sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Copacabana e Ipanema podem perder 100 metros de areia até 2100 .

 Projeções de elevação do nível do mar até 2100 para dois cenários com a quantidade de aumento em metros indicados (médio de 1m; extremo x 4m). Porcentagem e deslocamento total da população indicados no canto inferior direito.

Projeções de elevação do nível do mar até 2100 para dois cenários com a quantidade de aumento em metros indicados (médio de 1m; extremo x 4m). Porcentagem e deslocamento total da população indicados no canto inferior direito.

Elevação do nível do mar ameaça praias icônicas do Rio de Janeiro e evidencia urgência de políticas públicas para proteção costeira

Pesquisa revela impactos da erosão costeira em praias brasileiras e aponta soluções técnicas e ambientais para preservação do litoral nacional

O mar está avançando: Copacabana e Ipanema podem perder até 100 metros até 2100

Por Larissa Warnavin* e Renata Adriana Garbossa Silva **

Copacabana e Ipanema podem perder até 100 metros de areia até o fim do século, em decorrência da elevação do nível do mar e da intensificação da erosão costeira, segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Esse cenário não é apenas preocupante pela dimensão física da perda territorial, mas pelo que ele revela sobre a forma como lidamos com os espaços urbanos litorâneos.

A ocupação do território brasileiro teve início nas regiões litorâneas, onde se estabeleceu o processo de colonização portuguesa, historicamente marcado por práticas extrativistas e predatórias. O Brasil possui uma das maiores regiões costeiras do mundo e por sua localização estratégica e riqueza natural, essas áreas tornaram-se os primeiros núcleos de povoamento e desenvolvimento econômico do país. Atualmente, elas continuam exercendo papel central na dinâmica territorial brasileira.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), aproximadamente 111,28 milhões de pessoas vivem em uma estreita faixa de até 150 quilômetros de largura ao longo da costa, o que representa 54,8% da população nacional. Essa concentração populacional evidencia não apenas a importância histórica e econômica do litoral, mas também os desafios contemporâneos relacionados à gestão urbana, ambiental e climática dessas regiões.

Dada a importância histórica e, sobretudo, econômica do litoral brasileiro, os desafios enfrentados por essas regiões vão muito além das questões ambientais. Trata-se de um problema de natureza também socioeconômica, com implicações diretas sobre o uso do território, a dinâmica urbana e a qualidade de vida da população.

A possível perda de até 100 metros de faixa de areia em determinadas praias, representa não apenas uma redução física do espaço costeiro, mas também uma ameaça concreta ao acesso a um dos espaços públicos mais simbólicos e democráticos do país: a praia. Além de sua função ecológica, as praias são centrais para a cultura, lazer e economia de diversas cidades litorâneas, sendo fundamentais para o turismo, o comércio local e a identidade das comunidades costeiras.

O Brasil dispõe de instrumentos legais para lidar com essas questões, como o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) e o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE). Entretanto, nem sempre são aplicados e fiscalizados de maneira efetiva. Existem soluções técnicas que incluem ações de engenharia costeira, como a alimentação artificial de praias, como as realizadas em Copacabana, Matinhos (PR), Balneário (SC), entre outras.

As soluções baseadas na natureza também se apresentam como opção, por meio da recuperação de ecossistemas costeiros como dunas, restingas e outras formações vegetais que atuam como barreiras naturais contra a erosão. É fundamental que as providências adotadas sejam pautadas em análises técnicas e científicas, considerando as particularidades de cada região. Assim, evita-se a implementação de ações que, ao invés de mitigar, possam potencializar os impactos ao longo do tempo.

A participação ativa das comunidades costeiras em iniciativas de preservação e o incentivo à atuação governamental são relevantes para enfrentar esses desafios, mas o avanço do mar está profundamente conectado a processos globais. Sem uma diminuição considerável na liberação de gases de efeito estufa por parte dos principais setores econômicos como energia, transporte e indústria e sem a atuação mais rigorosa das potências mundiais, estaremos sujeitos a ver o aumento do nível dos oceanos batendo novos recordes a cada ano, afetando, sobretudo, grupos minoritários, principalmente aqueles que são mais vulneráveis e menos responsáveis pelo problema.

*Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

** Renata Adriana Garbossa Silva é geógrafa, pedagoga, mestre em geologia e doutora em Geografia. Coordenadora da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

 

Nota da Redação – Sobre o tema “elevação do nível do mar” sugerimos que leia, também:

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Antártida mais verde acelera o derretimento .

Um novo estudo revelou que minúsculos organismos chamados algas da neve estão contribuindo significativamente para o derretimento da superfície das plataformas de gelo da Antártida.

A descoberta pode ter implicações de longo alcance para a elevação global do nível do mar.

O estudo, publicado na Scientific Reports, usa dados de satélite Sentinel-1 e Sentinel-2 de alta resolução e análises avançadas para explorar como o crescimento de algas da neve, a temperatura e o derretimento da neve interagem nas plataformas de gelo Brunt e Riiser-Larsen de 2019 a 2022.

As algas da neve são plantas microscópicas que crescem na neve e no gelo, muitas vezes conferindo-lhes uma tonalidade verde ou avermelhada. Essas florações escurecem a superfície da neve, reduzem sua refletividade e fazem com que ela absorva mais luz solar e calor, levando ao derretimento mais rápido do gelo.

Uma descoberta fundamental é que a proliferação de algas surge no início da estação de degelo, antes dos picos de temperatura. Utilizando a correlação de Pearson ajustada por defasagem temporal e a análise de causalidade de Granger, o estudo encontrou uma forte ligação entre algas da neve, aumento das temperaturas e degelo da superfície.

Esses fatores formam um ciclo de retroalimentação: o crescimento de algas leva a mais degelo, e cada elemento reforça os outros em um ciclo autossustentável.

Além disso, o estudo constatou que o crescimento de algas diminui no final da estação, apesar dos aumentos contínuos de temperatura. Isso sugere uma relação mais complexa entre algas e derretimento, que depende de um delicado equilíbrio de condições ambientais.

O estudo destaca como processos biológicos — como o crescimento de algas — contribuem para a dinâmica do clima polar.

Os resultados sugerem que modelos climáticos futuros devem incorporar fatores biológicos para prever melhor a elevação do nível do mar, observaram os pesquisadores.

Mapa de distribuição de algas da área de estudo (de 2019-10 a 2022-03)
Mapa de distribuição de algas da área de estudo (de 2019-10 a 2022-03).

Referência:

Liang, D., Zhang, L., Cheng, Q. et al. Seasonal cycles of snow algal blooms intensify surface melting on Antarctic ice shelves. Sci Rep 15, 23139 (2025). https://doi.org/10.1038/s41598-025-05129-3

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Antártida mais verde acelera o derretimento. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/02/antartida-mais-verde-acelera-o-derretimento/ (Acessado em setembro 5, 2025 at 08:56)

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394

Desmatamento reduz chuvas e aumenta temperaturas na Amazônia .

 

Pela primeira vez, pesquisa liderada por cientistas da Universidade de São Paulo quantifica o impacto da perda de florestas e das mudanças climáticas globais no bioma.

Por Luciana Constantino |   Agência FAPESP

O desmatamento na Amazônia brasileira é responsável por aproximadamente 74,5% da redução de chuvas e 16,5% do aumento de temperatura no bioma durante o período de seca.

Pela primeira vez, pesquisadores quantificaram o impacto da perda de vegetação e das mudanças climáticas globais na floresta.

Um estudo liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, fornece resultados fundamentais para orientar estratégias eficazes de mitigação e adaptação. Esses são os temas-alvo da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), programada para novembro na metrópole amazônica de Belém, no estado do Pará, Brasil. Os resultados do estudo foram publicados na última edição da Nature Communications e estampados na capa.

Pesquisadores analisaram dados ambientais, de mudanças atmosféricas e de cobertura do solo coletados ao longo de um período de 35 anos (1985-2020) em uma área de aproximadamente 2,6 milhões de quilômetros quadrados na Amazônia Legal, uma zona criada pelo governo brasileiro para fins de desenvolvimento regional que abrange todos os nove estados onde o bioma Amazônia ocorre. Utilizando modelos estatísticos paramétricos, eles desvendaram os efeitos da perda florestal e das mudanças na temperatura, precipitação e taxas de mistura de gases de efeito estufa.

A precipitação diminuiu aproximadamente 21 mm por ano durante a estação seca, com o desmatamento contribuindo para uma redução de 15,8 mm. A temperatura máxima aumentou cerca de 2,0 °C, dos quais 16,5% foram atribuídos à perda de florestas e o restante às mudanças climáticas globais.

“Vários artigos científicos sobre a Amazônia já mostraram que a temperatura está mais alta, que as chuvas diminuíram e que o período de seca aumentou, mas ainda não havia uma separação entre o efeito das mudanças climáticas, causadas principalmente pela poluição de países do Hemisfério Norte, e o desmatamento causado pelo próprio Brasil. Por meio deste estudo, conseguimos separar e ponderar cada um desses componentes, praticamente mostrando uma espécie de ‘conta a pagar’”, resume o professor Luiz Augusto Toledo Machado .

Machado, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e colaborador do Departamento de Química do Instituto Max Planck, na Alemanha, diz à Agência FAPESP que os resultados reforçam a importância da preservação das florestas em pé para manter a resiliência climática.

Pesquisas mostram que o impacto do desmatamento é mais intenso nos estágios iniciais. As maiores mudanças no clima local ocorrem quando 10% a 40% da floresta é perdida.

“Os efeitos das mudanças, principalmente de temperatura e precipitação, são muito mais significativos nos primeiros percentuais de desmatamento. Ou seja, temos que preservar a floresta; isso é muito claro. Não podemos transformá-la em outra coisa, como pastagem. Se houver algum tipo de exploração, ela precisa ser sustentável”, acrescenta o professor Marco Aurélio Franco , do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Franco é o primeiro autor do artigo e recebeu bolsa de pós-doutorado da FAPESP, que também apoiou o trabalho por meio de outro auxílio ( 21/12954-5 ) do Centro de Pesquisa em Inovação em Gases de Efeito Estufa ( 20/15230-5 ) e do Programa de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais – RPGCC ( 22/07974-0 ).

O projeto apoiado pelo RPGCC está sendo desenvolvido em parceria com a Academia Chinesa de Ciências. Um dos líderes e autores estrangeiros do trabalho é o pesquisador Xiyan Xu .

Equilíbrio sensível do ecossistema

Sendo a maior e mais biodiversa floresta tropical do mundo, a Amazônia desempenha um papel importante na regulação do clima global. Por exemplo, ela é responsável pelos chamados “rios voadores” – cursos d’água invisíveis que circulam pela atmosfera e abastecem outros biomas, como o Cerrado, bioma semelhante ao Cerrado brasileiro. As árvores extraem água do solo por meio de suas raízes, transportam-na para suas folhas e a liberam na atmosfera na forma de vapor.

No final do ano passado, um grupo internacional de pesquisadores, incluindo Machado e o professor Paulo Artaxo , também do Instituto de Física da USP, publicou um estudo na Nature . O estudo mostrou pela primeira vez o mecanismo físico-químico que explica o complexo sistema de formação de chuvas no bioma. Esse mecanismo envolve a produção de nanopartículas de aerossóis, descargas elétricas e reações químicas em grandes altitudes, entre a noite e o dia. O resultado é uma espécie de “máquina” de aerossóis que produz nuvens ( leia mais em agencia.fapesp.br/54089 ).

No entanto, o desmatamento e a degradação florestal contribuem para alterar esse ciclo de chuvas, intensificando a estação seca localmente e aumentando os períodos de incêndios florestais. Segundo dados do MapBiomas , rede colaborativa formada por organizações não governamentais, universidades e startups de tecnologia que mapeia a cobertura e o uso da terra no Brasil, a Amazônia brasileira perdeu 14% de sua vegetação nativa entre 1985 e 2023, atingindo uma área de 553.000 km² – equivalente ao território da França. A conversão de pastagens foi a principal causa durante esse período. Apesar do desmatamento ter atingido seu segundo menor nível entre agosto de 2024 e julho de 2025 – uma área de 4.495 km² – conter a degradação, especialmente aquela causada pelo fogo, continua desafiador.

A estação seca, que ocorre entre junho e novembro, é quando os efeitos do desmatamento são mais perceptíveis, principalmente nas chuvas. Os efeitos cumulativos intensificam ainda mais a sazonalidade.

Desvendando os dados

Para chegar às suas conclusões, os cientistas utilizaram equações de superfície paramétricas que consideraram tanto as variações anuais quanto o desmatamento. Essas equações permitiram distinguir as contribuições únicas das mudanças climáticas globais e da perda de vegetação. Eles também utilizaram conjuntos de dados de sensoriamento remoto e reanálises de longo prazo, incluindo classificações de uso do solo produzidas pelo MapBiomas.

Além de analisar dados relacionados à precipitação e à temperatura, o grupo examinou dados de gases de efeito estufa. Concluíram que o aumento nos níveis de dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH₄) ao longo do período de 35 anos foi impulsionado quase inteiramente pelas emissões globais (mais de 99%). Observaram um aumento de aproximadamente 87 partes por milhão (ppm) para o CO₂ e de cerca de 167 partes por bilhão (ppb) para o CH₄.

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O estudo analisou dados ambientais, de mudanças atmosféricas e de cobertura do solo de aproximadamente 2,6 milhões de quilômetros quadrados na Amazônia Legal brasileira ao longo de um período de 35 anos (1985-2020); imagem: Marco Aurélio Franco et al./ Nature Communications

“A princípio, esse resultado parecia contradizer outros artigos que mostram o impacto do desmatamento na redução da capacidade da floresta de remover CO₂ da atmosfera. Mas isso não ocorre porque a concentração de CO₂ seja algo em larga escala. Essas foram medições locais do fluxo de CO₂. Em termos de concentração, o aumento se deve predominantemente às emissões globais”, acrescenta Machado.

Os pesquisadores alertam no artigo que, se o desmatamento continuar descontrolado, a extrapolação dos resultados sugere um declínio ainda maior na precipitação total durante a estação seca e um aumento ainda maior na temperatura.

Estudos recentes indicam que o desmatamento na Amazônia está alterando os padrões das monções na América do Sul, que trazem chuvas abundantes para o centro e sudeste do Brasil durante o verão. Essas alterações resultam em condições mais secas que podem comprometer a resiliência da floresta a longo prazo. Eventos extremos, como as secas de 2023 e 2024, apenas agravam a situação.

O artigo “Como as mudanças climáticas e o desmatamento interagem na transformação da floresta amazônica” pode ser lido em www.nature.com/articles/s41467-025-63156-0 .

* Este artigo foi publicado originalmente no site Agência FAPESP e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês: https://agencia.fapesp.br/deforestation-reduces-rainfall-by-74-and-increases-temperatures-by-16-in-the-amazon-during-the-dry-season-study-says/55762

 

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Desmatamento reduz chuvas e aumenta temperaturas na Amazônia. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/04/desmatamento-reduz-chuvas-e-aumenta-temperaturas-na-amazonia/ (Acessado em setembro 5, 2025 at 08:56)

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394