domingo, 17 de julho de 2022

É CRUCIAL ALIMENTAR UM MUNDO EM CRESCIMENTO SEM DESTRUIR O PLANETA DO QUAL DEPENDEMOS.

É crucial alimentar um mundo em crescimento sem destruir o planeta do qual dependemos

Alimentação, agricultura e o destino do planeta Terra

IHU

“O crucial para o nosso futuro é encontrar formas de alimentar um mundo em crescimento sem, em última instância, destruir o planeta do qual dependemos”, escreve Jonathan Foley, cientista ambiental estadunidense, especialista em sustentabilidade, em artigo publicado por Rebelión, 15-04-2021. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

agricultura perturbou o planeta mais do que qualquer coisa que já tenhamos feito, inclusive queimar combustíveis fósseis. Um futuro sustentável depende de reconhecermos este fato e de mudarmos radicalmente o modo como cultivamos e nos alimentamos.

Mais do que qualquer outra invenção na história da humanidade, a agricultura transformou radicalmente nossa civilização e nossa relação com o mundo natural.

Como chegamos a este ponto?

Os primeiros humanos não cultivavam a terra para conseguir alimentos, eram caçadores-coletores que viviam do que encontravam ao seu redor. Mas a partir de modestos inícios, há aproximadamente 12.000 anos, começaram a surgir formas primitivas de agricultura por todo o mundo, principalmente na Mesopotâmia, Índia e China. Durante os séculos e milênios seguintes, a agricultura se estendeu lentamente por todo o mundo, transformando paisagens, economias e culturas pelo caminho.

Durante a maior parte da história, a nossa produção de alimentos aumentou principalmente expandindo a quantidade de terra em produção. No século XX, grandes áreas de terras agrícolas foram estabelecidas por todo o mundo, formando os “celeiros” que conhecemos hoje.

Mas a partir dos anos 1960, fomos testemunhas de uma mudança drástica na maneira como cultivamos na forma da chamada Revolução Verde, que mobilizou métodos agrícolas industriais, que renderam maiores safras em cada faixa de terra, impulsionada por variedades de cultivos melhoradas e um grande aumento do uso de fertilizantes, irrigação e máquinas. Como resultado, a agricultura mundial passou de um longo período de expansão geográfica a um período de intensificação industrial. A agricultura nunca mais seria a mesma.

Em muitos sentidos, a história da agricultura e os alimentos foi uma história de sucesso, ao menos à primeira vista. A agricultura permitiu transformar as sociedades de caçadores-coletores em assentamentos primitivos, em cidades e finalmente em nossa sociedade global moderna. Vivemos mais tempo, temos vidas mais saudáveis e uma grande parte da população mundial se libertou de colher alimentos para se dedicar a outras atividades. O sucesso de nossa espécie se deve, em parte, ao sucesso da agricultura e do sistema alimentar.

Mas este sucesso teve um preço. Um preço muito alto.

Nosso sistema alimentar é agora tão grande e tão insustentável que está colocando em perigo o sistema ambiental que o sustenta.

Embora normalmente pensamos em canos de escapes, chaminés e fábricas gigantes como os maiores causadores de danos ambientais em todo o mundo, ocorre que a agricultura é a causa principal.

Não acredita em mim?

Primeiro, considere o tamanho da pegada geográfica da agricultura.

Atualmente, aproximadamente 16 milhões de quilômetros quadrados de áreas na Terra, ou uma área aproximadamente do tamanho da América do Sul, é utilizada para cultivar. E outros 34 milhões de quilômetros quadrados, uma área mais ou menos do tamanho de África, é utilizada para pastagens e pastoreio.

Juntas, estas áreas agrícolas cobrem aproximadamente 37% da superfície terrestre livre do gelo do planeta. As áreas urbanas do mundo, em comparação, cobrem aproximadamente 1%. Nenhuma outra atividade humana pode igualar a pegada geográfica da agricultura.

A maioria das pessoas se surpreende ao tomar consciência de que a maior parte desta terra é utilizada para criar e alimentar animais. Aproximadamente 75% da terra agrícola do mundo é utilizada para animais de pasto ou para produzir alimento para animais. Como resultado, a produção animal e a nossa avidez por carne e produtos lácteos são as principais impulsionadoras da pegada alimentar em todo o mundo.

Na medida em que as áreas agrícolas foram ampliadas, limparam e modificaram vastas áreas naturais de prados, savanas e florestas em seu rastro. Esta conversão de paisagens naturais em agrícolas causou uma perda enorme de habitats em todo o mundo e a extinção de inumeráveis espécies.

Atualmente, alguns ecossistemas inteiros, como as pradarias da América do Norte e as matas tropicais atlânticas do Brasil, quase desapareceram, substituídas quase totalmente por terras agrícolas, e outros estão sendo devastados em um ritmo alarmante. A agricultura consumiu mais terras e habitats e levou mais espécies à extinção do que qualquer outra atividade humana na história. Nada pode ser comparado.

agricultura também tem um impacto tremendo nas fontes de água de nosso planeta. A agricultura é responsável por quase 70% de todas as captações de água do mundo (aproximadamente 2.800 quilômetros cúbicos de água por ano), com a retirada de água doce dos aquíferos, rios e lagos. Se falamos em consumo de água, quando a água é extraída, mas não é devolvida à mesma bacia, este número sobe para quase 85%.

O uso de água para a agricultura ocasionou o colapso de rios, lagos e até mesmo de mares por todo o planeta. O rio Colorado, por exemplo, chega poucas vezes ao oceano, hoje em dia. O mar de Aral, na ex-União Soviética, quase desapareceu desde que suas principais fontes de água foram desviadas para cultivar algodão nos desertos da Ásia Central.

agricultura industrial também tem sido uma importante fonte de poluição por todo o mundo. Talvez o impacto mais óbvio venha do uso de fertilizantes químicos. Atualmente, o uso de fertilizantes é tão alto que quase duplicou os fluxos geológicos normais de nitrogênio e fósforo em toda a superfície da Terra.

Mas o maior impacto não se vê no solo, mas nas águas de nosso planeta. O excesso de nitrogênio e fósforo poluiu vias fluviais em todo o mundo, enchendo-as com o crescimento excessivo de plantas e algas, e pode degradar gravemente lagos, bacias hidrográficas inteiras e até mesmo áreas costeiras de nossos mares.

Por exemplo, a “zona morta” do Golfo do México é causada pelos escoamentos de fertilizantes de fazendas Meio-Oeste, transportados pelo rio Mississippi até o mar. Outras “zonas mortas” aparecem em quase todas as áreas costeiras afetada pela agricultura industrial.

desmatamento, utilizado principalmente para converter florestas em áreas de cultivo e pastagens, é uma grande fonte de dióxido de carbono (CO2). Outras práticas agrícolas, particularmente a pecuária e o cultivo de arroz, são grandes emissoras de metano (CH4) na atmosfera, um poderoso gás do efeito estufa. E o uso excessivo de fertilizantes e estercos podem emitir óxido nitroso (N20) dos solos agrícolas do mundo, outro poderoso gás do efeito estufa na atmosfera.

Em conjunto, as práticas agrícolas e o uso da terra liberam diretamente cerca de 24% das emissões totais de gases do efeito estufa do mundo, tornando-se a segunda maior fonte de gases do efeito estufa na atmosfera. (Em comparação, produzir toda a eletricidade no mundo emite cerca de 25%). Sendo assim, se você deseja abordar a mudança climática, repensar a agricultura deve estar em algum lugar perto do topo da lista.

Essas são emissões diretas da alimentação, da agricultura e do uso da terra. Mas ocorre que o sistema alimentar em sua totalidade, incluindo o transporte, o empacotamento, a refrigeração e o cozimento dos alimentos, emite ainda mais. Um estudo recente, publicado na revista Nature, mostra que o sistema alimentar mais amplo é responsável por quase um terço das emissões globais, quando também são incluídas estas emissões indiretas.

Sem dúvida, a maneira como cultivamos os alimentos do mundo está provocando um grave impacto no meio ambiente. Utiliza mais terra do que qualquer outra coisa que fazemos. É o maior fator de extinção de espécies e da degradação dos ecossistemas. Também de consumo e poluição da água no planeta. E é um dos maiores contribuintes para a mudança climática no mundo.

Os números falam por si mesmos. O sistema agrícola e alimentar do mundo:

– Utiliza de 35 a 40% de toda a superfície do mundo (e 75% disso é para criar animais ou para a comida que eles comem);

– É a maior causa da perda de habitats e o declínio de espécies na história da humanidade;

– É responsável por cerca de 70% das captações totais de água no mundo e por cerca de 85% de nosso consumo global de água;

– É a maior fonte de poluição da água, especialmente na forma de escoamentos de nitrogênio e fósforo para ecossistemas aquáticos e regiões costeiras;

– É uma das maiores fontes de gases do efeito estufa, provocando cerca de 24% de nossas emissões diretamente ou de 35% delas quando incluímos as emissões indiretas do sistema alimentar mais amplo.

E, no entanto, todos nós precisamos comer. Não podemos simplesmente deter a agricultura em prol do meio ambiente.

Produzir alimentos talvez seja uma das atividades mais importantes – e absolutamente necessária – realizada pelos humanos. Sem isso, literalmente, deixaríamos de existir como civilização. E a necessidade de alimentos está crescendo na medida em que a população continua aumentando e mais pessoas mudam para dietas ricas em carne.

O crucial para o nosso futuro é encontrar formas de alimentar um mundo em crescimento sem, em última instância, destruir o planeta do qual dependemos.

(EcoDebate, 16/04/2021) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

DICAS PARA REDUZIR O DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS NO DIA A DIA.

 

desperdício de alimentos

Dicas para reduzir o desperdício de alimentos no dia a dia

Segundo dados da FAO/ONU, o Brasil ocupa a décima posição no ranking de países que mais desperdiçam alimentos no dia a dia, totalizando 23,6 milhões de toneladas por ano.

Além disso, de acordo com especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o desperdício alimentar afeta toda a cadeia de produção aumentando gastos e afetando o meio ambiente.

Por João Victor Alves Goes

Para ajudar a mitigar essa questão, a chef e nutricionista Carina Muller, uma das embaixadoras do movimento Stop Food Waste Day, compartilha algumas dicas de como reduzir o desperdício de alimento no dia a dia:

• Comprar a quantidade adequada para o seu consumo

Esse é o primeiro passo para melhorar o desperdício de alimentos. É melhor repetir um prato do que jogar alimentos no lixo.

• Buscar utilizar folhas, sementes e cascas em receitas diversas

Muitas sementes, folhas e talos que geralmente jogamos fora são ricos em nutrientes e ficam muito saborosos em diversas receitas. Procure usar os alimentos por inteiro sempre que possível. Para isso, prefira sempre os orgânicos e lave-os com cuidado.

• Colocar no prato somente o que vai consumir

Isso vale para as refeições dentro e fora de casa. Sirva-se em quantidades menores e, se ainda estiver com fome, repita. Assim, você evita deixar aquele restinho de comida sempre no prato. Evite também o exagero ao servir as crianças. Comece com pequenas porções para evitar que sobre muita comida no prato dos pequenos.

• Tenha uma horta em casa – mesmo em apartamentos é possível!

Ter uma pequena horta ajuda a ter alimentos e temperos sempre frescos e usar apenas a quantidade necessária. Quantas vezes você comprou um maço de manjericão e usou apenas algumas folhas? Com a plantinha em casa, você colhe apenas o que vai usar. Muitas sobras de vegetais e frutas podem ser plantadas, como o alho-poró, cebolinha, alface, alho e abacaxi. O lixo orgânico também pode ser usado para fazer compostagem e adubar sua horta.

• Esteja atento às datas de validade dos produtos

Existem aplicativos que ajudam a acompanhar as datas de validade dos produtos que temos em casa. Fique de olho e crie receitas para aproveitar os alimentos próximos do vencimento.

• Organize os alimentos para facilitar a visualização de tudo o que está na despensa e na geladeira

A organização é um passo importante para evitar o desperdício de alimentos.

• Organize o consumo da semana.

O planejamento é um ponto fundamental para evitar perdas de alimentos. Além disso, ele otimiza a criação e diversificação dos pratos.

• Dê uma chance aos alimentos feios

Muitas frutas e legumes, apesar de frescos e saborosos, acabam na lata do lixo por não serem bonitos. Valorize também esses produtos, que inclusive costumam ser vendidos com desconto.

• Use e abuse das PANCs

As plantas alimentícias não convencionais (PANCs) são aquelas que, apesar de serem comestíveis, não são muito usadas como alimento. “É o caso da azedinha, rica em vitaminas A, B C e sais minerais, e da ora-pro-nóbis, rica em fibras, ferro, proteína, vitaminas e aminoácidos essenciais”, afirma Mara Baggio, nutricionista da GRSA.

• Tenha uma lista de compras

Uma família brasileira joga fora cerca de um terço dos alimentos que compra. A partir do planejamento das refeições, faça uma lista e compre apenas o que você sabe que será consumido.

 

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/04/2021

17% DE TODOS OS ALIMENTOS DISPONÍVEIS PARA CONSUMO SÃO DESPERDIÇADOS.

 

desperdício de alimentos

17% de todos os alimentos disponíveis para consumo são desperdiçados👀

 

  • Desperdício em 2019: 931 milhões de toneladas de alimentos vendidos para residências, varejistas, restaurantes e outros serviços alimentícios.
  • Estudo descobre que o desperdício de alimentos é um problema global, e não apenas dos países desenvolvidos.
  • Relatório Índice de Desperdício de Alimentos ajuda os países a acompanhar o progresso no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3 que visa reduzir pela metade o desperdício de comida até 2030.

Estima-se que 931 milhões de toneladas de alimentos, ou 17% do total de alimentos disponíveis aos consumidores em 2019, foram para o lixo das residências, varejo, restaurantes e outros serviços alimentares, de acordo com uma nova pesquisa da ONU que visa apoiar os esforços globais para reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030.

O peso equivale a aproximadamente 23 milhões de caminhões de 40 toneladas totalmente carregados –  o suficiente para circundar a Terra sete vezes.

Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da organização parceira WRAP, analisa as sobras alimentares que ocorrem nos pontos de venda, restaurantes e residências – considerando as partes comestíveis e não comestíveis (como ossos e conchas). O relatório apresenta a mais abrangente coleta de dados, análise e modelagem de desperdício de alimentos até o momento e oferece uma metodologia para os países mensurarem a perda. No total, 152 unidades de observação foram identificadas em 54 países.

O relatório descobriu que em quase todos os países onde o desperdício foi mensurado, estes foram substanciais, independentemente do nível de renda. Também mostra que a maior parte tem origem nas residências, que descartam 11% do total de alimentos disponíveis na fase de consumo da cadeia de abastecimento. Os serviços alimentares e os estabelecimentos de varejo desperdiçam 5% e 2%, respectivamente. Em nível global per capita, 121 quilos de alimentos são desperdiçados por consumidores a cada ano. Deste total, 74 quilos são descartados no ambiente doméstico. O relatório também inclui estimativas regionais e nacionais per capita.

O desperdício de alimentos tem impactos ambientais, sociais e econômicos substanciais. Por exemplo, neste momento em que a ação climática ainda está atrasada, 8%-10% das emissões globais de gases de efeito estufa estão associadas aos alimentos não consumidos – se considerarmos as perdas em toda a cadeira, inclusive antes do nível do consumidor.

“A redução do desperdício de alimentos cortaria as emissões de gases de efeito estufa, retardaria a destruição da natureza para conversão da terras e da poluição, aumentaria a disponibilidade de comida e, assim, reduziria a fome e economizaria dinheiro em um momento de recessão global”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA. “Se quisermos levar a sério o combate à mudança climática, à perda da natureza e da biodiversidade, à poluição e ao desperdício, empresas, governos e cidadãos de todo o mundo devem fazer a sua parte para reduzir o desperdício de alimentos. A Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU deste ano será uma oportunidade de lançar novas e ousadas ações para enfrentar o desperdício alimentar”.

Com 690 milhões de pessoas afetadas pela fome em 2019, um número que deverá aumentar acentuadamente com a COVID-19, e três bilhões de pessoas incapazes de custear uma dieta saudável, os consumidores precisam ajudar a reduzir o desperdício em suas casas.

Os países podem aumentar a ambição climática ao incluir o desperdício de alimentos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) no âmbito do Acordo de Paris, enquanto fortalecem a segurança alimentar e reduzem os custos para as famílias. Isto também torna a prevenção de desperdício de alimentos uma área primária a ser incluída nas estratégias de recuperação da COVID-19.

Um problema global

“Durante muito tempo, presumiu-se que o desperdício de alimentos em casa era um problema significativo apenas nos países desenvolvidos. Com a publicação do relatório Índice de Desperdício de Alimentos, podemos ver que as coisas não estão tão elucidadas”, disse Marcus Gover, CEO do WRAP.

“Faltando apenas nove anos [para 2030], não alcançaremos a meta 3 do ODS 12 se não aumentarmos significativamente o investimento no combate ao desperdício de alimentos em casa, de forma global. Isto deve ser uma prioridade para governos, organizações internacionais, empresas e fundações filantrópicas”.

A meta 12.3 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visa reduzir pela metade o desperdício alimentar global per capita no varejo e no nível do consumidor, bem como diminuir as perdas ao longo das cadeias de produção e fornecimento. Um dos dois indicadores para a meta é o Índice de Desperdício de Alimentos.

Um número crescente de países tem medido o desperdício de alimentos nos últimos anos. Os relatórios constatam que 14 países já possuem dados sobre o desperdício doméstico coletados de forma compatível com o Índice. Outros 38 países têm dados sobre desperdício doméstico que, com pequenas mudanças na metodologia, cobertura geográfica ou tamanho da amostra, lhes permitiriam criar uma estimativa compatível com o ODS 12.3. Um total de 54 países tinham dados de pelo menos um dos três setores abordados pelo relatório.

As novas estimativas globais de desperdício foram geradas a partir de unidades de observação existentes e extrapolações baseadas nas estimativas observadas em outros países. Dado que 75% da população mundial vive em países com uma estimativa de desperdício observada em nível doméstico, a confiabilidade na estimativa deste setor é maior. Em contrapartida, com estimativas diretas muito inferiores no nível do varejo e dos serviços de alimentação, a confiabilidade nos números para estas áreas é menor.

Os dados sobre a divisão entre partes comestíveis e não comestíveis desperdiçadas estão disponíveis apenas em poucos países de alta renda, e mostram uma divisão de cinquenta por cinco, em média, em nível doméstico. A proporção de partes não comestíveis é uma importante lacuna de conhecimento e pode ser maior nos países de baixa renda.

Para aproveitar o trabalho do relatório, o PNUMA lançará grupos de trabalho regionais a fim de ajudar a desenvolver as capacidades dos países para medir o desperdício de alimentos a tempo para a próxima rodada de relatórios do ODS 12.3 no final de 2022, bem como apoiá-los na criação de linhas de base nacionais para acompanhar o progresso rumo ao alcance da meta em 2030 e projetar estratégias nacionais para evitar o desperdício de alimentos. Nesta semana, o WRAP lançou a primeira Semana de Ação Nacional de Desperdício de Alimentos do Reino Unido (1-7 de março), reforçando a mensagem de que desperdiçar comida alimenta a mudança climática.

 

NOTA:

O relatório Índice de Desperdício de Alimentos 2021 está disponível neste link.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/03/2021

SINGAPURA E TAIWAN DEIXAM BRASIL E CUBA PARA TRÁS.

Singapura e Taiwan deixam Brasil e Cuba para trás, artigo de José Eustáquio Diniz Alves😒

A dinâmica econômica dos países da América Latina e dos Tigres Asiáticos tem sido marcadamente diferente nas últimas 7 décadas.

Considerando os 4 países do gráfico abaixo, percebe-se que Cuba tinha uma renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp), em 1952, de US$ 2,8 mil, superior à renda do Brasil US$ 2,4 mil, de Singapura US$ 2,3 mil e de Taiwan US$ 1,6 mil. Porém esta realidade mudou radicalmente ao longo das décadas seguintes.

Taiwan passou por grande transformação depois da Revolução Comunista na China continental em 1949 e se tornou lar das forças capitalistas que se refugiaram na ilha. Cuba passou por uma revolução socialista em 1959. No mesmo ano, Singapura conseguiu a independência do Império Britânico. O Brasil viveu conjunturas políticas diferenciadas após a Segunda Guerra Mundial, embora tenha se mantido como um país capitalista periférico.

Singapura e Taiwan adotaram um modelo de desenvolvimento baseado na promoção das exportações (Export led growth), enquanto o Brasil adotou o modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações e Cuba adotou um modelo socialista com controle estatal dos meios de produção.

O gráfico abaixo mostra que Singapura já tinha passado o Brasil na década de 1960, o Brasil passou Cuba na década de 1970 e Taiwan passou o Brasil na década de 1980. Em 2018, último dado disponível, Cuba tinha uma renda de US$ 8,3 mil, o Brasil tinha uma renda de US$ 14 mil, Taiwan de US$ 44,7 mil e Singapura de US$ 68,4 mil.

renda per capita singapura taiwan brasil cuba

 

Em termos de distribuição de renda, o Brasil apresenta a maior desigualdade com um índice de Gini de 53,9. Singapura com uma renda per capita muito elevada (maior inclusive do que a renda dos EUA) tem um índice de Gini de 45,9. Taiwan com renda menor do que a de Singapura, mas bastante elevada para a comparação internacional tem a menor desigualdade com índice de Gini de somente 33,6. Para Cuba não há dados comparativos.

Uma característica comum aos 4 países é que todos eles terão decrescimento populacional no século XXI. O gráfico abaixo, da Divisão de População da ONU, mostra que a população e as projeções demográficas até 2100. O Brasil deve chegar ao pico populacional em torno de 230 milhões de habitantes e cair para 180 milhões em 2100. Cuba com 11 milhões de habitantes deve ter a população diminuída para menos de 7 milhões no final do século. Taiwan deve cair de 24 para 16 milhões de habitantes e Singapura não deve passar de 6,5 milhões de habitantes, com uma pequena queda para pouco menos de 6 milhões de habitantes em 2100.

projeções demográficas brasil cuba taiwan singapura

 

Sem dúvida, Taiwan e Singapura eram países mais pobres do que Brasil e Cuba e conseguiram dar a volta por cima, aproveitaram o bônus demográfico e conseguiram reduzir a pobreza e avançar espetacularmente em termos educacionais.

Hoje são países de alta renda, alto Índice de Desenvolvimento Humano e são economias produtivas e competitivas com inserção soberana no processo de globalização. Já o Brasil e Cuba estão envelhecendo antes de enriquecer. Os dois países asiáticos bem sucedidos em termos econômicos e sociais podem servir de exemplo para a reavaliação dos erros da América Latina.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/07/2022