domingo, 13 de janeiro de 2019

STRESS HÍDRICO.

Stress hídrico, artigo de Roberto Naime.  



reservatório seco.
Reservatório seco. Foto de arquivo

[EcoDebate] “Stress hídrico” ou Estresse hídrico é o nome dado a uma situação em que a procura de recursos hídricos por habitante é maior que a capacidade de oferta ou de disponibilidade de recurso natural.
É também quando uma pessoa tem menos de 1.000 m³ de água. Ou seja, quando não há água suficiente para abastecer a população, isto é, quando não existe água suficiente para satisfazer as necessidades de cada um.
Hoje a distribuição da água doce no mundo é muito desigual, e vários países enfrentam sérios problemas com a carência de água potável
No caso específico das plantas, ocorre quando não existe água suficiente para as plantas absorverem de modo a substituir a perda de água por transpiração. Para períodos longos de stress hídrico, a planta pode parar de crescer e eventualmente morrer.
Mesmo repleto de rios, mares e oceanos, o planeta tem disponível apenas cerca de 2,5% a 3% de água doce que é a água propícia para o consumo dos seres humanos.
Estes percentuais até seriam suficientes para abastecer toda a população global, mas o problema é que a água doce é um recurso natural que não se distribui igualmente e boa parte é de difícil acesso, localizada em rios, lagos, geleiras e aquíferos, estes últimos são águas armazenadas em camadas de rochas sedimentares psamíticas.
Abundante em alguns países, escasso em outros, é usado intensamente pela agricultura, indústria e em atividades domésticas, de forma cada vez mais insustentável.
Além das razões acima, ainda se pode acrescentar os desequilíbrios ambientais como poluição dos rios, seca, enfraquecimento dos lençóis freáticos e outros.
Quando a demanda por água de um número de habitantes e o consumo médio por habitante supera a oferta, ou seja, a quantidade e a capacidade de distribuição de água existente, uma determinada cidade ou região, está caracterizada uma situação de estresse hídrico.
A falta de acesso à água potável deixa os países mais pobres ou marcados por histórico de conflitos militares, instabilidades políticas e sociais, como é caso dos países do Oriente Médio e África, em grave estado de vulnerabilidade.
O estresse hídrico pode limitar o crescimento econômico, restringindo atividades empresariais e agrícolas. E também afeta a capacidade de produzir alimentos suficientes para alimentar as populações.
Em breve, se estima que o planeta atingirá a marca de 9 bilhões de pessoas. Se apenas um terço deste total adotar padrões de consumo de uma pessoa da classe média, será necessário produzir 50% a mais de alimentos, a oferta de energia terá de crescer 45% e o consumo de água aumentará 30%.
A pressão sobre os recursos naturais do planeta se tornará insustentável. E, nada sendo feito para mudar padrões de consumo, dois terços da população global poderão sofrer com escassez de água doce até 2025, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
O Brasil, rico neste recurso natural, detendo cerca de 12% do total das reservas de águas doces do planeta, mesmo assim já sente os reflexos da escassez. Aqui as condições de acesso não são equânimes.
A região hidrográfica Amazônica, na região Norte e Centro-Oeste, equivale a 45% do território nacional e detém 81% da disponibilidade hídrica. As regiões litorâneas (Sul, Sudeste e Nordeste), que respondem por apenas 3% da oferta nacional, abrigam 45% da população do país.
Em outras palavras, onde se concentram cada vez mais brasileiros, há cada vez menos água. A fórmula exata para o estresse hídrico que hoje se materializa em São Paulo e na região sudeste.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), dos 29 maiores aglomerados urbanos do país, 16 precisam buscar de novas fontes de água para garantir o abastecimento.
O problema também tem um aspecto social. O consumo entre regiões, e até entre municípios, é extremamente desigual. Enquanto um cidadão do Rio de Janeiro usa 236 litros de água por dia, o consumo no estado de Alagoas é de 91 litros “per capita”.
O consumo de água na Região Metropolitana de São Paulo é 4,3 vezes maior do que a água que há disponível para todo o estado.
O estresse hídrico não se limita à escassez de água. Saneamento também é uma causa. O consumo humano exige que a água seja limpa e tratada, mas o crescimento das cidades destrói fontes de água, os chamados mananciais.
As águas superficiais, que não penetram no subsolo, correndo ao longo da superfície do terreno, e acabando por entrar nos lagos, rios ou ribeiros, são poluídas pelo lançamento de esgoto, efluentes industriais e até mesmo venenos usados em larga escala na agricultura.
No Brasil, 73% dos municípios são abastecidos com águas superficiais, sujeitas a todo tipo de poluentes.
A concentração urbana tem sido sinônimo de degradação ambiental. Até mesmo as águas profundas são atingidas pela degradação e da exploração em excesso.
A falta de saneamento adequado na região Nordeste, por exemplo, fez com que o esgoto alcançasse poços. Agrava a situação, uma política pública de saneamento básico que tem se mostrado irregular e deficiente, em todas as esferas da administração pública, tanto federal, quanto estadual ou municipal.
O estresse hídrico é, portanto, maior nas regiões que concentram maior população, não necessariamente nas mais secas. Hoje, as áreas urbanas consomem 60% da água doce do planeta e, se confirmadas as projeções da ONU, até 2050, 70% da população mundial estará concentrada em grandes cidades, causando maior pressão a um sistema que já agora, está à beira da insustentabilidade, conforme todos os episódios demonstram.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Referência:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/01/2019

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