepção é a de que tenham problemas emocionais por causa do isolamento (58%) e que os alunos do Ensino Médio correm o risco de desistir dos estudos (58%).

Estes dados são indicados na quinta edição da pesquisa Datafolha “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, realizada com 1.015 pais ou responsáveis de estudantes das redes públicas municipais e estaduais, com idade entre 6 e 18 anos, no período de 16 de novembro a 2 de dezembro de 2020.

Os prejuízos decorrentes da falta de aula presencial podem ser ainda maiores para os estudantes socialmente vulneráveis. Para 80% dos pais e responsáveis, eles correm o risco de ficar para trás por terem mais dificuldades para estudar em casa. A taxa dos que temem que seus filhos desistam da escola chegou a 35%.

A diminuição da renda familiar é outro ponto de atenção: na pandemia a renda diminuiu para 47% dos entrevistados.

prejuízos para os estudantes sem retorno das aulas presenciais

“Tantos meses de afastamento do ambiente escolar deixarão marcas no desenvolvimento dos alunos, com a intensificação de problemas antigos, como a distorção idade-série, o abandono e a evasão, especialmente entre a população mais vulnerável. As redes que já começaram a realizar diagnósticos estão no caminho certo para propostas pedagógicas que ajudem na motivação dos estudantes e na recuperação das perdas de aprendizagem. É também urgente a construção de um planejamento coordenado de retomada das aulas com protocolos bem estabelecidos,  com forte diálogo junto às equipes escolares e muito apoio aos professores, sob pena dos prejuízos à educação e à garantia de direitos de crianças e adolescentes se prolongarem por um extenso período”, afirma a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.

O reconhecimento da importância da retomada das aulas presenciais traz, em contrapartida, a insegurança e o temor sobre o contágio da Covid-19. Apenas 19% dos pais ou responsáveis disseram que ‘confiam muito’ na capacidade da escola de se adequar aos protocolos de segurança sanitária na reabertura. E 43% deles não confiam na capacidade dos alunos de se adequarem às normas sanitárias, índice que era de 24% em setembro.

No cenário nacional, somente 5% das escolas frequentadas por estudantes das famílias que participaram da pesquisa reabriram em novembro, das quais 60% com aulas regulares e 66% em alguns dias da semana. Mais da metade dos alunos não foi para a escola (57%) e 79% dos pais entrevistados disseram que receberam orientações sobre a reabertura. E 43% deles não confiam na capacidade dos alunos de se adequarem às normas sanitárias, índice que era de 24% em setembro.

Para o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, uma boa comunicação das escolas com pais, responsáveis e alunos pode fazer diferença para orientar e criar uma relação de confiança. “É um período de insegurança natural devido ao cenário de pandemia, mas este momento é também uma oportunidade para estreitar e fortalecer o contato com as famílias, que vêem agora com mais clareza a importância da escola no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes”, diz Mizne. “É importante este vínculo para motivar alunos e familiares e evitar a evasão escolar”, afirma.

APRENDIZADO NA PANDEMIA

Para 79% dos pais, as escolas deram apoio durante o período sem aulas presenciais, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental (87%). O suporte consistiu principalmente em professores disponíveis para tirar dúvidas dos responsáveis, orientações gerais sobre como apoiar os estudantes para fazerem as atividades e sugestões para motivá-los a participar.

As atividades a distância possibilitaram aos alunos o desenvolvimento de algumas competências. Na percepção dos pais, foram desenvolvidas habilidades como usar a tecnologia para estudar e aprender, não desistir diante das dificuldades e pesquisar e ampliar o conhecimento sozinho.

capacidades adquiridas no período sem aulas presenciais

Os pais e responsáveis também tiveram um aprendizado neste ano de aulas em casa. Dos entrevistados, 50% destacam como aspectos mais importantes acompanhar e apoiar os estudantes na aprendizagem; 35%, estar aberto a diferentes dinâmicas e tendências de ensino; e 29%, estar em contato com os professores e com a direção da escola, além de estabelecer e acompanhar rotinas de estudos.

No entanto, houve dificuldades dos estudantes para organizar as rotinas de estudo com autonomia, além de capacidade de adaptação e flexibilidade. O índice dos que percebem dificuldade em manter uma rotina das atividades em casa alcançou 69%. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, chega a 72%.

 

índice dos que percebem dificuldade em manter uma rotina das atividades em casa alcançou 69%

A motivação é um fator crítico para o engajamento e observa-se um processo de desmotivação desde maio de 2020, quando ocorreu a primeira edição da série de cinco pesquisas realizadas até agora pelo Datafolha. Enquanto em maio 46% dos estudantes estavam desmotivados, em novembro o percentual é de 55%.

Deve-se considerar que houve um incremento no índice de alunos que receberam atividades por equipamentos e material impresso, de 34% para 63% no período de maio a novembro de 2020. No entanto, cai o tempo dedicado para as atividades.

 

tempo dedicado para as atividades de aulas online

QUINTA ONDA 

Em um período de sete meses (maio a novembro) foram realizadas cinco pesquisas pelo Datafolha na série “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”. Esta quinta onda registra a evolução de alguns indicadores da educação remota em 2020. O objetivo geral dos levantamentos é verificar se os estudantes dos ciclos Fundamental e Médio de escolas públicas estão recebendo conteúdos, acessando-os e realizando as atividades propostas durante a pandemia, além de mapear as dificuldades de aprendizado on-line, rotinas e motivação. As pesquisas anteriores foram em maio, junho, julho e setembro.

 

grupo de estudantes em risco

Em um período letivo tão atípico, uma questão é fundamental: evitar a evasão escolar. A pesquisa segmentou os estudantes em quatro categorias: ‘Adaptados’, ‘Superadores’, ‘Resilientes’ e ‘Em risco’. Considerando os dados apurados de maio a novembro, observa-se que o grupo dos estudantes ‘Em risco’ mantém-se estável em cerca de um terço, similar ao grupo dos ‘Resilientes’. Quando perguntados qual a expectativa para 2021, 34% afirmam estar otimistas, enquanto 36% estão razoavelmente otimistas.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021

BRASIL : INVESTIMENTOS EM ENERGIAS ALTERNATIVAS.

Com investimentos em energias alternativas, Brasil pode gerar mais de 1 milhão de empregos e reduzir em 28 toneladas a emissão de CO² até 2025, aponta estudo

World Economic Forum e Accenture ouviram mais de 25 empresas de serviços públicos globais e trazem análise específica para o País

Por Deborah Costa, Vinícius Chaves e Felipe de Paula

O Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Accenture, divulga uma nova análise em várias regiões, explorando o caminho das concessionárias em meio à pandemia de Covid-19 em curso e as oportunidades para acelerar o crescimento econômico e a transição para energia limpa.

Um Grupo de Ação da Indústria que incluiu mais de 25 empresas de serviços públicos globais e empresas de tecnologia de energia buscou avaliar de forma holística os resultados econômicos, ambientais, sociais, bem como desdobramentos técnicos de potenciais soluções de energia.

A análise revelou que no Brasil, nos próximos cinco anos, os investimentos da indústria de energia alternativa – como a solar e a eólica – e o impacto da digitalização das cidades para um modelo mais inteligente e eficiente podem gerar mais que 1,2 milhão de novos empregos e reduzir em 28 toneladas a emissão de CO².

Na análise, foram mapeados diversos elementos da cadeia de valor do setor elétrico no País, como emissão de gás carbônico, pegadas d’água, acesso a eletricidade, qualidade do ar, resiliência e segurança do setor, qualidade de serviços e flexibilidade. No entanto, foram aspectos como: impactos no emprego e na economia, eficiência do setor e produtividade, investimento estrangeiro, atualização de sistemas e competitividade que se destacaram no cenário nacional.

Com o mapeamento do setor elétrico brasileiro, foi possível identificar um modelo que pode direcionar a transformação e atualização do País em termos de energia, utilizando sua grande fonte de energia hidrelétrica como alicerce para sustentar a população enquanto investimentos em fontes alternativas de energia ganham força, como a solar e a eólica, bem como o investimento em cidades integradas e inteligentes

energias alternativas

Ampliação do setor elétrico

O relatório traz, ainda, que a demanda por energia no País deve triplicar até 2050, o que fortalece a necessidade de investimentos no setor. Para isso, o Brasil deve precisar de ao menos 38 novas linhas de distribuição de energia com mais de 5 mil quilômetros de extensão, o que significa um investimento de mais de R﹩ 10 bilhões¹.

¹dados da Empresa de Pesquisa Energética, articulada com o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Economia.

 

Impactos do Covid-19 no setor

Apesar da necessidade de crescimento e modernização do setor elétrico, o Brasil – assim como todos os países do mundo – sofreu fortes impactos por conta da pandemia da Covid-19. Isso, somado aos problemas já existentes no País, pode dificultar a modernização do setor. Entre os principais pontos, pode-se destacar:

Pontos negativos:

• Ao longo do período de pandemia, o foco do País foi em manter a operação básica funcionando, com cortes massivos em investimentos vistos como não essenciais.

• A demanda por energia caiu dois dígitos se comparado ao mês de maio do ano anterior.

• O mercado como um todo sofreu um forte golpe, com redução do volume de operações em torno de 47% no mercado automotivo e 38% no setor de serviços.

• Com isso, o PIB do País tem estimativa de queda de aproximadamente 9%.

Pontos positivos:

• O Brasil testemunhou um aumento de 53% na geração de energia solar em abril de 2020.

• Como resultado da Covid-19, foi observado um aumento no foco em eficiência operacional e planejamento financeiro por parte das empresas operando no Brasil.

• Durante o período de quarentena, foi possível notar uma queda abrupta na concentração de gases como NO, NO² e CO na cidade de São Paulo, com quedas de 77%, 54% e 65%, respectivamente.

Como se recuperar da crise?

O estudo aponta, contudo, alternativas para uma recuperação do setor elétrico no Brasil, baseado em três fatores principais:

• Expansão de energias renováveis não hidrelétricas

Acelerar a expansão das energias renováveis não hídricas (~ 7 GW eólica e solar) por meio de várias iniciativas, como fomentar o mercado liberalizado (ACL) com contratos de compra de energia inovadores (PPAs), desenvolver uma nova solução estruturada para o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), e substituição de termo-planta fóssil.

• Digitalização da Transmissão e Distribuição (T&D)

Abordar os problemas de confiabilidade e qualidade de energia por meio de investimentos básicos na rede de distribuição e, em seguida, digitalizar e moderniza a rede elétrica do Brasil por meio de redes inteligentes, medidores inteligentes, internet das coisas (IoT) e recursos de energia distribuída (DER).

• Cidades Inteligentes e Eficientes

Investir em cidades inteligentes por meio do desenvolvimento de uma rede digital de energia, possibilitando eficiência energética e novos modelos de negócios de suporte à geração distribuída, DERs e mobilidade elétrica, além de serviços públicos como iluminação pública e manejo da vegetação.

Acesse os estudos completos com foco no Brasil Global .

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021

DEGELO GLOBAL JÁ SEGUE OS PIORES CENÁRIOS DE AQUECIMENTO CLIMÁTICO.

Degelo global já segue os piores cenários de aquecimento climático

A velocidade com que o gelo está desaparecendo em todo o planeta está se acelerando, de acordo com novas pesquisas. E as descobertas também revelam que a Terra perdeu 28 trilhões de toneladas de gelo entre 1994 e 2017 – o equivalente a uma camada de gelo de 100 metros de espessura cobrindo todo o Reino Unido.

University of Leeds*

canal criado pelo fluxo de gelo derretido na Groenlândia
Créditos da imagem: Ian Joughin – canal criado pelo fluxo de gelo derretido na Groenlândia

 

Cientistas liderados pela Universidade de Leeds descobriram que a taxa de perda de gelo da Terra aumentou acentuadamente nas últimas três décadas, de 0,8 trilhão de toneladas por ano na década de 1990 para 1,3 trilhão de toneladas por ano em 2017.

A pesquisa é a primeira do tipo a fazer um levantamento da perda global de gelo usando dados de satélite.

O derretimento do gelo em todo o mundo eleva o nível do mar, aumenta o risco de inundações para as comunidades costeiras e ameaça destruir os habitats naturais dos quais a vida selvagem depende.

As descobertas da equipe de pesquisa, que inclui a Universidade de Edimburgo, a University College London e os especialistas em ciência de dados Earthwave, foram publicadas na revista The Cryosphere da European Geosciences Union.

Financiada pelo Conselho de Pesquisa do Meio Ambiente do Reino Unido , a pesquisa mostra que, em geral, houve um aumento de 65% na taxa de perda de gelo durante os 23 anos de pesquisa. Isso foi causado principalmente por aumentos acentuados nas perdas dos mantos de gelo polares na Antártica e na Groenlândia.

O autor principal, Dr. Thomas Slater, pesquisador do Centro de Observação e Modelagem Polar de Leeds , disse: “Embora todas as regiões que estudamos tenham perdido gelo, as perdas nas camadas de gelo da Antártica e da Groenlândia foram as que mais se aceleraram.

“Os mantos de gelo estão agora seguindo os piores cenários de aquecimento climático definidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O aumento do nível do mar nesta escala terá impactos muito sérios nas comunidades costeiras neste século. ”

O Dr. Slater disse que o estudo foi o primeiro desse tipo a examinar todo o gelo que está desaparecendo na Terra, usando observações de satélite.

Ele acrescentou: “Nas últimas três décadas, tem havido um grande esforço internacional para entender o que está acontecendo com os componentes individuais do sistema de gelo da Terra, revolucionado por satélites que nos permitem monitorar rotineiramente as vastas e inóspitas regiões onde o gelo pode ser encontrado.

“Nosso estudo é o primeiro a combinar esses esforços e observar todo o gelo que está sendo perdido em todo o planeta.”

A pesquisa cobre 215.000 geleiras de montanhas espalhadas ao redor do planeta, os mantos de gelo polares na Groenlândia e na Antártica, as plataformas de gelo flutuando ao redor da Antártica e o gelo do mar flutuando nos oceanos Ártico e Meridional.

O aumento da temperatura atmosférica tem sido o principal fator para o declínio do gelo marinho do Ártico e das geleiras das montanhas em todo o mundo, enquanto o aumento da temperatura do oceano aumentou o derretimento da camada de gelo da Antártica. Para o manto de gelo da Groenlândia e as plataformas de gelo da Antártica, as perdas de gelo foram desencadeadas por uma combinação da elevação do oceano e das temperaturas atmosféricas.

Durante o período da pesquisa, todas as categorias perderam gelo, mas as maiores perdas foram do gelo do Mar Ártico (7,6 trilhões de toneladas) e das plataformas de gelo da Antártica (6,5 trilhões de toneladas), ambos os quais flutuam nos oceanos polares.

A Dra. Isobel Lawrence, pesquisadora do Centro de Observação e Modelagem Polar de Leeds, disse: “A perda de gelo marinho não contribui diretamente para o aumento do nível do mar, mas tem uma influência indireta. Uma das principais funções do gelo marinho do Ártico é refletir a radiação solar de volta para o espaço, o que ajuda a manter a temperatura do Ártico.

“À medida que o gelo marinho encolhe, mais energia solar é absorvida pelos oceanos e pela atmosfera, fazendo com que o Ártico aqueça mais rápido do que em qualquer outro lugar do planeta.

“Isso não apenas está acelerando o derretimento do gelo marinho, mas também exacerbando o derretimento das geleiras e mantos de gelo, que fazem com que o nível do mar suba.”

Metade de todas as perdas foram causadas pelo gelo em terra – incluindo 6,1 trilhões de toneladas de geleiras de montanha, 3,8 trilhões de toneladas da camada de gelo da Groenlândia e 2,5 trilhões de toneladas da camada de gelo da Antártica. Essas perdas elevaram o nível global do mar em 35 milímetros.

Estima-se que, para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de um milhão de pessoas correm o risco de ser deslocadas de suas terras natais baixas.

Apesar de armazenar apenas 1% do volume total de gelo da Terra, as geleiras contribuíram para quase um quarto das perdas globais de gelo durante o período de estudo, com todas as regiões glaciais ao redor do mundo perdendo gelo.

O coautor do relatório e pesquisador PhD Inès Otosaka, também do Centro de Observação Polar e Modelagem de Leeds, disse: “Além de contribuir para o aumento do nível do mar global, as geleiras das montanhas também são essenciais como recurso de água doce para as comunidades locais.

“O recuo das geleiras ao redor do mundo é, portanto, de importância crucial em escalas local e global.”

Pouco mais da metade (58%) da perda de gelo foi do hemisfério norte, e o restante (42%) foi do hemisfério sul.

Referência:

Slater, T., Lawrence, I. R., Otosaka, I. N., Shepherd, A., Gourmelen, N., Jakob, L., Tepes, P., Gilbert, L., and Nienow, P.: Review article: Earth’s ice imbalance, The Cryosphere, 15, 233–246, https://doi.org/10.5194/tc-15-233-2021, 2021.

 

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021

BRASIL PANDÊMICO : 10 MILHÕES DE CASOS E 250 MIL MORTES.

Brasil pandêmico: 10 milhões de casos e 250 mil mortes, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil chegou à marca de 10 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus no dia 18 de fevereiro e deve chegar a 250 mil vidas perdidas até o dia 26/02. A pandemia no Brasil teve uma 1ª onda que começou em fevereiro/março de 2020 e teve o pico de 46 mil casos e 1.090 mortes em julho.

Nos meses de agosto a outubro houve uma redução significativa com a média móvel de casos caindo para 17 mil e a média de óbitos caindo para 343 óbitos entre 01 e 07 de novembro. Contudo, o país assistiu ao início de uma 2ª onda que avançou no final do ano passado e ainda continua em alto patamar no atual ano.

Nos primeiros 52 dias de 2021 o Brasil apresentou uma média diária de infecções de quase 50 mil casos e uma média diária de vítimas fatais de quase 1 mil óbitos. O processo de vacinação já começou, mas em ritmo lento.

brasil pandêmico

Ao mesmo tempo que a emergência sanitária gerava grandes problemas na saúde, a covid-19 também paralisou a economia e gerou perda de empregos e renda, além de milhões de crianças e jovens que ficaram sem escola. A recessão de 2020 agravou a situação econômicas que já estava ruim desde a crise de 2014-16.

Sem dúvida o Brasil está mais fragilizado e com maiores problemas sociais, como analiso na entrevista abaixo ao jornalista Fábio Grotz, publicada no dia 19/02/2021. A entrevista foi divulgada no boletim “FCS pensa a pandemia”, da faculdade de Comunicação Social da UERJ, com o título: “A encruzilhada da covid19 economia emprego e renda no Brasil pandêmico”, conforme segue abaixo.

FCS pensa a pandemia – Qual o tamanho do dano da pandemia de covid-19 na economia e no mercado de trabalho brasileiro? Há precedentes? Há paralelo na história brasileira para cenários assim? Por vezes a comparação feita, em termos globais, é com a crise de 1929, nos EUA.

José Eustáquio Diniz Alves – Creio que a crise atual é excepcional, extremamente grave e não há comparações tão dramáticas na história brasileira, pois a encruzilhada atual implica uma escolha entre o progresso e o retrocesso. Na recessão de 1930 e 1931 a maior parte da população brasileira estava no meio rural e envolvida em atividades de subsistência. A queda do preço internacional do café (principal produto de exportação brasileiro na primeira metade do século XX) reduziu a renda nacional e empobreceu os brasileiros, mas teve um efeito somente de curto prazo, pois a economia brasileira recuperou o caminho da urbanização e da industrialização a partir de 1932. A retomada da economia e do emprego também foi rápida nas recessões seguintes.

Todavia, a recessão de 2014 a 2016 foi a mais longa e mais profunda da história brasileira. O Brasil perdeu 3 milhões de empregos formais entre 2014 e 2016 e o número de pessoas desempregadas e procurando trabalho (o chamado desemprego aberto) dobrou. A partir de 2017 houve crescimento da economia mas em ritmo muito lento, de tal forma que a recuperação ocorrida até 2019 não repôs as perdas dos anos recessivos. Ai veio a crise da covid-19 e o ano de 2020 já entrou para a história como o pior ano em termos do desempenho econômico e do mercado de trabalho. A renda per capita brasileira caiu 5% em 2020 e regrediu para os níveis de 2008. A população ocupada que estava em 90 milhões de pessoas no final de 2012 (primeiro ano da PNADC do IBGE) caiu para 85 milhões no final de 2020 (cerca de 40% da população total). Como a população brasileira era de 211,5 milhões de habitantes em 2020, significa que o país tinha 126 milhões de pessoas não ocupadas, o que representa 60% dos seus habitantes sem uma ocupação efetiva.

Para efeito de comparação, a China e o Vietnã avançaram na qualidade de vida de seus cidadãos na medida em que conseguiram manter um índice perto de 60% da população total ocupada. Todo este quadro indica que o decênio passado (2011-20) foi uma década perdida, pois ao invés de progredir o país regrediu. Portanto, guardadas as diferenças históricas, não é exagero dizer que a crise brasileira atual é pior do que foi a grande recessão da década de 1930 nos EUA, pois a renda per capita americana caiu cerca de 30% entre 1929 e 1933, mas, após o programa “New Deal” do presidente Franklin D. Roosevelt, a economia cresceu e a renda per capita de 1940 já superava todos os patamares anteriores dos EUA.

FPP – O senhor aponta no artigo “O mercado de trabalho no fundo do poço no Brasil” que o desemprego já estava alto mesmo antes da pandemia e vinha em tendência de crescimento. Podemos dizer que temos duas crises sobrepostas?

JEDA – Sim. O Brasil nem tinha se recuperado da crise de 2014-16 e entrou no pandemônio global provocado pela covid-19. Mas o desemprego aberto (pessoas não ocupadas procurando emprego) é apenas o topo do iceberg do mercado de trabalho. Ele estava em torno de 6,4 milhões de pessoas entre 2012 e 2014, subiu para 12 milhões no final de 2016, caiu para 11,5 milhões em 2019 e voltou a subir e atingiu 14 milhões de desempregados no final de 2020. Mas o IBGE também calcula a taxa composta de subutilização da força de trabalho (que mede o percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de trabalho potencial) que é cerca de duas vezes maior do que a taxa do desemprego aberto. Em 2014 havia algo como 14 milhões de pessoas subutilizadas e passou para 32 milhões de pessoas em 2020. Este é um número maior do que toda a força de trabalho da Espanha e de Portugal em conjunto. O Brasil está jogando fora o potencial produtivo de uma península Ibérica.

Para complicar ainda mais o quadro acima, o IBGE indica que a taxa de informalidade chegou a 39,1% da população ocupada (ou 33,5 milhões de trabalhadores informais). O desemprego, a subutilização e a informalidade da força de trabalho representam um desrespeito ao direito ao trabalho estabelecido tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, quanto na Constituição Federal, de 1988. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem uma bandeira fundamental que é “Pleno emprego e trabalho descente”. Colocar essa bandeira em prática é o mesmo que apresentar uma solução em duas frentes: 1) garantir o direito humano ao trabalho, à renda e à inserção social produtiva; 2) garantir a prosperidade econômica do país, pois “o trabalho é a fonte de toda a riqueza das nações”, como mostraram Adam Smith, no livro “A Riqueza das Nações”, de 1776, e Karl Marx no século XIX.

FPP – O senhor diz que o Brasil está desperdiçando o “bônus demográfico”. Poderia explicar melhor este conceito e indicar quais remédios podem ser pensados para reativar a economia e garantir o bem-estar da população?

JEDA – Todo país que passa pela transição demográfica (redução das taxas de mortalidade e natalidade) vive um período em que a estrutura etária oferece um bônus demográfico, que é um momento único e essencial para o desenvolvimento humano. O bônus demográfico acontece quando a pirâmide etária do país possui alta proporção de pessoas em idade ativa e baixa proporção de pessoas em idades dependentes (crianças e idosos). Quanto mais pessoas ocupadas houver, maior é a riqueza dos indivíduos, das famílias e da nação. Vou dar um exemplo simples: o Brasil tinha cerca de um terço (33%) da população ocupada em 1970 e passou para quase a metade (50%) em 2010. Supondo um salário médio de 100 Reais, o trabalhador brasileiro de 1970 dividiria o seu salário com mais duas pessoas (o que dava uma renda de R$ 33,3 per capita) e o trabalhador de 2010 dividiria o salário com apenas mais uma pessoa (o que daria uma renda de R$ 50,0 per capita). Ou seja, a renda per capita brasileira aumentou simplesmente pelo fato de haver uma maior proporção de pessoas ocupadas. Junte-se a isto a melhoria da educação e o avanço tecnológico e o país estaria preparado para a decolagem do desenvolvimento e para a elevação do bem-estar populacional.

Qual é o desafio atual? O Brasil está em seu melhor momento demográfico e precisava aproveitar esta janela de oportunidade para empregar cerca de 60% da população, como fizeram a China e o Vietnã. Mas ao invés disto, a percentagem da população brasileira ocupada caiu para 40%. Portanto, o país está desperdiçando o seu potencial produtivo e, consequentemente, retrocedendo ao invés de progredir.

O segredo do progresso e do bem-estar de qualquer nação está na alta proporção da população ocupada, em especial, formada por cidadãos com ótima saúde e alta qualidade educacional. Por conseguinte, as três políticas mais fundamentais para o sucesso nacional são as de emprego, saúde e educação. Se o Estado garante o pleno emprego, uma população saudável e uma educação de qualidade, a sociedade civil responde com alto nível de produção, renda e prosperidade.

FPP – Estamos em uma segunda onda da pandemia tão ou mais violenta que a primeira no outono/inverno do ano passado. O auxílio emergencial foi, durante o ano de 2020, uma maneira de disponibilizar renda com a vida cotidiana paralisada ou limitada. Qual o papel desse benefício para reativar a economia e por que ele – ou uma versão semelhante – seria importante agora para a proteção social?

JEDA – A emergência sanitária exige medidas econômicas emergenciais. O ano de 2020 foi excepcional, pois o SARS-CoV-2 paralisou praticamente todas as economias do mundo. E o impacto foi tanto maior, quanto menor foram as ações efetivas para conter a pandemia. É ridículo menosprezar o controle da doença em nome da economia como fez o governo brasileiro.

Países que minimizaram o surto pandêmico, maximizaram os ganhos econômicos. A Nova Zelândia – liderada pela primeira-ministra Jacinda Ardern – conseguiu controlar a propagação do novo coronavírus fazendo uma boa barreira sanitária, realizando testagens em massa e um eficiente rastreamento e monitoramento dos doentes. A Nova Zelândia, no dia 08 de fevereiro de 2021, tinha um coeficiente de incidência de 464 casos por milhão de habitantes (no Brasil são 44,6 mil casos por milhão) e um coeficiente de mortalidade de somente 5 mortes por milhão de habitantes (no Brasil são 1.085 óbitos por milhão). Desta forma, a Nova Zelândia gastou pouco com a pandemia, recuperou rapidamente a economia e apresentou crescimento do PIB e do bem-estar em 2020.

Já o Brasil fez tudo errado. O Instituto Lowy de Sydney, na Austrália, publicou um estudo analisando as políticas adotadas contra a covid-19 e o desempenho obtido em 98 países de acordo com seis critérios. A gestão pública brasileira da pandemia foi considerada a pior do mundo entre as quase 100 nações analisadas.

O Governo Federal cometeu inúmeros erros, pois deixou o vírus se espalhar pelo território nacional sem resistência. Assim, 10 milhões de pessoas foram infectadas (fora as subnotificações) e o Brasil está em segundo lugar no número acumulado de mortes, com mais de 230 mil vidas perdidas. Além disto, a renda per capita caiu e o efeito sobre o mercado de trabalho foi calamitoso. Nesta conjuntura, o auxílio emergencial foi absolutamente essencial para a sobrevivência das pessoas que ficaram sem uma fonte de renda e sem meios para sobreviver durante a pandemia. Enquanto a economia estiver paralisada, o auxílio emergencial é essencial. Mas é preciso deixar claro que o auxílio é um paliativo e não uma solução definitiva. Nada substitui a política de pleno emprego e trabalho decente.

FPP – O governo federal reluta em reativá-lo sob o argumento de um custo fiscal elevado para as contas públicas. Que papel o Estado tem nesse quesito de provimento de renda? Contas públicas e políticas de renda/emprego são equacionáveis e conciliáveis? Como explicar para o desempregado que, num momento tão agudo de crise, o Estado hesite em colocar dinheiro na economia?

JEDA – Evidentemente, a pandemia tem um custo elevado. O déficit primário de 2020 foi o maior da história, de R$ 743 bilhões, ou 10% do PIB. Nunca se gastou tanto e a dívida pública se aproxima de 100% do PIB. Ou seja, o Governo Federal não conseguiu controlar nem a pandemia e nem a economia. O presidente Bolsonaro fracassou em todas as frentes, embora o auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional tenha contribuído para uma maior avaliação positiva do Chefe do Executivo. Aumentar o gasto público durante a recessão pode ser uma política anticíclica especialmente se elevar as taxas de investimento. Há gastos que possuem alto efeito multiplicador. Por exemplo, o governo poderia acabar com a vergonha nacional de ter a metade da população brasileira sem acesso a rede de esgoto e investir em saneamento básico, contribuindo para o aumento da demanda agregada, para a criação de emprego, para reduzir a mortalidade infantil e para o combate à degradação ambiental.

Como disse o grande compositor Luiz Gonzaga (1912-1989): “Uma esmola, para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Indubitavelmente, o auxílio emergencial é necessário na emergência sanitária e é imprescindível para a sobrevivência das pessoas e o sistema de proteção social. Mas ele deve ocorrer de maneira complementar à política de emprego para todos. Distribuir renda é uma coisa necessária, mas o essencial é gerar renda, tanto no contexto macroeconômico, quanto para a autonomia e a autodeterminação produtiva dos trabalhadores. Segundo a teoria do valor-trabalho, a capacidade de transformação da sociedade depende da inserção dos trabalhadores no modo de produção da vida material. Como disse Marx: “Não é a consciência das pessoas que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência”.

FPP – O Brasil é um país conhecido pela desigualdade de renda. Em que medida o modelo de home office, muito difundido para manter empresas e instituições funcionando em período de isolamento, reproduz e acentua essa desigualdade? Que impacto esse modelo de trabalho remoto pode trazer caso seja incentivado e continuado mesmo após a pandemia?

JEDA – O Brasil está entre os 10 países mais desiguais do mundo e a pandemia acentuou ou confirmou as desigualdades sociais. O leque ocupacional e salarial no país é muito diferenciado e injusto. Os trabalhadores do setor informal e sem estabilidade foram os mais prejudicados. No começo da pandemia se falou em financiar as políticas de proteção social reduzindo as desigualdades de rendimentos dos setores privilegiados, por exemplo, cortando os altos salários dos funcionários de alto escalão dos Poderes Executivo, Legislativo e, em especial, do Judiciário, pois 97,5% dos desembargadores do país recebem salários acima do teto constitucional. Muitos juízes que estão trabalhando em home office recebem auxílio transporte, além de inúmeros penduricalhos e ainda querem receber auxílio para o pagamento da banda larga da Internet. No meio da crise fiscal houve aumento salarial para a corporação militar, que, aliás, gasta milhões em leite condensado e chicletes. O Congresso prometeu mexer no fundo partidário, mas nada fez. Uma maior eficiência do gasto público poderia direcionar recursos existentes e concentrados nas mãos de poucos para o SUS e para as vítimas da pandemia. Mas o Brasil está seguindo o caminho mais fácil de se endividar e “penhorar o futuro”.

O home office reproduziu as desigualdades do mercado de trabalho, pois quem teve acesso ao trabalho remoto foram, principalmente, os trabalhadores do setor formal, os funcionários públicos e as pessoas com curso superior. Trabalhadores envolvidos em atividades de menor qualificação ou que necessitam o trabalho manual e presencial, como os, artesãos, operadores de máquinas, vendedores, trabalhadores do comércio, entregadores e aqueles envolvidos em atividades agrícolas continuam na antiga rotina. Os trabalhadores do setor de turismo e entretenimento, em grande parte, perderam o emprego e não conseguiram outra colocação. Por outro lado, o home office evita os problemas de trânsito e o redemoinho das grandes cidades e deve redefinir a organização das casas, redistribuir o local de moradia e afetar até o processo de migração.

O trabalho remoto e as reuniões virtuais são novos meios de interação social e de contato interpessoal e cresceram durante a pandemia e tendem a crescer em num mundo pós pandêmico. A Associação Latino-Americana de População (ALAP) realizou o seu encontro bianual de forma virtual, em dezembro de 2020, e foi um sucesso. Sem precisar alugar um local físico e sem pagar passagens e diárias para colegas de toda a América Latina e de outros países do mundo, o encontro ficou mais barato a ainda foi mais sustentável em termos ambientais. Sem dúvida, as escolas e as universidades serão cada vez mais transformadas neste processo.

Mas as tendências de concentração econômica continuam e a pandemia aumentou o poder das “Big Tech”, como Google, Amazon, Apple, Facebook, Microsoft e Alibaba que estão mais fortes e dominantes do que nunca e tendem a crescer com a implantação da tecnologia 5G. Nesta área a dependência brasileira é total.

FPP – Por fim, é possível fazer previsão a respeito de uma retomada da economia – especialmente emprego e renda – para os padrões pré-covid-19? É para sermos otimistas ou pessimistas?

JEDA – Voltar ao padrão de 2019, aquele existente antes da pandemia, é totalmente insuficiente, pois a economia brasileira em 2019 estava abaixo do nível de 2014. Depois de 5 anos ruins, 2020 foi o pior ano em um século e a década de 2011-20 foi a segunda década perdida e com diversos indicadores piores do que aqueles da economia brasileira dos anos de 1980. A crise fiscal e as baixas taxas de poupança e investimento dificultam a retomada da economia e a geração de emprego e renda. A baixa competitividade da economia brasileira fica evidente quando olhamos para a balança comercial e percebemos que desde 2011 as exportações brasileiras tem diminuído de valor e o Brasil está cada vez mais dependente de importações de itens essenciais. Na pandemia o Brasil teve que importar máscaras faciais, equipamentos de proteção individual (EPI), agulhas, seringas e os ingredientes farmacêuticos ativos (IFA) para a produção de vacinas. Segundo estudo recente da Fiocruz, a importações de matérias primas e medicamentos para saúde no Brasil chegaram a R$ 100 bilhões em 2020 e o déficit comercial na área foi estimado em US$15 bilhões, sendo que a pandemia agravou a dependência da tecnologia estrangeira.

Nos últimos 40 anos, a estrutura produtiva brasileira tem retrocedido, pois o país se desindustrializou e adotou uma espécie de política de especialização regressiva, cada vez mais dependente da produção de commodities agrícolas e minerais (como nos velhos ciclos extrativistas do passado colonial). O avanço do agronegócio tem ocorrido simultaneamente ao aumento do desmatamento. A mineração gerou desastres como os de Mariana e Brumadinho. O garimpo avança na Amazônia e nas terras indígenas. A bancada BBB – do Boi, da Bíblia e da Bala – ganha espaço no Congresso Nacional e a pauta conservadora de costumes deve ganhar destaque depois da eleição das presidências da Câmara e do Senado que uniu a direita e a extrema direita, formando maioria absoluta no Congresso Nacional.

Tudo indica que estamos iniciando a terceira década perdida (2021-30), pois o Brasil não parece capaz de aproveitar os últimos anos do bônus demográfico, que é uma condição necessária para sair da “armadilha da renda média”. A experiência internacional mostra que só é possível enriquecer (ter alto Índice de Desenvolvimento Humano) antes de envelhecer. Acontece que o Brasil está desperdiçando o seu melhor momento demográfico, deixando de ser uma economia emergente para ser uma potência submergente. Por estes e outros motivos, estou, assumidamente, cada vez mais pessimista.

 

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR/UFMG), com pós-doutorado no Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP. Integrou a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e a Associação Latino-Americana de População (ALAP). Entre 2002 e 2019, foi pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE. Atualmente é pesquisador e consultor independente.

Fábio Grotz Majerowicz é jornalista e bolsista Qualitec do Laboratório de Comunicação Integrada (LCI/FCS/UERJ). Doutor em Comunicação pela UERJ, tem experiência de trabalho e pesquisa nos campos dos Direitos Humanos e Saúde.

 

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referência:

ALVES, JED. A encruzilhada da covid19 economia emprego e renda no Brasil pandêmico, Entrevista a Fábio Grotz, FCS/UERJ, 19/02/2021

http://www.aconteceh.uerj.br/fcs2013/?page_id=10661

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2021